Marisa Izabel Gomes Teixeira aguarda solitária em um ponto de ônibus do bairro Progresso em Blumenau o transporte para o trabalho. Está perto das 4h. Encolhida nos casacos e com um cachecol enrolado à cabeça, a professora inicia o trajeto até o Sesi da Rua Amazonas, onde cuida de crianças entre um e dois anos. No dia mais frio de 2015, Marisa mantém a mesma rotina de sempre, mas prevê encontrar alunos bem menos dispostos na escola:
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– Hoje vou ter de fazer a maioria das atividades dentro da sala, no máximo com a janela aberta para ventilar e não correr o risco de espalhar uma gripe entre as crianças.
O assunto
No mesmo ônibus da linha 403 quem ocupa a cadeira de cobradora é Tânia Aparecida dos Santos, de pé desde as 2h30min para o expediente de viagens até o Terminal do Garcia. Com dois casacos e uma touca, tem certeza de que as temperaturas estão mesmo baixas diante da ausência de cachorros na rua.
– Aqui sempre tem vários, hoje acho que se esconderam. É o sinal de que esfriou mesmo – brinca a apreciadora do frio.
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Durante a viagem, passageiros e motorista dão risada, falam do clima e fazem suas previsões de tempo para o resto da semana. A maioria permanece encorujada nos assentos enquanto tenta esquentar as mãos. Quem está sem luva busca conforto nos próprios bolsos.
Há bancos vazios, mas muitos sentam ao lado de outra pessoa em busca de calor humano. Nas ruas ainda escuras, ninguém caminha. Quem precisa desembarcar respira fundo, fecha o casaco e desce a passos apressados e com cabeça baixa para esconder o rosto do ar gelado.

Cobradora Tânia enfrenta o frio com dois casacos e uma touca
A comparação
No Terminal do Garcia, a auxiliar de limpeza Nilceia Santos embarca em um Troncal 10 para continuar a viagem que começou às 3h30min. Encolhida dentro de três casacos e um cachecol, ela faz diariamente o mesmo trajeto até a Itoupava Central, onde trabalha. Em um ônibus para o Terminal do Aterro, às vezes acredita que o frio de Blumenau é mais intenso do que o de Foz do Iguaçu (PR), de onde saiu há quatro anos. Mãe de dois filhos, deixou-os dormindo em casa. Cada um com três cobertas.
Muitos descem do ônibus na Avenida Beira-Rio e esperaram a conexão na calçada, ao lado da estação de pré-embarque ainda fechada. O motorista Pedro dos Santos para o ônibus pouco antes das estações – que só são abertas às 6h – e assiste ao embarque e desembarque de trabalhadores e seus casacos. Pedro parece não sentir tanto frio, mas diz que as primeiras viagens do dia são doloridas. Sem luvas, busca refúgio nos bolsos nas breves paradas da rota. Cerca de 15 quilômetros depois, o Troncal 10 encosta no Aterro.
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Nilcéia faz diariamente o mesmo trajeto
O efeito
Sentado em um dos bancos do terminal, Anderson Paiva se encolhe. É frio demais para ele. O relógio marca 6h30min e o termômetro registra a mínima do dia: 6,2 °C. Até agora, nem sinal do sol que no verão brilha cedo. Em Blumenau há seis meses, veio de Belém do Pará, onde mesmo no inverno as temperaturas ficam acima dos 25 ºC.
Aos 26 anos, Anderson chegou em busca de oportunidades e segurança, após ouvir o pai falar sobre a cidade depois de vir a uma Oktoberfest. Casado e pai de um menino de 11 anos, trabalha como vigilante. Levou apenas um dia para conseguir o emprego em Blumenau:
– Gosto muito da cidade, estamos adorando morar aqui. Quando chegamos era quente, mas agora está um frio que eu nunca vi na vida. Lá em Belém eu falava que gostava de frio, mas esse aqui chega a doer. Meus pais ficaram sabendo da previsão do tempo e desistiram de me visitar neste mês, vão esperar o inverno passar.

Anderson Paiva sente pela primeira vez o frio catarinense
A previsão
Perto das 7h o sol começa a aparecer para predominar pelo resto do dia. Mesmo assim as temperaturas não passaram dos 18 ºC ontem. Para alento de quem precisa madrugar, o frio está com os dias contados. De acordo com o meteorologista do Alertablu Gustavo Verardo, as temperaturas sobem nos próximos dias gradativamente, só que a chuva, bem mais conhecida do Vale do Itajaí, volta a marcar presença.
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