Com a saída de Eike Batista da presidência da MPX, anunciada nesta quinta-feira, surgem dúvidas quanto ao futuro dos negócios da empresa de energia no Rio Grande do Sul. A chegada da alemã E.ON ao comando poderá paralisar os planos confirmados em março de participar do próximo leilão de energia a carvão com dois projetos no Estado.
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Os projetos da MPX no Estado somam R$ 6,8 bilhões e envolvem usinas no município de Candiota, na região da Campanha. Embora já fosse sócia de Eike na MPX, e portanto tivesse conhecimento do planejamento, ao assumir o controle a E.ON poderá rever orçamento e estrutura financeira dos planos, explica Eduardo Carlier, gestor da unidade brasileira da administradora de recursos Schroders PLC:
– Dado o momento de reestruturação do Grupo EBX (da qual a MPX faz parte), é uma tendência natural que o novo controlador arrume a configuração da empresa antes de rever orçamentos e planos.
Analista do BB Investimentos, Nataniel Cezimbra concorda que a mudança no comando da companhia abre margem para a reavaliação dos projetos, com os novos gestores voltados, inicialmente, à reorganização das contas da empresa para só depois fazer investimentos.
– Os novos controladores terão de priorizar a renegociação de dívidas e o equilíbrio do balanço financeiro. Não tenho certeza se o plano de negócios está em discussão neste momento – explica Cezimbra.
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Cogita-se que a dívida da MPX com bancos chegue a R$ 3 bilhões.
A atração desses investimentos ao Rio Grande do Sul pode esbarrar no tempo: as inscrições para o próximo leilão de energia, no dia 29 de agosto, encerram-se na próxima segunda-feira. Será o limite para saber se a MPX irá participar, e quais condições estará disposta a aceitar para gerar energia por carvão.
– Se o governo federal primar pela isonomia de condições (no Nordeste há benefícios adicionais a projetos de energia), o leilão será rentável e não haverá motivos para a E.ON não participar – afirma o presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral, Fernando Luiz Zancan.
Governo gaúcho avalia que troca de gestores é positiva
O governo do Estado segue otimista com a chegada das usinas de carvão da antiga companhia de Eike. Conforme Marco Franceschi, diretor de infraestrutura e energia da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI), a troca no comando ajudará os projetos a saírem do papel, uma vez que a entrada de um grupo internacional poderá sustentar financeiramente o empreendimento – a chegada da E.ON envolveu aumento de capital de R$ 800 milhões.
– A saída de Eike ajuda a arejar a empresa. Conhecemos a reputação da E.ON, e ao injetar mais recursos a multinacional demonstra a intenção de viabilizar os projetos – avalia o diretor da AGDI.
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No dia 12 de junho, o governo do Estado havia anunciado redução de imposto para empresas que fornecerão às indústrias, de forma a tornar o projeto mais barato e competitivo no leilão de agosto.
Os negócios da MPX estão concentrados em Candiota, na região da Campanha
Usina Seival
O projeto da térmica de Seival foi adquirido em novembro de 2010 e tem licença de instalação (LI) de 600 MW. Será abastecida por carvão da mina de Seival, empreendimento da MPX em parceria com a Copelmi.
Devem ser investidos R$ 3,1 bilhões no empreendimento, com a criação de 2,5 mil vagas de trabalho durante a implantação e 200 na operação.
Mina de Seival
Localizada em Candiota, a mina de Seival está instalada em terreno ao lado da usina termelétrica MPX Sul.
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Suas reservas comprovadas do combustível chegam a 152 milhões de toneladas, quantidade superior à necessária para o funcionamento das duas usinas.
A mina terá a produção reativada em razão dos dois empreendimentos.
Usina MPX Sul
A usina termelétrica MPX Sul terá potência instalada de 727 MW, com duas unidades geradoras de 363,5 MW. Será abastecida pela mina de Seival.
O empreendimento conta com licença prévia (LP) do Ibama.
O investimento previsto é de R$ 3,7 bilhões, e implantação deve gerar 2,5 mil empregos durante as obras e 200 na fase operacional.
Preste atenção
Para que o investimento saia do papel, é preciso que os projetos vençam leilão promovido pelo governo federal.
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A próxima disputa, que envolve todo o país, está agendada para o dia 29 de agosto.
Ganha quem oferecer o menor custo de geração.
Há previsão de que seja realizado um segundo leilão até o final do ano.
Ascensão e queda das empresas X
Na bolsa
Em 2006, Eike Batista abre o capital da MMX. Nos seis anos seguintes, lançou mais cinco companhias na bolsa.
Recorde no pregão
Em junho de 2008, Eike fez, até então, a maior oferta de lançamento de papéis da Bovespa, alcançando R$ 6,7 bilhões. Segundo analistas, a demanda foi 10 vezes maior que a oferta.
Inferno astral
Os atrasos na fase de entrega dos projetos – que criou e vendeu por bilhões – aumentou o ceticismo em relação ao potencial dos negócios de Eike. O ano de 2012 é marcado pela queda no valor das ações das empresas do grupo EBX.
Perto de virar pó
No final de junho de 2013, as ações das empresas do Grupo EBX voltam a desabar, em razão de novas revisões no plano de negócios e ao rebaixamento das notas por agências da classificação de risco.
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Troca de comando
Nesta quinta, o braço de energia MPX comunica a saída de Eike Batista da presidência, que passa a ser ocupada pela multinacional alemã E.ON.
*Colaborou Vagner Benites