Quem teve estômago para clicar e assistir ao vídeo que mostra o jornalista americano James Foley sendo degolado na Síria talvez tenha ignorado um detalhe: o sotaque do carrasco.
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A pronúncia do executor denunciava o país de origem do militante do grupo radical do Estado Islâmico (EI), a Grã-Bretanha.
Apelidado de “John jihadista” pelos tabloides britânicos, o jovem assassino faz parte de um fenômeno que atinge alguns países do Ocidente, em especial na Europa: muçulmanos de comunidades pobres ou marginalizadas estão aderindo à Jihad, a chamada “Guerra Santa”.
EUA confirma morte de jornalista por membros do Estado Islâmico
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De acordo com um relatório do Sofan Group, uma consultoria internacional de estratégia e segurança, há 3 mil ocidentais lutando na Síria. Desses, cerca de 500 são britânicos, diz o governo da Grã-Bretanha. Um deles seria o assassino de Foley: um ex-rapper de 24 anos nascido em Londres, que pode ser visto em vídeos do YouTube, com o codinome de L Jinny (veja o vídeo abaixo). Seu verdadeiro nome, diz o jornal Sunday Times, é Abdel-Majed Abdel Bary. Ele saiu da casa da mãe no ano passado para entrar na luta armada na região conflagrada da fronteira do Iraque com a Síria.
Em sua conta no Twitter (já retirada do ar a pedido da família), Bary postava informações sobre a vida na Síria, como as lutas entres os diferentes grupos radicais e fotos com armas usadas pelas guerrilhas.
A ligação com terrorismo permeia a história de sua família. Acredita-se que o pai do rapper seja Adel Abdel Bary, preso nos Estados Unidos desde 2012, acusado de participar dos atentados às embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia em 1998. No início dos anos 1990, ele havia sido condenado à morte pelo governo egípcio, mas conseguiu chegar a Londres como exilado político.
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Jihadistas europeus ameaçam segurança nacional
Segundo a imprensa britânica, Bary começou a se transformar em “John Jihadista” depois de passar a frequentar as sessões religiosas de Anjem Choudary, um clérigo radical que prega a implantação da Sharia na Grã-Bretanha. Pela sua conta no Twitter, contudo, o religioso negou conhecer Bary.
– O radicalismo na Grã-Bretanha não é novo. A propaganda do Estado Islâmico é direcionada a jovens muçulmanos no Ocidente – disse a ZH Max Abrahms, especialista em terrorismo e professor de Ciência Política na Northeastern University.
Conforme Abrahms, ao contrário dos Estados Unidos, na Europa as comunidades muçulmanas não são tão integradas. A separação deixa os jovens à parte da sociedade, e ingressar na luta religiosa “confere um sentido social, uma oportunidade de fazer algo da vida” para muitos membros desses grupos.
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O tema é controverso, pois, como cidadãos britânicos, os jihadistas têm o direito constitucional de voltar aos países de origem, o que pode representar um risco à segurança nacional. O ataque a um museu judaico em Bruxelas, em maio, foi feito por um miliciano que havia retornado da Síria.
– São jovens incrivelmente ignorantes sobre o que é o islamismo. Não são religiosos – diz o especialista em terrorismo.
O prefeito de Londres, Boris Johnson, defendeu em um artigo publicado no jornal The Telegraph que, caso os britânicos que ingressaram na luta armada se mantenham aliados a um “Estado terrorista”, eles deveriam ter a cidadania do país cassada.
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Veja o clipe de uma música do ex-rapper