Cerca de 18 mil carcaças de animais mortos deixaram de ser recolhidas há cerca de dois meses em 75 municípios do Oeste devido à paralisação da indústrias Cbrasa, de Seara, que suspendeu as atividades por falta de autorização para exportar farinha, que era um dos produtos obtidos pelo processamento dos resíduos. O outro era biodiesel mas a empresa alegou que, sem comercializar a farinha, que sem autorização só poderia ser utilizada como fertilizante, estava com prejuízo na atividade.

Continua depois da publicidade

A indústria fazia parte de um projeto piloto Recolhe, desenvolvido em Santa Catarina, com o objetivo de dar um destino para o grande número de animais. Inclusive uma lei de autoria do deputado estadual Mauro de Nadal (MDB) estabeleceu regras para retirada e destinação adequada de carcaças.

Com a suspensão o problema voltou para os produtores e prefeituras que muitas vezes auxiliam no trabalho de dar um destino para esses animais mortos, seja em composteiras, seja enterrando.

Por isso os prefeitos estão pressionando em busca de uma solução para a questão. O secretário de Agricultura do Estado, Ricardo de Gouvêa, pediu apoio dos deputados federais durante o Fórum Parlamentar Catarinense, realizado na sexta-feira, em Chapecó, para ajudar encaminhar uma solução para o caso junto ao Ministério da Agricultura.

– O ministério já havia feito uma consulta pública no ano passado e agora vai fazer uma nova consulta. É preciso acelerar isso pois a falta de recolhimento representa um risco sanitário – disse.

Continua depois da publicidade

O consultor e ex-pesquisador da Embrapa Cláudio Bellaver, que esteve presente no Fórum Parlamentar Catarinense, avaliou que o projeto de recolhimento de carcaças é bom, mas não concorda com a destinação para farinha.

– Qual a será a reação do consumidor ao saber que cadáveres podem ser utilizados para ração animal. A utilização para fertilizante é viável se produzir um adubo organo mineral que pode ser vendido a preço de ração. Mas para isso é necessário investir em tecnologia – destacou.

O pesquisador Everto Krabbe, da Embrapa Suínos e Aves de Concórdia, que está trabalhando com o projeto de Tecnonlogia de Destinação de Animais Mortos (TEC-DAM), tem uma avaliação parecida.

– O projeto de recolhimento de carcaças é um ótimo modelo, é seguro. Mas sua utilização como farinha representa um risco, pois as carcaças produzem alguns componentes químicos. Não dá para deixar de recolher pois pode ocorrer disseminação de doenças. Só que usar como ração pode trazer dor de cabeça para um mercado exportador como o nosso – disse Krabbe.

Continua depois da publicidade

Ele destacou que o próprio Ministério da Agricultura recebeu durante a consulta pública do ano passado argumentos muito bem fundamentados sobre isso e por isso vai abrir uma nova consulta. O pesquisador da Embrapa não crê em liberação da comercialização da farinha.

Ele sugere medidas que podem viabilizar o projeto, como isenção de tributos e subsídios para a produção de fertilizante a partir das carcaças. Ou então o pagamento de uma taxa, como existe no recolhimento de lixo.

Enquanto isso a Embrapa também vai pesquisar formas mais eficientes para retirada da gordura, pois atualmente 15% ainda fica na farinha.