Velório, sinônimo de dor, também pode ser motivo de aplauso. Essa é a imagem que Humberto Mendes, 49 anos, presidente da Associação de Pacientes Renais (Apar), costuma passar quando conversa sobre o solidário ato de doar órgãos. Nas rodas, recorda da vez em que estava no funeral de um conhecido quando chegou uma equipe especializada para a retirada das córneas.
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– O ato da família em autorizar a doação mereceu um aplauso dos presentes – conta Mendes, também transplantado de rim.
Faz três anos que ele deixou o convívio junto à máquina da hemodiálise. Aposentado pelos problemas de saúde, dedica-se às lutas da entidade e reconhece que o novo órgão devolveu-lhe a capacidade de viver sem os limites impostos pela doença. Hoje, dia Nacional da Doação de Órgãos, Mendes estará empenhado em mais uma nova nova campanha da Apar. O foco principal está na parceria com SC-Transplantes e Fiesc/Sesi/Senai e o objetivo é atingir 200 mil empregados nas indústrias do Estado.
Também estão sendo envolvidas farmácias e as atividades que são desenvolvidas por essas entidades, voltadas para a qualidade de vida. Criado pela agência Propague e produzido com a parceria das Construtora Koerich, Cassol e prefeitura de Florianópolis, o outdoor da campanha traz o alerta: “Pior do que a fila no trânsito é a fila de espera por um transplante – seja um doador, avise sua família”.
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A instalação das peças será feita em pontos movimentados da Capital, como a Via Expressa e o Largo das Bandeiras, junto às pontes, além de 180 comerciais em dois painéis de LED na Avenida Beira-mar Norte e Itacurubi. Um outdoor havia sido instalado nas margens da SC-401, acesso ao Norte da Ilha. As entidades desejam impactar ainda mais a cultura da doação que destaca o Estado no cenário nacional.
– Santa Catarina é líder no ranking brasileiro, registrando 26,4 doadores por milhão de habitantes. A média do país é de 10 doações por milhão de pessoas – compara Mendes.
Além disso, Santa Catarina tem a segunda menor lista de espera para transplante renal por milhão de habitantes. Neste ano, dos 672 transplantes realizados no Estado, 137 foram de rins.
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– Sem contar que somos o quinto Estado que mais faz transplantes por população – destaca.
Mas isso deve servir de incentivo e não de acomodação. Até junho deste ano, 1.215 aguardavam na fila de espera. A maior, para recebimento de córneas. Para o presidente da Apar, apesar do nível de informação dos catarinenses, ainda é preciso vencer obstáculos.
– Hoje, somente a família é autorizada a doar, já que diferente de antes, não existe mais a declaração em documentos. Por isso, a importância de que se converse sobre a decisão e esse assunto é delicado – diz Mendes.
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Além disso, sugere ele, são necessários outros esclarecimentos. Existem pessoas que temem irregularidades, em que pese a seriedade dos serviços. Existe, ainda, preocupação das famílias em questões consideradas bastante pertinentes, como a certeza da morte. Por lei, somente após a morte cerebral ser constatada em exames bastante detalhadas é que pode ser feita a retirada dos órgãos. Apesar disso, em 30% dos casos ainda não ocorre a doação.