Se fosse possível colocar o natal em um potinho, na casa da família Ebert ele teria o cheiro do melado e do açúcar das bolachas decoradas e do talco que a bisavó Otília usava. Anna Lien e Julia Mei não a conheceram, mas vivem a tradição que começou com ela há mais de 60 anos, em um sítio na região Norte de Santa Catarina. Aos sete e aos 10 anos, nessa época as meninas dividem a atenção dispensada a celulares e bonecas com momentos de paciência e criatividade, como aqueles para enfeitar as bolachas de natal, incentivadas pela mãe, a empresária Cintia Ebert Huang, 47 anos. É uma forma de dar continuidade ao ritual da bisavó Otília com os oito filhos, em uma época em que não havia tecnologia, nem luz na casa do sítio, e os doces iam do forno à lenha para latas de alumínio.

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Saiba por que é importante estimular nas crianças o encanto do natal

– Lembro do gosto das bolachas com açúcar assadas no forno à lenha. É um sabor que não existe mais – reflete Ana Maria, 66 anos, filha de Otília e avó de Anna e Julia.

Do natal sem energia elétrica, com pinheirinho natural enfeitado de algodão, fios de anjo e velas, Ana Maria agora divide com a filha e as netas a emoção de se preparar para a data especial com dedicação. Todos os anos, novos objetos de decoração e enfeites para a árvore são comprados, para aumentar o acervo em branco e vermelho que colorem a casa da família a partir de novembro – e também a padaria da avó e o escritório da mãe. São atividades das quais todas participam, da escolha das peças ao local em que ocuparão na casa, reforçando entre elas o sentimento de que, mais do que presentes e festas, Natal é época de estar perto de quem ama.

Já faz alguns anos que Julia parou de escrever cartinhas para o Papai Noel. Elas eram deixadas em uma caixa de correio de shopping, o mesmo em que as irmãs fazem foto com o bom velhinho todos os anos, como uma forma de acompanhamento do crescimento. Anna ainda faz seu pedido, mesmo que a figura mágica que sai do Polo Norte em um trenó já esteja deixando de fazer parte do repertório de crenças da menina para dar lugar a uma outra concepção.

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– Papais Noéis são as pessoas muito boas, que têm muito amor, não é mesmo? – ensina Cintia à caçula.

Na lógica da pequena, a reflexão é rápida, e a menina dispara:

– Um dia também posso ser um, então?