Para consolidar um serviço que hoje é referência, o Samu em Blumenau enfrentou dificuldades ao longo destes 10 anos, principalmente até a comunidade entender – e respeitar – o trabalho das equipes. Anos atrás, se uma ambulância solicitada não fosse enviada, os veículos tornavam-se alvo de pedradas e xingamentos, lembra o coordenador médico do Samu no Vale do Itajaí, Renann Vicenzoto.

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::: Samu de Blumenau comemora uma década salvando vidas

::: Confira a rotina das equipes do Samu com a missão de salvar vidas em Blumenau

Ele garante que, conforme a comunidade foi se acostumando com o modelo de trabalho, os episódios de hostilidade foram sendo superados.

Veja o vídeo que mostra a rotina dos profissionais:

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– O sistema de regulação médica (que faz a triagem prévia dos atendimentos), que não existia no país, acabou gerando muita reclamação, até que a população entendeu a importância e por que ele existe – conta o médico que integra a equipe há três anos.

O coronel José Gamba Júnior, comandante do 3º Batalhão de Bombeiros de Blumenau, avalia que o trabalho do Samu também contribuiu para qualificar o trabalho da corporação.

Na última década, a equipe pôde dedicar-se a ocorrências que envolvem trauma, como acidentes de trabalho e trânsito, choques e resgates em locais de difícil acesso, enquanto o Samu ocupa-se com ocorrências clínicas, como infartos e cólicas renais. Para ele, as duas equipes se completam e trabalham com sinergia:

– Os nossos serviços aeromédicos, com os helicópteros, operam tanto com equipes dos Bombeiros como do Samu. Foi uma parceria fantástica e tem sido uma forma exemplar do bom emprego do recurso humano e material para todo Brasil.

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Os desafios do futuro

A secretária de Saúde de Blumenau, Maria Regina de Souza Soar, acompanhou a implantação do Samu na década passada, quando era gerente regional de saúde, cargo ligado ao governo do Estado. Para ela, o serviço trouxe mais qualidade ao atendimento pré-hospitalar. Além dos médicos, o trabalho conta com motoristas que também são socorristas e técnicos de enfermagem responsáveis pelos primeiros cuidados ao paciente.

– Esses diferenciais fazem com que o paciente chegue ao hospital estabilizado e com uma sobrevida maior – explica.

No entanto, ela acredita que ainda há o que melhorar. Por ter uma gestão tripartite – administrada pelos governos federal, estadual e municipal -, Maria Regina acredita que situações administrativas precisam evoluir, como a renovação da frota, por exemplo.

– Há vários veículos com quilometragem alta, dando muita manutenção, e não temos condições de renovar a frota – avalia a secretária municipal de saúde.

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O coordenador médico do Samu no Vale do Itajaí, Renann Vicenzoto, concorda: são necessárias mais ambulâncias de suporte avançado e melhorias na central de regulação.

De acordo com a secretária, um grupo técnico coordenado pela Secretaria Estadual de Saúde discute a situação do Samu no Estado, inclusive o projeto de centralizar a regulação estadual em Florianópolis. Por meio da assessoria de comunicação, a pasta estadual afirmou que a centralização do atendimento já foi aprovada no ano passado, mas desde então nada avançou.

A conscientização da população é outro desafio e o desrespeito ao serviço, infelizmente, ainda é uma realidade. Cerca de 5% das ligações recebidas são trotes. Há casos que foram levados à esfera judicial e o Samu cobra os gastos com a ocorrência, além de danos morais. Outra situação enfrentada é a de pacientes que tentam usar o serviço para furar a fila na porta do hospital.

– A população acaba mentindo e omitindo informações para conseguir a ambulância. Isso faz com que haja gasto desnecessário de dinheiro público, sem contar desgaste de equipe. Tem pessoas que ligam e dizem que estão com dor no peito, mas quando chegamos é uma dor no pé ou cólica menstrual – conta a enfermeira coordenadora das Unidades de Suporte Básico em Blumenau, Larissa Barreto.

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Quando chegam e percebem que a situação não é grave, os profissionais orientam a família e não transportam a pessoa. Na maioria das vezes, é visível o carinho que as pessoas nutrem pela equipe, abrindo as portas de suas casas e confiando nos profissionais. É o caso da dona de casa Laídes Pereira, 70 anos, do Badenfurt, que chamou a equipe na semana passada para atender a filha.

– O atendimento do Samu é muito bom. Meus pais também precisavam e sempre chamei o serviço. Há muitos anos passo por isso – relata Laídes, mãe de uma paciente.

De acordo com a enfermeira Larissa Barreto, 60% dos atendimentos são feitos no local, o que ajuda a desafogar o atendimento nos hospitais da região.

A estrutura em Blumenau

– 400 chamadas atendidas por dia na Central de Regulação para Blumenau e região.

– São enviadas ambulâncias em 50% dos casos.

– 800 a 900 ocorrências atendidas por mês pelas Unidades de Suporte Básico (USB) apenas em Blumenau.

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3 Unidades de Suporte Básico (USB)

Ambulâncias para atendimento pré-hospitalar de pacientes com menor risco de vida. São tripuladas por motorista socorrista e técnico de enfermagem.

1 Unidade de Suporte Avançado (USA) – UTI móvel

Ambulância destinada ao atendimento de pacientes com maiores complexidades ou transporte de pacientes que necessitam de suporte avançado de vida. É tripulada por médico, enfermeiro e motorista socorrista.

1 Helicóptero Arcanjo

Na semana passada a cidade recebeu oficialmente o Arcanjo 3, que presta serviços ao Samu e ao Corpo de Bombeiros.

1 Caminhonete 4 x 4 destinada a intervenções rápidas.