Os danos causados pelo fogo que atingiu o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, na Grande Florianópolis, durante os últimos dias e queimou aproximadamente mil hectares do local começam a atingir os moradores da região. Eles estão envoltos na fumaça gerada pelas queimadas desde terça-feira (10) quando o incêndio começou. Zilma Teixeira de 76 anos é uma dessas pessoas. Ela conta que tem sentido desconforto para respirar há dois dias.
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— Não consegui dormir por causa da fumaça, já tenho problemas de pulmão e ficou muito forte aqui, o vento trouxe a fumaça pra nossa casa — diz Zilma
A médica pneumologista, Adriana Knabben, diz que a exposição prolongada à fumaça pode gerar casos graves. Entretanto, ressalta que ao se tratar de incêndios florestais é difícil que o quadro evolua de maneira fatal, pois os gases liberados em sua maioria não são tóxicos.
— É difícil de quantificar o que seria uma exposição segura, mas dois dias de contato prolongado com a fumaça já acende um alerta. O paciente deve ficar atento a alterações na respiração ou dores, pois as vias aéreas podem ter queimaduras, mesmo que não haja ferimentos visíveis na pele — afirma Knabben
Quando respiramos o ar entra pela boca ou nariz, passa pela traqueias, vai para os brônquios e chega aos alvéolos, que ficam no final do pulmão. É através dessas células que ocorrem as trocas gasosas: o oxigênio entra no sangue e o gás carbônico é retirado. Esse processo é muito rápido, dura menos de um segundo e quando inalamos fumaça ela faz o mesmo caminho do oxigênio, chegando nesse tempo recorde aos pulmões.
De acordo com a pneumologista, a consequência grave mais provável é a pneumonite química, causada pela inalação de substâncias tóxicas e agressivas ao pulmão. O quadro dura uma ou duas semanas e a recomendação é que procure-se um médico. A condição se manifesta com tosse, falta de ar e bastante muco, muitas vezes com fuligem.
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— Uma medida paliativa enquanto a pessoa está no local é a colocação de panos úmidos ou camisetas sobre o nariz e boca. É importante que ela seja molhada, isso ajudará a grudar a fuligem a grudar no pano e evitar que ela chegue até os pulmões. — recomenda a pneumologista
Tempo, Rinite e Asma podem ser agravantes
A médica explica que o maior risco é para portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e asma. Possuem mais chance de passar por um broncoespasmo, uma contração dos brônquios que impede a passagem do ar até os pulmões.
— O quadro normalmente é de falta de ar, pressão no peito, chiado e alguns roncos. A recomendação é procurar um lugar aberto e se afastar ao máximo do local. Ressalto que jamis deve-se minimizar os sintomas, ao senti-los busque um profissional da saúde — fala Adriana
Os extremos de idade são mais vulneráveis a esse tipo de complicação principalmente em crianças menores de 5 anos e idosos maiores de 65 anos, recomenda- se evitar, na medida do possível, a proximidade com incêndios, manter uma boa hidratação e manter os ambientes da casa e do trabalho fechados, mas umidificados, com o uso de vaporizadores, bacias com água e toalhas molhadas.
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Adriana comenta que apesar de não perceber um aumento na procura por atendimento diretamente ligado às queimadas no Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, nota um crescimento de 10% a 20% na busca por ajuda por consequência do ar mais seco que está predominando no Estado.
— Claro que não é tão seco como Brasília, mas como estamos acostumados com mais umidade no ar os pacientes que têm doenças respiratórias têm relatado dificuldade na adaptação à mudança. Isso é evidenciado, pelo perfil de quem tem nos procurado. Atualmente temos mais pacientes jovens com condições crônicas do que idosos saudáveis — comenta a médica
Os sintomas mais comuns nesse caso são dor de cabeça, rinites alérgicas, sangramento nasal, garganta seca e irritada, sensação de areia nos olhos que ficam vermelhos e congestionados, ressecamento da pele, cansaço.
Medidas de prevenção podem ser adotadas como aplicar soro fisiológico no nariz e nos olhos para evitar o ressecamento, lavar as mãos com frequência e evitar de colocá-las na boca e no nariz. Além disso deve-se evitar aglomerações e a permanência prolongada em ambientes fechados ou com ar condicionado, pois o ressecamento das mucosas aumenta o risco de infecções oportunistas das vias aéreas.
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