Você está caminhando em direção ao trabalho, à escola, faculdade, supermercado, voltando para casa ou passeando na rua com o cachorro. Em uma ação que dura instantes intermináveis, alguém te surpreende, diz estar armado e rouba seu celular, carteira, relógio – o que estiver à mão – e foge. Um tipo de crime comum, difícil de evitar, normalmente impune e que, somente pelos registros da Polícia Militar de Blumenau, ocorreu 54 vezes na cidade em 2017, segundo levantamento feito pela reportagem do Santa.
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As vítimas foram assaltadas enquanto caminhavam em ruas de Blumenau entre o começo do ano e o dia 13 deste mês. O número tende a ser mais alto ainda, pois há quem registre ocorrência diretamente na delegacia e aqueles que sequer procuram as autoridades. Piores que a perda de alguns trocados ou um celular são os traumas sofridos por quem é roubado de maneira tão banal. É o que mostra o caso lembrado pela blumenauense Bianca Rech. Ela recorda a situação de perigo vivida pelo filho de 16 anos, que acabou sendo assaltado em plena Alameda Rio Branco às 12h de um dia de semana no mês passado.
– Moramos na região da Alameda, e ele tinha saído de casa e estava indo almoçar comigo no Centro. Veio um rapaz de bicicleta e pediu para ele entregar o celular desbloqueado e não olhar pra trás. Ele ameaçou, mas o meu filho não viu nenhuma arma – conta a mãe.
Não houve violência e o prejuízo foi apenas o valor de um celular, mas o crime levou toda a família a mudar hábitos. Depois do assalto, Bianca e o filho triplicaram os cuidados ao caminhar na rua, não andam mais com o celular na mão e mantêm um estado de atenção criado pelo medo de novos roubos.
Assaltos como o que ocorreu com o filho dela são os mais comuns na cidade: ladrão que faz menção de estar armado, rouba o celular, não usa violência e foge sem ser localizado. Nem a luz do dia ou a rua movimentada coíbem a ação dos bandidos. Nas 54 ocorrências registradas, 44 celulares foram roubados, enquanto em somente 15 casos alguma quantia em dinheiro parou nas mãos dos criminosos. A explicação é fácil: celulares que custam R$ 1 mil ou muito mais ficam frequentemente fora dos bolsos e bolsas dos pedestres, enquanto a carteira dificilmente terá mais que algumas notas. A prova é que, somando todos os valores roubados em dinheiro nas 15 ocorrências, R$ 3.072 foram levados por assaltantes. Esse é, mais ou menos, o valor de apenas um iPhone 7 novo.
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Uso do celular nas calçadas facilita ação de criminosos
Gerar distração ao caminhar na rua de olho na rede social ou respondendo uma mensagem no WhatsApp é o que a Polícia Militar procura evitar com orientações à comunidade.
– Esse é um tipo de roubo que o ladrão faz de acordo com a oportunidade, não é algo planejado. E ele vê essa oportunidade quando as pessoas pegam o celular e entram num mundo, esquecendo do que está ao redor. Perdem o senso de proteção. Tem que usar o celular na rua quando é necessário. Outra coisa é deixar ele à mostra no bolso, com metade do celular para fora. Assim acabam facilitando a oportunidade do bandido – avalia o comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar, o tenente-coronel Jefferson Schmidt.
Para o comandante, também é preciso coibir o crime de receptação, cometido por qualquer pessoa que compra um item roubado. Previsto no Código Penal e com pena de quatro anos de reclusão, a receptação é o que alimenta todo o encadeamento de pequenos furtos e roubos. Aquele celular novo que custa R$ 2 mil no mercado e que te ofereceram por R$ 500 provavelmente possui origem duvidosa e está tornando quem compra um criminoso também.
– Se tem tanto roubo de celular, é porque tem mercado. Quem compra um item roubado ou furtado fomenta o prejuízo de outra pessoa – afirma Schmidt.
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Para tentar coibir as ocorrências, a Polícia Militar explica que faz rondas estratégicas nos locais onde os roubos ocorrem com maior incidência. A região Central e a do bairro Victor Konder lideram o ranking de roubos, o que se explica pelo fluxo de estudantes e de trabalhadores nas ruas dos dois bairros o dia inteiro.
– O que fazemos é posicionar viaturas estrategicamente, rondas, abordagem de pessoas em atividade suspeita. É a presença para coibir. Prendemos muito também, mas encaminhamos e eles voltam depois. O ladrão não vai para cadeia por furto e roubo de celular – lamenta o comandante da PM.
Investimentos em viaturas e iluminação são caminhos
Se as rondas preventivas e a presença efetiva da Polícia Militar nas ruas são caminhos para reduzir a sensação de insegurança gerada pelos assaltos a pedestres, é necessário, logicamente, que a PM tenha viaturas rodando. E isso é um problema, visto que no mês passado o batalhão convivia com desfalque de carros e mais da metade da frota parada esperando conserto. Hoje a situação já é um pouco melhor, segundo o comandante Jefferson Schmidt.
Em média, 10 viaturas fazem a ronda pela cidade diariamente, um número mais adequado se comparado aos três veículos que chegaram a rodar na cidade no começo de fevereiro, mas menor que os 16 que Schmidt diz ter capacidade para botar na rua com o efetivo atual.
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Por meio de um convênio firmado entre a prefeitura de Blumenau e a PM no mês passado, o batalhão conseguiu também verba para adquirir três novas viaturas. O pedido já foi feito e a polícia aguarda o processo licitatório para a compra dos carros. Schmidt espera contar com o reforço na frota em dois ou três meses. Há também recurso para acelerar a manutenção das viaturas que aguardam conserto, além de um tipo de investimento normalmente citado pelo poder público municipal quando se fala em segurança: a iluminação. Mas isso realmente auxilia? O comandante da PM diz que sim:
– A cidade ajuda a segurança com mais infraestrutura, com ocupação para os jovens tirando eles das ruas, melhorando a iluminação… Onde o progresso chega, o crime diminui.