A comunidade do Campeche guarda na memória a história do aeródromo da Compagnie Générale Aéropostale, utilizado como escala na rota Buenos Aires–Rio de Janeiro–Toulouse. Os aviões da Latécoère, em voos noturnos, aterrissavam com a ajuda de lampiões no morro Caboclo, hoje do Lampião. Neles, o piloto e escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, autor do carismático “O Pequeno Príncipe”.
Continua depois da publicidade
De 1929 a 1931, “Zé Perri”, como era conhecido pelos locais, conviveu com o universo do ilhéu pescador, lembrança documentada pelo escritor e seus colegas de ofício em passagem no livro “Vôo Noturno” (1931). Esta relação foi registrada também no livro “Deca e Zé Perri” (2000), de Getúlio Manoel Inácio. O autor narra a amizade entre seu pai, o pescador Rafael Manoel Inácio, “seu Deca”, e Zé Perri. Eram jovens. Deca tinha uns 20 anos e Exupéry, 27. O ilhéu ensinou o piloto-escritor a pescar, preparar os peixes e saboreá-los com o pirão d’água.
Em 31/07/1944, Saint-Exupéry levantou voo de Bastia-Borgo para a sua última missão, durante a II Guerra Mundial. Jamais voltou. Seu avião, um Lockheed P-38 Lightning desapareceu sobre o Mediterrâneo, ao largo da costa de Marselha. Em 2003, o arqueólogo marinho Luc Vanrell achou os destroços do avião. A pista para sua localização foi uma pulseira com o nome do escritor gravado, presa na rede do pescador Jean-Claude Bianco, em 1998.
Hoje, portanto, leitores, aficionados e estudiosos da obra de Saint-Exupéry reverenciam a memória do escritor, em especial “O Pequeno Príncipe”, ícone da cultura pop mundial. Traduzido para 280 idiomas, mais de 150 milhões de cópias vendidas e inspiração de inúmeras peças de teatro, canções, adaptações para o cinema e televisão, documentários e exposições.
Na Ilha de Santa Catarina, numa comunidade de pescadores, o aniversário de morte de Saint-Exupéry será lembrado com saudade do amigo que um dia aqui passou e partiu levando um pouco do ser ilhéu e deixando muito de si entre as dunas e o mar verde do Campeche.
Continua depois da publicidade
*Lélia Pereira Nunes é da Academia Catarinense de Letras (ACL)