Comprar um carro tornou-se bem mais fácil nos últimos anos com as parcelas a perder de vista. Mantê-lo é outro negócio. A OAB de Joinville recebe frequentemente queixas de consumidores que não aguentam o peso dos custos, caíram na inadimplência e não sabem como negociar a dívida. Até o Procon é procurado, embora nada possa fazer, porque não faz parte de suas atribuições. A defensoria pública não dá suporte para dívidas desta natureza.

Continua depois da publicidade

>> Saiba o que afeta o valor do seguro dos carros em Joinville

A recomendação da OAB é procurar um advogado de confiança para realizar a revisão contratual e nunca recorrer a profissionais que prometem milagres. Mas afinal, qual a forma mais segura de não deixar o sonho se transformar em um pesadelo?

Para saber se uma nova dívida é pesada demais para o orçamento, a professora de economia da Univille, Jani Floriano, recomenda listar as dívidas contraídas e verificar quanto sobra de dinheiro no final do mês. Segundo ela, o ideal é que a dívida não ultrapasse 30% da renda familiar. Jani reconhece, porém, que a teoria é bem diferente da prática. Em geral, o endividamento das famílias é superior a este percentual.

A conta também deve prever o horizonte de um ano, para inserir despesas extras das quais não dá para fugir, como material escolar e IPTU, explica Jalbas Martins. Quando a dívida alcança 50% da renda, acende-se a luz vermelha. O risco de o consumidor se tornar um futuro inadimplente aumenta sensivelmente, diz o advogado, e essa é a hora de agir, antes de a inadimplência se concretizar.

Continua depois da publicidade

– Se atrasar um dia o pagamento da prestação de R$ 1 mil, o acréscimo será de R$ 20,86 por dia e, ao longo do mês, chegará a R$ 624,90. Vira uma bola de neve – alerta Martins, presidente da Comissão dos Direitos do Consumidor da OAB Joinville.

A professora Jani dá uma dica simples para chegar ao custo de fato do carro – ou seja, o valor da prestação mensal mais as despesas que o acompanham, como o IPVA, seguro obrigatório, licenciamento, despachante, estacionamento, combustível e o seguro privado. A grosso modo, a conta final é o dobro do valor da parcela.

Quem paga R$ 600 de prestação pode considerar como referência R$ 1,2 mil de custo total mensal. Carros mais caros apresentam prestações mais salgadas e custo de manutenção superior, portanto, quem paga R$ 1 mil de parcela deve considerar como despesa total mensal o valor de R$ 2 mil.

Algumas contas que impactam no custo de manutenção do veículo são cobradas uma vez por ano. Então, poderiam ser pagas à vista. Mas vale a pena? A professora de economia diz que se a pessoa tem o dinheiro para pagar à vista e o valor a prazo é igual, em tese seria melhor pagar parcelado.

Continua depois da publicidade

Na prática, diz Jani, só compensa se o restante do dinheiro que seria usado para pagar à vista já tiver destino certo, como pagar um curso, viagem ou colocar na aplicação. Caso contrário, é provável que o valor seja gasto com supérfluos. No final, o consumidor nem sabe onde gastou o dinheiro e continuará com o orçamento comprometido.

Jani fez uma simulação da compra de um carro popular e o valor aproximado das despesas mensais. Seria preciso uma renda mensal de R$ 4 mil para que a dívida não ultrapassasse 30% da renda, percentual recomendado por especialistas.

lank>

As seguradoras conhecem você

Talvez você não saiba, mas estar com as contas em dia reduz os custos de manutenção do veículo. Nos últimos dois anos, aproximadamente, as seguradoras passaram a considerar a análise de crédito na definição do valor do seguro. Ao fornecer o número do CPF na cotação, a informação é rastreada. Se o nome estiver no Serasa, o seguro nem é autorizado. A lógica por trás da análise de crédito é a de que uma pessoa com vida financeira instável pode vir a dar mais despesa para seguradora.

– Certa vez, a cotação para um cliente indicava o valor de R$ 2 mil, só que ele resolveu colocar o carro em nome de outra pessoa com características semelhantes, e a atualização do CPF fez o seguro passar para R$ 2.670 porque o novo CPF indicava vida financeira mais desorganizada – conta o sócio-proprietário do Despachante Gilberto, Marcos Alexandre Celva.

Continua depois da publicidade

A dinâmica do mercado também altera de forma significativa os preços praticados. Se uma seguradora apresenta a melhor proposta hoje, isto não significa que será a melhor opção daqui a algumas semanas.

Os valores alteram conforme o número de veículos segurados naquele mês, o plano de crescimento dos negócios e se a localidade está sendo lucrativa ou não. O ideal é realizar a pesquisa de preço entre instituições de confiança em cada renovação do seguro, pois a economia vai valer a pena.

Dispensar o serviço é contar com a sorte. O despachante Celva diz que, em uma colisão, a troca de peças originais de carros populares pode custar o valor do seguro. Um para-choque chega a valer R$ 1,5 mil e uma lanterna traseira R$ 600.