A ex-primeira-dama da Guatemala, Sandra Torres, acusada de ter sido guerrilheira durante a guerra civil (1960-1996), é uma política de temperamento forte, que aspira se tornar a primeira mulher a governar este país da América Central, assolado pela corrupção.
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Torres, de 60 anos, busca ocupar a cadeira presidencial para os próximos quatro anos, apoiada pelo partido social-democrata Unidade Nacional da Esperança (UNE), o mesmo que levou ao poder seu ex-marido Álvaro Colom (2008-2012).
Em 2011, ela tentou pela primeira vez se candidatar à Presidência e se divorciou de Colom para evitar uma disposição constitucional que proíbe a candidatura presidencial aos familiares do governante da vez.
Contudo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou sua inscrição por considerar que o divórcio havia sido uma manobra para burlar a proibição.
Uma pesquisa divulgada na quarta-feira pela imprensa local coloca Sandra Torres no segundo lugar das intenções de voto com 32,1%, atrás do comediante de direita Jimmy Morales, do partido FCN-Nação, que lidera a pesquisa com 67,9%.
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“Não medem meu voto, o voto do interior (departamentos distantes da capital). O voto rual é nosso e também o voto da capital, mas a verdadeira pesquisa é no domingo”, declarou Torres em referência ao segundo turno.
Os opositores de Torres, em especial da direita, a acusam de ter integrado a guerrilha durante a guerra interna de 36 anos (1960-1996), que deixou 200.000 mortos e desaparecidos, algo que ela negou, embora sempre tenha reconhecido sua simpatia pela revolução e por movimentos a favor dos pobres.
Filha de Enrique Torres e Teresa Casanova, nasceu em 5 de outubro de 1955 no município de Melchor de Mencos, no departamento de Petén, uma região no norte com vastas áreas controladas por narcotraficantes.
“Sandra tem experiência”
No primeiro turno, em 6 de setembro, Jimmy Morales ficou em primeiro lugar com 23,99% dos votos e Torres ficou em segundo lugar, com 19,75% dos votos válidos.
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Compareceram às eleições 70% dos eleitores, que correspondem a 4,8 milhões de votantes.
O segundo lugar para o segundo turno foi disputado voto a voto por Torres e o empresário de direita Manuel Baldizón, candidato pelo partido Liberdade Democrática Renovada (Líder) e, após quase dez dias de revisões de votos, o TSE confirmou a vitória do segundo lugar para a ex-primeira dama.
Durante a presidência de seu ex-marido, Torres se caracterizou por coordenar hermeticamente os programas de assistência através do Conselho de Coesão Social, uma série de projetos inspirados nos do Brasil como os refeitórios solidários, a entrega de alimentos e contribuições financeiras.
“Sandra tem qualidades que outras pessoas não têm (…). Sandra tem a experiência e conhece todas as instituições do Estado e as conhece bem. Sandra tem uma força de trabalho impressionante”, disse Colom à imprensa guatemalteca, apesar de não concordar com algumas decisões de sua ex-esposa, com quem esteve casado por oito anos.
Uma das inconformidades do ex-presidente é a denominação à vice-presidência pela UNE de Mario Leal, que foi um próximo colaborador do ex-governante Otto Pérez, agora em prisão preventiva e ligado a uma investigação por uma fraude milionária no sistema nacional de alfândegas.
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Colom assegurou que Leal sempre tentou desestabilizar seu governo e que a decisão de sua ex-esposa de incluí-lo em sua equipe teria exclusivamente interesse econômico.
Apesar deste “erro”, Colom considera que sua ex-esposa conta com a experiência para governar. “Ela tem uma base de votos sólidos importantes, tem seu carisma”, assegurou.
A aspirante à Presidência tem licenciatura em Comunicação e se destacou em cargos gerenciais da indústria têxtil para depois criar sua própria empresa na mesma área.
* AFP