Em uma humilde, mas ampla casa na rua Piauí, no bairro Bucarein, mora Alcino Simas, técnico da primeira equipe profissional do Joinville. Aos 72 anos, ele passa seus dias com a esposa Vera Regina Gomes Simas de maneira pacata e tranquila, o oposto da época em que gesticulava e gritava na beira do gramado do Estádio Ernesto Schlemm Sobrinho, o Ernestão.
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Vera é oito anos mais nova e, com a habilidade nata de uma ex-professora do ensino fundamental, ajuda a buscar na nebulosa memória de Alcino as histórias mais importantes de sua trajetória à frente do JEC.
O gentil senhor, pai de duas mulheres e um rapaz, tem dificuldade para lembrar de algumas coisas. Por hora, a conversa se encaminha para outro rumo, o da maçonaria, da época do banco em que era gerente, e das farras dos amigos do América com quem jogava futebol antes de se tornar treinador. No entanto, o amor pelo clube de cores vermelha, branco e preta jamais será esquecido.
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Alcino carrega na carteira o cartão de ex-atleta campeão, que dá acesso gratuito à Arena Joinville. Homenagem concedida pelo clube em função dos serviços prestados ao JEC, na década de 1970. O primeiro título estadual, dos 12 que têm o Joinville, teve o dedo dele.
Com 35 anos, em 1976, ele foi o homem que uniu os jogadores do América e do Caxias, até então rivais, para representar a cidade de Joinville em um Campeonato Catarinense.
O primeiro título não veio à toa. O Joinville, em 1976, ano de sua fundação, faria a melhor campanha em campeonatos estaduais de sua história. O time nasceu campeão após realizar 36 partidas – foram 21 vitórias, dez empates e apenas cinco derrotas, um aproveitamento de 72%.
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Alcino, recém-aposentado do futebol, foi quem comandou o time do Norte do Estado ao triunfo em duas finais consecutivas. A primeira foi contra o Figueirense, em Florianópolis.
Quando o time já comemorava o título, o Juventos do Rio do Sul entrou com uma ação na Justiça e obrigou o Joinville entrar em campo para disputar sua segunda final consecutiva, o jogo do desempate. No Estádio Olímpico, a casa do América, o atacante Tonho marcou o único gol da partida que deu o título ao Tricolor.
Dialeto de boleiro
Conhecer o futebol local foi ponto chave para que Alcino Simas tivesse os jogadores em suas mãos. Joel Mendes, ex-lateral direito, cinco vezes campeão como jogador do JEC e outras quatro como auxiliar de preparador físico, lembra que o treinador conhecia o dialeto da boleragem.
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-O Alcino, na época que era dono do meio-campo do América, já tinha enfrentado o Caxias diversas vezes. Isso, definitivamente, ajudou a nos conduzir para o primeiro título. Ele era muito bom no vestiário-, ressalta.
Para o ex-goleiro Raul Bosse, a sorte também pesou a favor do ex-treinador.
-Tínhamos um bom time, formado com os melhores jogadores das duas equipes (América e Caxias). O Alcino soube suportar a pressão e contou muito com a sorte-, comenta.
Se foi sorte ou competência, isso é o que menos importa agora. O título, sem dúvidas, marcou o nome de Alcino Simas na história do Joinville.
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