Faltar ao exame do Enade (prova aplicada pelo governo federal que avalia os cursos de graduação do país) pode custar o diploma ao universitário. Mas nas regras nada consta sobre deixar as questões em branco ou rasurar as respostas. Resultado: brecha para que estudantes contrários ao formato da avaliação boicotem o sistema.
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De ano em ano, segundo levantamento do Ministério da Educação (MEC), o índice costuma variar entre 1,5% e 3% do total que deveria passar pelo teste. Dos 15 cursos da UFSC submetidos à última edição, um se enquadra no percentual. Em carta-aberta, alunos do Jornalismo admitiram o boicote. Atitude que fez o curso que até o ano passado era conhecido como um dos melhores do Brasil amargar mísero 1,0 – a pior nota na história da graduação.
:: “Fica muito ruim para o aluno”, diz coordenador do curso da UFSC
Na UFSC o boicote ao Enade não é nenhuma novidade. Em 2010 foram os estudantes de Medicina e de Serviço Social e em 2011 os alunos de Pedagogia e de Geografia. Mas, de acordo com a Pró-reitoria de Graduação da UFSC, esta foi a primeira vez que os estudantes admitiram a ação. O Centro Acadêmico, formado por estudantes, antecipou em abril que a pontuação seria ruim ao publicar uma carta confirmando que burlaram o exame. Ontem, dois dias depois da divulgação oficial do Ministério da Educação sobre a avaliação, eles fizeram novo pronunciamento.
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Atitude foi tomada para forçar vistoria do MEC
Gabriel Coelho, representante do Centro Acadêmico de Jornalismo, explica que a atitude foi tomada para forçar uma visita de fiscais do MEC ao curso. Isso porque a nota do Enade representa 55% do Conceito Preliminar de Curso (CPC), que decreta a avaliação final de cada graduação. As que obtiverem pontuação 1,0 e 2,0 são automaticamente incluídas no cronograma de vistoria – cursos com notas entre 3,0 e 5,0 são considerados satisfatórios e por isso não precisam passar pela fiscalização do MEC.
– Queremos colocar em discussão o modelo de avaliação. De que adianta colocar plaquinha com nota máxima no corredor e achar que está tudo bem quando na verdade temos uma grade curricular de 1996 defasada. Ou seja, queremos uma avaliação que mostre a realidade de cada curso e não mascarada – argumenta Gabriel.
Os ciclos do Enade ocorrem a cada três anos. A última avaliação dos cursos de Jornalismo foi em 2009, quando a graduação da UFSC ficou com 5,0. O resultado divulgado segunda-feira passada é referente às provas feitas em novembro do ano passado. A edição deste ano será realizada em 24 de novembro.
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Entidade pede rigidez no teste
Em uma rápida pesquisa na internet é possível encontrar até cartilhas sobre como boicotar o Enade. A maioria são páginas gerenciadas por universitários sobre como burlar o sistema. A decisão dos estudantes de Jornalismo da UFSC partiu de conversas com alunos de outras instituições. Eles contam que foi durante o Encontro Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecom) que surgiu a ideia. Foram três reuniões antes da prova, sugerindo que os 58 convocados para o teste deixassem as questões em branco. Como eles respondem, não foram os primeiros nem os únicos do país.
No mês passado, quando o MEC abriu o resultado do Enade 2012 para as instituições de ensino, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular encaminhou ao governo uma carta de repúdio ao exame. A entidade destacou que a falta de compromisso dos estudantes convocados prejudica a avaliação. E descreve que em algumas provas havia até receita de bolo.
A entidade sugeria que a falta de compromisso estaria ligada à inexistência de punição aos universitários e comparava o Enade ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujas notas são essenciais para ingressar em universidades federais e aderir a programas como o ProUni e o Ciências sem Fronteiras. No Enade somente a nota geral do curso é avaliada, não há a divulgação da pontuação individual do aluno – o que dificulta inclusive estabelecer o índice real de boicote à prova.
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O MEC, porém, classificou Enade e Enem como exames de objetivos distintos e não se manifestou sobre a possibilidade de mudanças no sistema de avaliação.