A proprietária do dinheiro público é também pública mulher, muito assediada nesses tempos de Lava-Jato. É a Viúva, sempre cortejada, mesmo em época de crise.
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Por ser público, entendem alguns dos chamados representantes do povo, o dinheiro é de todos – e de ninguém. Deveria ser de quem chegasse primeiro, mas já foi mais fácil. Hoje está ficando difícil, com esses abelhudos da “operação mãos limpas”.
Sabendo que no Brasil a impunidade é um direito muito humano, os arrecadadores de campanha não desistem de acariciar o cangote da Viúva, sequiosos por sugar-lhe a carótida – e sentir o inebriante perfume de mulher.
A Viúva é um sucesso. Fabrica um dinheiro sem dono, nem lastro, mas nem por isso inválido ou imprestável para os operadores de empreiteiras e para os tesoureiros de partidos.
Ela, a herdeira de todos os impostos, pode exibir várias formas, várias máscaras, vários disfarces, mas a sua bolsa é inconfundível. Ninguém resiste em afundar a mão naquela sacola mágica, tão generosa e tão elástica – pois de lá sempre vem uma boa pescaria.
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A Viúva é mulher quase ubíqua e oblíqua, que os políticos cortejam de esguelha, pois nesses tempos bicudos já não convém dar muito na vista – logo agora que a opinião pública – essa outra mulher tão desejada – anda de olho nos movimentos da mão boba.
Os tribunais de contas – casas de políticos “quase” regenerados – gostariam de diminuir o assédio à dissimulada senhora, mas é sempre muito difícil controlar a volúpia dos necessitados de uma graninha já para próxima campanha.
Querem continuar passando a mão na Viúva até mesmo com a autorização de uma lei futura – e bandida: a que regulamentará o “financiamento público de campanha”, mais uma brecha para enfraquecer o chamado último reduto das posses da assediada senhora.
Todo mundo quer transar com a Viúva para ver se das dobras do seu sutiã escorre aquele dinheiro leitoso, farto e sempre disponível. É só fazer o movimento de sucção e ir mamando.
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Saiu ontem às ruas uma outra senhora, muito assediada pelas pesquisas, a Senhora Classe Média, queixando-se de empobrecimento ilícito.
Curioso: o mesmo estrato que mais se beneficiou com a ascensão social desde 2003 é a nova classe média que hoje reclama da crise perversa. Com razão. Deram e tiraram. A ascensão foi só um “empréstimo” pré-eleitoral.