*Por Jurandir Sell Macedo, doutor em Finanças Comportamentais

Os brasileiros conviveram, por várias décadas, com uma inflação muito elevada culminando com um processo hiper inflacionário. Durante os anos 60 e 70, a inflação média anual foi de 38%, na década de 1980, passamos a conviver com uma inflação descontrola na casa de 330% ao ano e chegamos à hiperinflação, na década de 1990.

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Em pouco mais de meio século o Brasil conviveu com 9 moedas diferentes. A inflação deixou marcas profundas na sociedade brasileira. Em um cenário de inflação elevada, as pessoas tinham grandes dificuldades para controlar seus orçamentos. Por isso, algumas gerações abandonaram totalmente o planejamento financeiro.

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Quando a inflação é muito elevada, as pessoas preferem consumir depressa o dinheiro que tem para fugir de uma moeda que perde o valor todos os dias. 

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Instabilidade financeira vs. Tranquilidade 

O Brasil também passou por outro grave problema, que foi o congelamento dos investimentos no Plano Collor. Aquele episódio fez com que muitos brasileiros passassem a temer os investimentos financeiros e este medo passou a ser um trauma coletivo.

Ainda hoje, muitos dos meus jovens alunos da Universidade Federal de Santa Catarina temem e falam sobre um possível congelamento da poupança. 

Contudo, o Plano Real conseguiu estabilizar a moeda e já estamos vivendo há 26 anos com uma inflação sob controle, porém, ainda sofremos com as sequelas do longo processo inflacionário do passado.

Congelamento da poupança
Especialista avalia que muitos jovens ainda temem e falam sobre um possível congelamento da poupança. (Foto: Freepik)

No entanto, como o comportamento financeiro é preponderantemente aprendido em família, muitos jovens que nunca viveram sob a égide da inflação descontrolada, ainda guardam muitos comportamentos aprendidos com seus pais, que viveram a hiperinflação.

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Durante o processo inflacionário, o crédito para o consumo era quase inexistente. Quando a inflação foi controlada e o crédito voltou, encontrou pessoas totalmente sem educação financeira que se tornaram vítimas indefesas para o crédito concedido de forma indiscriminada.

Assim, a inadimplência ficou elevada e, para compensar, os agentes financeiros passaram a cobrar taxas de juros superlativas, sem paralelo em economias desenvolvidas.

Educação financeira no Brasil, já!

O descontrole financeiro, decorrente da falta de educação financeira, causa enormes transtornos para pessoas, famílias, empresas e, consequentemente, para o país. Assim, problemas financeiros e o superendividamento são causas frequentes de brigas em famílias e até causa divórcios.

Pessoas endividadas tendem a ter mais problemas também no trabalho, com dificuldades para se concentrar, porque estão esgotadas com os problemas financeiros. Isto acaba gerando doenças, acidentes de trabalho e até mesmo pedidos de demissões, para poder retirar as verbas rescisórias.

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Porém, quando alguém pede demissão com essa finalidade, acaba prejudicando a empresa, que perde funcionários e todo o investimento feito em treinamento. Assim, é consenso que o brasileiro tem baixa educação financeira e quase nenhuma cultura de investimentos, sendo prejudicial para ele mesmo e para o país.

Mas, como mudar este cenário?

Causas e efeitos da deseducação

O primeiro impulso da maioria de nós é jogar mais esta responsabilidade da educação financeira para a escola. Porém, sou muito cético a esta solução. Nossas escolas têm enormes deficiências para transmitir até mesmo o conteúdo básico da educação. 

É seguro afirmar que, alguns dos nossos alunos, particularmente aqueles das escolas públicas, saem do ensino fundamental e médio sem conseguir entender o que leem e com grandes dificuldades para fazer operações matemáticas básicas.

Além disso, ninguém pode transmitir o que não sabe. Será que nossos professores têm educação financeira para transmitir?

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Assim, acredito que a escola possa ser uma coadjuvante nesse processo, mas não a protagonista na tarefa de difundir a educação financeira. Mas, se muitas famílias estão despreparadas para transmitir educação financeira e a escola não consegue assumir sozinha este desafio, o que fazer?

Bem, venho trabalhando neste tema há quase três décadas. Em 2001, foi criada a Expomoney, a maior feira de educação financeira gratuita do país, que durante 13 anos levou um grupo de palestrantes a percorrer o Brasil difundindo educação financeira de qualidade.

Em 2003, criei a primeira disciplina de finanças pessoais em uma universidade brasileira e, a partir de então, várias outras universidades passaram a oferecer disciplinas nesta área e muitos estudantes de pós-graduação vêm pesquisando este assunto.

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Entre as minhas experiências, atuei durante 12 anos com educação financeira no maior banco público e também no maior banco privado brasileiro. E, atualmente, trabalho com geração de conteúdo de educação financeira para a corretora Warren.

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Ao longo desse tempo, dentro do sistema financeiro pude perceber como existem pessoas muito bem-intencionadas e preparadas para tratar deste assunto.

É preciso falar sobre isso

Também a imprensa tem feito sua parte. Hoje, quase todos os veículos de comunicação têm aberto vários espaços para a educação financeira. Este blog é um exemplo disso. Até a pandemia, eu tinha um quadro de educação financeira na NSC TV.

Outro campo extremamente promissor são as redes sociais. Atualmente, existem muitos influenciadores difundindo a educação financeira de qualidade, porém, como quase tudo que acontece na internet, entre as pessoas preparadas e bem-intencionadas existem outras que apenas querem se aproveitar para ganhar com os incautos.

Neste caso, também, a imprensa tem um papel importante e pode ajudar na depuração deste mercado. Com a minha experiência, percebo que a educação financeira é uma tarefa que precisa ser assumida por muitos atores. Temos avançado neste tema, mas ainda há muito para ser feito.

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Para finalizar, não podemos esquecer que o Brasil é um país de enorme desigualdade social. Para quem está na linha da pobreza a educação financeira é ter dinheiro, e os programas sociais são fundamentais.

Entretanto, a classe média precisa aprender: a importância da previdência oficial, a utilizar o crédito de forma consciente, a fazer uma reserva para emergência e, principalmente, a valorizar a educação como fator de progresso social.

E a classe alta, precisa aprender a fazer uma reserva de aposentadoria e questionar o paradigma de que mais consumo é mais felicidade. Enfim, o panorama é extremamente desafiador, todavia, não posso deixar de ser otimista com o futuro. Estamos avançando lentamente, no entanto, estamos caminhando na direção correta.

Jurandir Sell Macedo, doutor em Finanças Comportamentais
Jurandir Sell Macedo, doutor em Finanças Comportamentais (Foto: Divulgação)

*Jurandir Sell Macedo, doutor em Finanças Comportamentais.

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