Policiais de todo o Brasil participam em Florianópolis até sexta-feira do 1º Seminário Internacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Segurança Pública, promovido pela Polícia Militar catarinense.

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Nesta quinta-feira, entre as palestras previstas, estão as que abordarão os modelos de gestão da Colômbia e Itália na gestão e combate ao crime.

Na quarta-feira, à tarde, o secretário adjunto da Defesa Civil, tenente-coronel Márcio Luiz Alves, alertou sobre a necessidade de prevenção e atuação diante dos desastres, assunto que nos últimos anos entristeceu o Estado, principalmente com as mortes em enchentes. O evento acontece na Fiesc, no Itacorubi.

Entrevista: Tenente-coronel Márcio Luiz Alves, da Defesa Civil de SC:

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Diário Catarinense – Qual é a realidade de SC hoje sobre as ocupações irregulares?

Márcio Luiz Alves – Temos ocupações por necessidades. As pessoas ocupam áreas mais próximas às cidades, onde o valor imobiliário é alto, e de maneira inadequada. Falta percepção de risco da comunidade, que precisa saber que assim está submetendo sua família a risco. Falta uma fiscalização. Primeiro temos que controlar a ocupação e depois pensar em retirar. O grande desafio é controlar a ocupação.

DC – Qual a área mais crítica de ocupação hoje no Estado?

Alves – Temos várias. No Vale do Itajaí, não em Blumenau, mas em todo o Vale. As pessoas estão morando dentro do rio. Em Florianópolis as encostas, que são áreas muito vulneráveis a escorregamento, principalmente. E essa ocupação tem histórico, não é de hoje. E só se despertou para as ocorrências de desastres de 2008 para cá.

DC – O senhor comentou que SC só aprendeu a lidar com desastres com a dor…

Alves – Com a dor. E pior que os outros estados ainda não aprenderam. Tivemos vários desastres e de 2008 para cá tem sido anual. Então isso faz com que a mente das pessoas esteja fresquinha ainda. O grande desafio é passar muito tempo sem desastre e que as pessoas não se acomodem e voltem a fazer a prática anterior.

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DC – Qual o nosso ponto fraco aqui: a detecção do desastre, o durante ou o depois?

Alves – A dificuldade aqui é que deixa um passivo muito grande. O pós-desastre é muito difícil. Hoje em Florianópolis, como é que você vai fazer para realocar famílias do Morro do Mocotó em áreas de risco? Não tem… E onde encontrar terra para colocar essas pessoas. Qualquer pedaço de terra em Florianópolis custa milhões.

DC – O senhor disse que ainda há pessoas atingidas na enchente de 2008 fora de casa…

Alves – Ainda tem, no Vale. Primeiro, porque não voltaram porque não pode voltar, a área foi interditada. E também porque a pessoa não acessou o Minha Casa Minha Vida e foi para a casa de um parente, está acomodado…

DC – Há tecnologias que o Estado ainda não usa?

Alves – Não é que não usa. Primeiro, temos que sempre considerar a ponta. Eu não posso usar instrumento que eu conheço, que eu sei que existe, mas na hora em que bater no celular de uma pessoa alerta de chuva, ‘você tem que sair da área’, ele não sabe o que fazer. Então tem que trabalhar antes a questão cultural.

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DC – Ainda existe dificudades dos governantes em investimentos de prevenção?

Alves – Existe. Quando tu entras numa relação de prioridades de governo, o que é mais emergente: contratar mil policiais ou comprar mais… Então ainda é muito difícil você convencer que precisa de equipamentos. O nosso Estado é o primeiro a ter um fundo estadual de Defesa Civil e o maior recurso.

DC – E as defesas civis dos municípios, como estão desde 2008?

Alves – Melhoraram muito. Hoje temos municípios com secretarias, por exemplo, Joinville, Jaraguá do Sul, Florianópolis. Mas isso aconteceu após 2008. Como vem acontecendo vários desastres isso não desmobiliza. O desafio será ano que vem, com eleições dos prefeitos, aí muda toda a estrutura municipal e temos que começar do zero. O ideal seria que mantivessem as estruturas e criem o agente de defesa civil como funcionário público efetivo.