Após um aumento de 53% no número de transplantes em uma década, um salto de 654 cirurgias em 2008 para 1.217 procedimentos em 2018, Santa Catarina segue batendo recordes em doações de órgãos. Em fevereiro, o Estado registrou o melhor desempenho da história em doações múltiplas de órgãos para o mês. Com quatro procedimentos realizados apenas nos dois últimos dias do mês, a SC Transplantes contabilizou um total de 24 doações no período. Os dados são da Central Estadual de Transplantes.

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De acordo com o coordenador da SC Transplantes, Joel de Andrade, historicamente o mês de fevereiro tem baixos índices de doações. Os números mais expressivos foram registrados em 2016 e 2017, com 20 ocorrências cada. Sobre o segundo mês do ano não ter tantas doações de órgãos, Andrade afirma não haver um motivo específico. Destaca que as variações entre os meses são comuns, já que o efetivo transplante depende de uma série de fatores.

— Mesmo assim, o que me chamou a atenção é que pela sequência seria o melhor mês da história. E se concretizou, foram 24 doadores — comemora Andrade, para dizer que geralmente são captados três órgãos por paciente, um número que pode aumentar em casos que a pessoa é jovem e sem doenças crônicas.

Com o passar da idade, a restrição aumenta para doação de fígado e rins. No ano passado, foram realizados 1.217 transplantes nos seis hospitais do Estado que atualmente realizam o procedimento em Blumenau, Joinville, Florianópolis, Chapecó, Jaraguá do Sul e Itajaí. O mais frequente foi o de córnea, com 462 procedimentos, seguido do de rim, com 284, e de fígado, com 135 transplantes.

O rim, aliás, também representa a maior parte dos casos em fila de espera em Santa Catarina, com 352 pessoas aguardando o órgão em dezembro do ano passado. A fila de espera e a doação efetiva do órgão são fenômenos independentes, explica Andrade:

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— A fila de espera é regulada por quem sai, mas também muito por quem entra. Então, a gente tem algo linear. Quando a gente começou a ter muito sucesso nos transplantes, começamos a receber muita gente de fora, o que também aumenta a fila. Essas pessoas vão principalmente para Joinville, Blumenau e até para Florianópolis — destaca Andrade, citando a abertura de serviços de excelência em hospitais de outras localidades, como os transplantes de rins no Hospital Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí.

Logística e treinamento são decisivos para salvar vidas

O médico Joel de Andrade ressalta que o número de doações pode ser ainda maior. Para ele, a agilidade no transporte é fundamental para salvar vidas e elogiou o fato do poder público estar tratando o transplante e a doação de órgãos como uma prioridade. Além disso, o treinamento dos profissionais de saúde (coordenadores de transplantes) responsáveis por conversar com os familiares do paciente vítima de morte encefálica, na tentativa de convencê-los a doar órgãos, é fundamental, diz Andrade.

Por ano, Santa Catarina investe mais de R$ 500 milhões na capacitação de profissionais de saúde para que eles possam cumprir as funções básicas desse processo que passa pela detecção do potencial doador; confirmação e documentação adequada de morte encefálica; triagem e manutenção do potencial doador; e entrevista familiar.

— É preciso educar e treinar esses profissionais para conversar com as famílias. Quando perguntam o que define uma família doar ou não, é claro que depende muito da consciência da família. Mas o fator mais importante é o treinamento de quem trata com as famílias, como ele vai abordá-las. É aquilo de, na hora dura, buscar interesse em ajuda-las, ser solidário, demonstrar humanidade, a chance é grande de que lá na frente eles digam sim — expõe Andrade.

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A SC Transplantes tem à sua disposição aeronaves públicas da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e da Casa Militar – esta um helicóptero que era de uso exclusivo do governador do Estado e foi destinado no início de fevereiro para o transporte de órgãos e tecidos.

Há também um contrato com uma empresa de táxi aéreo para fazer o serviço em caso de indisponibilidade das aeronaves públicas. Elas são essenciais para fazer um trabalho onde os minutos são decisivos para salvar ou não uma vida. No caso de órgãos como coração e pulmão, por exemplo, o limite ideal de tempo entre captar o órgão e levá-lo até outra unidade hospitalar para implantá-lo em um paciente "é de quatro horas".

— Eles até podem ficar seis horas, mas o ideal é quatro.

No momento da dor, muitas famílias se recusam a doar

Apesar do avanço sentido na última década, ainda há muito a ser feito para que o Estado atinja o nível de efetividade do programa de transplantes da Espanha, onde a taxa de não-autorização é de 12%. Em Santa Catarina, das 581 mortes encefálicas informadas em 2018, 287 resultaram em doações efetivas e 294 não – 150 delas devido a recusa da família, pouco mais da metade do total.

No entanto, o entendimento é que o "não" à doação, nesses casos é justificável porque as famílias são abordadas momentos após perderem um ser que amavam e "ainda estão em processo de luto e negando a realidade". Continuar investindo nesse processo é tido como fundamental para manter em queda o índice de recusa estadual.

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Evolução no número de transplantes em SC

2018: 1.217

2017: 1.217

2016: 1.286

2015: 1.332

2014: 1.386

2013: 1.175

2012: 1.035

2011: 1.015

2010: 969

2009: 883

2008: 654

Total de pacientes em lista de espera em SC

2018: 523

2017: 555

2016: 505

2015: 611

2014: 833

2013: 1.149

2012: 1.339

2011: 1.191

2010: 1.688