É difícil achar alguém que nunca tentou se divertir com algum tipo de game, seja Super Mario World, Candy Crush ou o clássico Game Boy — só no Brasil, mais de 66 milhões de pessoas jogam algum tipo de videogame com certa frequência. Em Santa Catarina, pelo menos 38 empresas se dedicam a produção desse tipo de conteúdo, o que faz do Estado o quarto com maior volume de desenvolvedores. A indústria está em visível ascensão, considerando que o número de exportações no setor cresceu 625% nos últimos três anos e, em 2016, a área faturou US$ 1,6 bilhão no país. Os dados são de um levantamento feito pela NewZoo, uma das principais condutoras de pesquisas sobre a indústria dos games no mundo.
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O cenário é otimista para os desenvolvedores independentes, como Nando Guimaraes e Caio Lopez, sócios na Cat Nigiri, empresa de jogos independentes de Florianópolis fundada em 2012. Com uma equipe de apenas cinco pessoas, eles produziram o jogo mais indicado a premiações no 5º Brazil’s Independent Games Festival (BIG Festival), realizado em São Paulo na semana passada. O game Necrosphere – criando em apenas três meses – foi finalista nas categorias melhor jogo brasileiro, gameplay (jogabilidade) e inovação.
Além disso, o game Keen – que também foi indicado a melhor jogo no evento – é um dos 23 projetos contemplados em dezembro do ano passado pelo edital da Agência Nacional do Cinema (Ancine), do Ministério da Cultura, que destinou R$ 10 milhões para jogos produzidos no Brasil. A Cat Nigiri aguarda a liberação da verba de R$ 255 mil para continuar a produção de Keen, que até o momento tem 45 minutos de versão demonstrativa disponível para download. Para Guimaraes, o investimento governamental reforça as expectativas de quem, até então, luta para manter a empresa com recursos próprios:
— Os dois primeiros jogos que fizemos foram voltados para celular e não vingaram por causa da grande competição, na época não tínhamos dinheiro ou incentivo e a empresa praticamente se desfez. No Brasil, não há tanto investimento da iniciativa privada em startups ou na área de jogos, como em outros países. Mas editais como o da Ancine demonstram que o governo acredita nesses projetos, o que incentiva o investidor privado a apostar nessas áreas. A Empresa Pública Brasileira de Fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação (Finep) também abriu uma linha de investimentos focada em startups, o que reforça a tendência de crescimento.
Outro game catarinense também foi contemplado pelo o edital da Ancine: Tetragon, que é dirigido por Alexandre Chaves em parceria com o Cafundó Estúdio Criativo. O jogo, contemplado com R$ 400 mil, deve começar a ser desenvolvido ainda este ano e conta a história de um pai que tem que resgatar o filho raptado pelo mundo Tetragon. A mecânica é baseada na movimentação de blocos para criar escadas e plataformas, além da rotação da tela em 90° – o chão vira parede e vice-versa.
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Desenvolvimento da área em SC
O coordenador do curso de Design de Jogos da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), Tiago Vinícius Ficagna, conta que Santa Catarina tinha um cenário bem reduzido em termos de desenvolvimento de jogos há 10 anos. Eram entre três a seis empresas apostando e atuando efetivamente no mercado. Ele avalia que houve um grande avanço no cenário desde então.
— O interessante é que esse conteúdo produzido não é voltado apenas para o entretenimento. Hoje, SC tem uma plataforma forte na área de desenvolvimento de jogos educacionais, que dão suporte ao aprendizado, também temos projetos na área de simulação, chamados de serious games, que são voltados para o treinamento de determinadas atividades na indústria metal-mecânica e naval, por exemplo. Houve um avanço muito grande nessa área nos últimos anos.
Ficagna também ressalta o crescimento no número de pequenas empresas no Estado, especialmente no cenário independente. Ele explica que muitos dos jogos criados surgem de grupos com três a cinco pessoas, que trabalham com liberdade criativa e tem a oportunidade de disponibilizar seus produtos de maneira global através das lojas de aplicativos.
Arthur Nunes, diretor da Vertical Games da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate) – uma agregadora de desenvolvedores do segmento de jogos eletrônicos, também acredita que o Estado está amadurecendo em termos de negócio, com o aumento no número de empresas e da relevância no mercado externo.
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— Santa Catarina é significativa dentro do Brasil nessa área – temos uma competência muito forte e somos expressivos em termos de qualidade. Agora, estamos buscando um agrupamento dessas pequenas empresas para buscar representatividade dessa indústria no Estado, unificando a classe para mostrar nossa magnitude perante ao país — afirma Nunes.
Maior empresa de games do Brasil é catarinense
Uma das primeiras empresas de desenvolvimentos de jogos do Estado foi a Hoplon, que surgiu no ano 2000, em Florianópolis, e hoje se consolida como a maior do Brasil em número de funcionários – são 70 pessoas. Rodrigo Nunes, CEO da empresa, explica que existem duas áreas principais:
— Temos o setor de desenvolvimento, com uma equipe multidisciplinar de programadores, artistas, roteiristas e sonoplastas – é muito parecido com um filme, é nosso estúdio. E a área da é a de publicação, que atua com a área comercial. Nesse setor temos profissionais trabalhando 24 horas por dia, já que nosso game é global e temos o grande desafio de atuar com pessoas de todo o mundo.
O jogo, no caso, é o Heavy Metal Machines, um game online com multijogadores, assim como o famoso League of Legends (LOL). A versão beta foi aberta em fevereiro e mais de 150 mil jogadores já acessaram o jogo desde então, a maioria das pessoas do Leste Europeu.
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Por esse motivo, a Hoplon lançou um campeonato online na Europa, que terá premiação de 10 mil euros distribuídos entre os oito times finalistas. As inscrições estão abertas até dia 15 deste mês e as batalhas começam na sequência. O campeonato é aberto para jogadores de todos os níveis e países.