Para onde você acha que vai aquela sacolinha de lixo que saiu da sua cozinha e você deixou na calçada à espera do caminhão que faz a coleta? Se você mora em Joinville, a resposta óbvia é o aterro localizado no Distrito Industrial. Mas a realidade para a maioria de quase um milhão de habitantes dos municípios das regiões Norte e Planalto Norte é bem diferente. Há lixo viajando mais de cem quilômetros para chegar ao destino correto.

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Essa viagem fez com que aquelas imagens de famílias inteiras catando restos em montanhas de lixo cercadas por urubus ficassem no passado. Mas o problema do destino dos resíduos continua tirando o sono dos gestores públicos e técnicos que trabalham com o assunto. No Norte de Santa Catarina, dos 26 municípios que ficam entre o litoral e o Planalto Norte, só cinco têm soluções caseiras.

Em alguns casos, como o de São Francisco do Sul, os resíduos rodam por mais de cem quilômetros até o aterro de Brusque, no Vale do Itajaí. Na maioria das cidades, pelo menos dois caminhões fazem o trajeto diariamente, o que significa que pelo menos 40 veículos carregados com resíduos da coleta domiciliar percorrem as rodovias da região todos os dias.

Essa situação, que não é a ideal, já melhorou muito a partir da implantação da lei 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A legislação determinava que até 2014 todas as cidades deveriam encontrar uma saída para seus resíduos. Nada de lixões ou aterros clandestinos. Como os municípios não tinham dinheiro para construir lugares adequados, a solução foi buscar empresas privadas ou fazer convênios com outras cidades.

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Ao secretário de Obras de Balneário Barra do Sul, Sérgio Luiz da Glória, por exemplo, cabe a responsabilidade de garantir que dois caminhões que fazem a coleta de lixo na cidade sejam enviados para Joinville diariamente. A cidade envia, em média, 11,8 toneladas de lixo por dia para o aterro joinvilense.

– Tudo depende do volume. Às vezes, é possível reunir dois dias de coleta. Em alguns dias de julho, por exemplo, houve cargas com quase 20 toneladas – diz.

A construção de um aterro sanitário para uma cidade do porte de Balneário Barra do Sul ou Araquari, por exemplo, pode custar até R$ 15 milhões – uma área com vida útil de 15 a 30 anos -, mas envolve outras questões que precisam ser consideradas pela Prefeitura, como encontrar um espaço adequado, longe de áreas zonas urbanas, de cursos de água ou de áreas ambientais protegidas por lei.

A estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) é de que cada município tenha aplicado em média, em 2014, R$ 120 por habitante na estruturação, coleta e destinação de resíduos e outros serviços de limpeza urbana. Isso significa que uma família com cinco pessoas teria de pagar R$ 600 por ano para que o valor investido fosse recuperado, uma situação que não existe em nenhuma das cidades. Ou seja, o volume de recursos usados em um serviço essencial não é nem de longe coberto pela taxa.

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Mesmo assim, a situação dos municípios de Santa Catarina é considerada modelo para o País, já que praticamente 100% das cidades já conseguiram encontrar uma solução para a destinação correta do lixo, mesmo que longe de casa.

Setor avança, mas ainda tem leis a cumprir

Para o diretor-presidente da Abre-lpe, Carlos Roberto Vieira da Silva Filho, as metas da legislação não foram atingidas e ainda há um longo caminho a percorrer.

– Os avanços vêm sendo paulatinamente implementados. É importante destacar que o grau de conscientização dos municípios para com os termos da Polícia Nacional de Resíduos Sólidos já atingiu um nível de maturidade elevado, porém vários entraves para a aplicação da lei ainda são notados – explica.

Segundo o engenheiro Luiz Antônio Correa Weinand, da Ambiental, empresa responsável pela coleta e a destinação do lixo em Joinville e em outras cidades do Estado, a legislação é que está fora da realidade.

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– É uma lei que não tem condições de ser aplicada em nenhum lugar do mundo, nem na Suécia. Ela diz o que os prefeitos têm de fazer, mas não há dinheiro para isso – diz.

Um dos pontos mais criticados é o consumo reverso, que prevê a devolução de embalagens e produtos para a indústria que os fabricou para serem reciclados.

– Na prática, ninguém consegue fazer – resume.

CIDADES COM COLETA SELETIVA

– Joinville

– São Francisco do Sul

– Campo Alegre

– São Bento do Sul

– Garuva

– Itaiópolis

– Itapoá

– Jaraguá do Sul

– Mafra

– Porto União

– Rio Negrinho

– Schroeder