O aposentado Roque José de Souza, 75 anos, sempre foi inquieto. Aos 13, deixou Itajaí na boleia de um caminhão e parou em Joinville. Nos últimos seis meses, precisou sossegar. Vítima de acidente de trânsito, Roque teve de amputar parte da perna esquerda e virou mais um integrante de uma triste estatística. Entre janeiro e setembro deste ano, 2.123 pessoas foram socorridas em acidentes de trânsito, quase oito casos por dia. Os dados são dos Bombeiros voluntários de Joinville.
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O acidente de Roque foi um dos 88 que aconteceram na rua Albano Schmidt, no bairro Boa Vista, durante o período. A via é também a que tem o maior número de ocorrências registradas na cidade.
– Sempre fui muito de viajar, de andar para todos os lados. Ficar parado é bem difícil. Quando sofri o acidente, sabia que não tinha solução e precisava encarar as consequências – diz Roque, referindo-se às sequelas do grave acidente que sofreu.
O aposentado andava de bicicleta por uma ciclovia quando sofreu o acidente no dia 15 de abril. Foi atingido por um caminhão que tentava fazer uma ultrapassagem e permaneceu 50 dias internado no hospital.
– Vi muitas pessoas chegando quebradas por causa de acidentes no período em que estive com o meu pai, principalmente motoqueiros – conta Terezinha de Souza, filha de Roque.
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Quase a metade dos 2.123 acidentes registrados nos primeiros nove meses de 2014 envolveu carros e motos (947 casos). As batidas entre carros vêm em seguida, com 270. Segundo os bombeiros, a média é de 207 acidentes por mês. O bairro com o maior número de acidentes é o Iririú, seguido do Itaum e do Boa Vista, este último com maior número de colisões (29) envolvendo bicicletas.
Em dez anos, frota de carros subiu 86%
A facilidade de comprar automóveis é uma das explicações para o aumento do número de acidentes. Conforme dados do Detran, em dez anos, a frota de veículos em Joinville cresceu 86% – 354,9 mil veículos, entre carros, motos e caminhões, circulam pela cidade.
– Hoje, está mais barato comprar uma moto, principalmente as de menor cilindrada, que são mais leves e frágeis também, do que andar de ônibus. Sem dúvida, o investimento em transporte coletivo contribuiu para a diminuição de acidentes – diz o professor do Centro de Engenharias da Mobilidade da UFSC de Joinville, Fernando Calil.
No ranking dos acidentes que mais ocorreram até setembro, em terceiro lugar aparece a queda de moto, o que indica, para o professor, que é preciso atenção para a condição das vias, além da inabilidade de parte dos condutores.
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Investimentos na infraestrutura
Algumas das ruas que mais registraram acidentes neste ano em Joinville – Albano Schmidt, Monsenhor Gercino, Florianópolis e Guanabara – receberão melhorias. De acordo com Gilson Perozin, gerente da unidade de mobilidade e acessibilidade do Ippuj, a verba de R$ 115 milhões do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do Ministério das Cidades, já está assegurada e tem como finalidade a mobilidade urbana.
Os recursos serão usados para a instalação de corredores de ônibus, ciclovias, recape de ruas, construção de binários e melhorias na sinalização.
– Nos terminais, vamos ampliar e modernizar os bicicletários para incentivar as pessoas a irem até eles de bicicleta. Elas ficarão em lugares movimentados e próximos a câmeras de segurança para evitar furtos – afirma.
O investimento em criação de corredores de ônibus também está previsto no pacote do PAC. Parece consenso entre os especialistas que o investimento em transporte coletivo é uma das saídas para o trânsito na cidade.
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A expectativa é de que, com os corredores, os ônibus voltem a ganhar mais velocidade, e com o aumento da frota e a diminuição da lotação, eles se tornem mais atrativos para a população.
Segundo Gilson, uma série de mudanças também deve ser realizada nas ciclovias. Estão previstas modificações na sinalização de trânsito, com indicações do sentido em que o ciclista deve trafegar, pintura vermelha no espaço dos ciclistas e inclusive um sistema de semáforo.
Limitação de velocidade pode contribuir
A transformação de vias de mão dupla em mão única e o asfaltamento melhoram o fluxo dos veículos, mas também aumentam a probabilidade de acidentes devido à alta velocidade. Neste caso, a saída pode ser a redução do limite de velocidade e maior sinalização.
Estudos apontam que nos locais onde o limite é 50 km/hora, de cada dez acidentes, três são fatais. Nos locais onde a velocidade máxima permitida é 60 km/hora, sete de cada dez acidentados morrem. Nos primeiros nove meses deste ano, 110 pessoas morreram no trânsito em Joinville, 13 a mais do que no mesmo período do ano passado.
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Para Marcelo Danner, gerente de trânsito do Departamento de Trânsito (Detrans) da Prefeitura, a desatenção é uma das principais causas de acidentes.
– O uso das tecnologias contribui sensivelmente para a distração do motorista. Agora, eles falam ao celular, mandam mensagens e acessam a internet.