A partir deste domingo, nomes como Franz Schubert, Ludwig van Beethoven e Giuseppe Verdi estarão na boca do povo em uma cidade do interior de Santa Catarina, como se fossem velhos conhecidos. Para muitos, realmente são: há 15 anos, Jaraguá do Sul, no Norte do Estado, sedia o Festival de Música de Santa Catarina, o Femusc, que leva pessoas de todas as idades, profissões e classes sociais para dentro de teatros e salas de concerto durante 14 dias para assistir a apresentações de música erudita.

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Neste ano, 600 obras serão executadas nos palcos da Sociedade Cultura Artística (Scar) de Jaraguá do Sul, e este número representa apenas uma pequena parcela do total de músicas que ecoarão pela cidade nestas duas semanas. Neste período, também haverá apresentações no shopping center, nos corredores do hospital municipal, em igrejas e em casas de repousos de idosos. São performances que garantem o acesso da população em geral aos grandes nomes da música erudita e à beleza de suas composições, mesmo que não exista um interesse inicial que os levaria ao teatro.

— A música erudita corre o risco de ficar muito fechada dentro dos teatros. Quando leva-se essa música com a mesma qualidade para uma comunidade, dá a oportunidade de as pessoas escolherem se gostam ou não e, depois, decidirem ir ao teatro para assistir aos concertos — analisa o trombonista Darcio Gianelli, que é músico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e há anos promove aulas do instrumento no Femusc.

Este movimento foi percebido em Jaraguá, cidade de 167 mil habitantes com perfil econômico focada na indústria, não só pela diversidade do público mas também pela forma com a qual as emoções destes dias cheios de música reverberam no resto do ano. Quando o Femusc termina, a secretaria da Scar é lotada pelos pedidos de matrícula nos cursos de música — a instituição, que é privada, ampliou a oferta a ponto de ter mil vagas exclusivas para bolsistas.

Uma boa parte desta busca parte de crianças e adolescentes que assistiram os concertos didáticos ou participaram da “colônia de férias” do evento, dividida entre Femusckinho e Femusc Jovem.

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— É bem possível que esta exposição à arte musical faça com que estas crianças busquem continuidade na Scar, mas é bom notar que esta aproximação musical também ocorre indiretamente quando alunos conversam com vizinhos e colegas de escola sobre sua experiência em um ou ambos destes terminais de ensino musical — analisa o diretor artístico do evento, Alex Klein.

Por 14 edições, o programa contemplava exclusivamente a música clássica, com foco na música instrumental. Em 2015, a ópera foi incluída na agenda e criou o fenômeno dos ingressos que acabam 30 minutos após a abertura da bilheteria — ela precisou aparecer em mais noites do evento, em montagens e participações especiais.

Agora, com o festival consolidado e a formação e qualificação de uma plateia na região para concertos sinfônicos, a música popular chega à programação em 2020. Entre os nomes estrangeiros, agora haverá execuções de canções de Milton Nascimento, Vinicius de Moraes e Ivan Lins pelas grandes orquestras formadas pelos alunos e professores do festival.

— Quando fazemos espetáculos com MPB para um público que nunca tinha assistido a uma orquestra, a primeira reação das pessoas é dizer “nossa, eu não pensava que podia ser alegre”. Isso com certeza é um primeiro passo para quem não conhece o universo sinfônico. Se você entra pela porta da música popular, é mais fácil querer ouvir um Mozart ou um concerto para piano depois — afirma o pianista Marcelo Ghelfi, que coordenará o programa de Música Popular do Femusc.

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