De camisa social azul, o presidente da Tigre, Otto von Sothen, recebeu na manhã desta quarta-feira a imprensa joinvilense para a primeira entrevista desde que assumiu o cargo. A conversa iniciou-se com todos em pé. E avançou para um bate-papo sentado, à medida que as perguntas sobre negócios e mercados se sucediam.

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Filho de diplomata da Alemanha (que atuou no Rio de Janeiro por muitos anos), e de mãe brasileira, o executivo ocupa cargos de presidência há 15 anos.

– Entendo de processos e de pessoas, mas não do negócio (tubos e conexões). Por isso, estou perguntando bastante. Mas acho que esta parte técnica se aprende rápido – diz animado.

Recém-chegado à empresa – o executivo assumiu o cargo em 2 de setembro -, Von Sothen ainda não conseguiu passar muito tempo em Joinville. Uma das primeiras missões dele é conhecer todas as unidades da Tigre até o próximo Natal – tarefa acompanhada pelo vice-presidente do conselho de administração, Felipe Hansen. No Brasil, falta ir apenas para Manaus.

– Quando a empresa é sadia, como no caso da Tigre, é possível analisar com mais tempo. Por isso, estas viagens têm como principal objetivo tranquilizar, conhecer e ouvir de perto as pessoas. A empresa vai bem, não faria sentido eu chegar fazendo mudanças.

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Nesta entrevista, ele fala sobre sua visão em relação ao novo desafio, a cidade e o mercado.

Processo de contratação

As negociações entre Otto von Sothen e a Tigre duraram cerca de 12 meses até que, em agosto, ele foi anunciado como presidente da multinacional. O contrato com o antigo presidente, Evaldo Dreher, era de cinco anos, e acabava em 2013. Von Sothen explica que um processo como este é complicado e, por isso, a família buscou conhecer bem quem cuidará do seu patrimônio.

– Três coisas me conquistaram na empresa: a família, as pessoas e a força da marca. Não é fácil, principalmente em segmentos como o que a Tigre atua, que o cliente peça o produto pelo nome.

Joinville

Antes de ser contratado pela Tigre, Von Sothen nunca havia estado na cidade e, apesar de ainda não estar morando em Joinville, diz já estar gostando.

– É muito diferente de São Paulo. Qualidade de vida. Nos oito minutos que levo do meu hotel até aqui (prédio da administração da Tigre), eu passaria apenas dois sinaleiros.

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Marca e inovação

Sobre as primeiras impressões em relação à Tigre, o executivo afirma estar impressionado com a força da marca e o processo de inovação da empresa, que ele considera ser “fantástico”.

– Prova disto é que 15% das vendas vêm de produtos lançados nos últimos 24 meses – afirma o executivo.

Internacionalização

Questionado sobre a continuidade ou não do processo de internacionalização da Tigre, o presidente afirma que este continua, mas destaca que há muito espaço para crescimento também no Brasil.

– Hoje, 75% da receita são originários dos negócios do mercado interno. A tendência é de que a participação internacional aumente. Temos forte presença no Paraguai, Bolívia, Argentina. No Peru, estamos crescendo. Lá há uma nova fábrica em construção.

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Em relação ao desempenho esperado para este ano, Von Sothen afirma que os números devem fechar dentro da expectativa.

Abertura de capital

– A Tigre está em uma situação de caixa bem confortável e com um nível de endividamento muito baixo. Para operar como está, não precisa fazer nada. Mas se quisermos crescer, isso requer volume maior de financiamento. A Tigre pode escolher qual mecanismo de financiamento prefere adotar. A abertura de capital é um deles. Há algum tempo, a empresa tinha iniciado este processo, mas parou por este não ser o momento. Conhecemos as condições do mercado acionário.

Construção civil

Como ponto positivo do setor da construção civil em relação ao segmento de bebidas, com o qual trabalhava antes de assumir a presidência da Tigre, o executivo destaca a desconcentração no varejo. A pulverização de clientes é grande. É um ponto de oportunidades. Já como negativo, ele ressalta a carência de mão de obra de qualidade.

– E isso em período de pleno emprego. A indústria, de modo associativo, precisa agir nesse ponto e elevar a qualificação profissional. Já tem feito isso. E precisa fazer ainda mais.

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Concorrência

– A concorrência sempre é boa e te obriga a ter um olhar atento. A Amanco repetiu o modelo de sucesso da Tigre. Não fez nada de novo. Vender barato é muito fácil. É o que eles fazem. Se você me perguntar se vamos baixar preços, a resposta é não. Planejamos ter mais presença em mais pontos de venda.

Mercado nacional

– O Brasil vive um cenário positivo, não a curto prazo, mas a médio e longo. No curto prazo, sabemos das dificuldades. O principal fator para os negócios do setor da construção não evoluírem mais é o baixo percentual de crédito imobiliário, em relação ao PIB, que é só de 8%. Por isso, há muito a avançar, ainda. Diferentemente do que pensam alguns, não há bolha nenhuma no setor. O governo fez um bom trabalho na diminuição das diferenças sociais, mas as pessoas com renda mais baixa precisam de crédito mais barato.

Gestão

– O mundo está ficando chato. Boa parte das empresas – inclusive multinacionais – trata as pessoas de maneira errada. Trata como crianças, indicam o que tem que ser feito sem transparência, sem explicar a importância do funcionário para o resultado. É preciso tratar as pessoas como adultos. As empresas são mais sustentáveis quando os funcionários são bem cuidados.