A polícia norte-americana tem usado um dispositivo singular para combater os recentes protestos contra o racismo e a violência policial nos Estados Unidos: o LRAD, popularmente chamado de “canhão sonoro”. Embora pareça curioso, o LRAD (sigla para “Long Range Acoustic Device”, algo como “dispositivo acústico de longo alcance”) pode ser uma arma cruel: dependendo do volume e da frequência, ele pode causar dor física, desorientação e até mesmo danos permanentes a quem for exposto ao som. Mas como isso é possível?
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Desenvolvido no início dos anos 2000 para ser usado pelo exército dos Estados Unidos, o LRAD produz sons de alta frequência, direcionados para um foco específico, e a volumes extremos – e pode ser usado como meio de comunicação, já que pode fazer com que uma mensagem seja ouvida de muito longe, por exemplo, e com maior precisão geográfica do que no caso de um alto-falante comum. O equipamento conta com um microfone, um gravador, e aquilo que é chamado de “som de dissuasão”, ou de “intimidação”: frequências e volumes sonoros que são especialmente dolorosos para a audição humana.
O site Pitchfork, que no último final de semana publicou um artigo sobre o LRAD, escreve que “é verdade que a polícia normalmente usa o LRAD para fazer anúncios e dar ordens, sem usar o ‘som de intimidação’; mas ele sempre carrega a possibilidade de ser usado como arma. É como uma pistola no cinturão do policial: a presença de um LRAD em um protesto é sempre uma ameaça implícita.” Nos últimos dias, desde o estouro dos protestos desencadeados pelo assassinato de George Floyd, relatos do equipamento sendo usado no modo de “intimidação” foram publicados nas redes sociais em cidades como Portland, Colorado Springs, San Jose, Fort Lauderdale, Chicago e Nova York.
Em humanos adultos, sons entre 120 e 140 decibéis causam dor – 120 decibéis, para comparação, é o som produzido por um avião a jato. O LRAD usado pela polícia norte-americana tem a capacidade de produzir sons a até 137 decibéis.
Os efeitos variam de pessoa para pessoa, e também de acordo com o tempo de exposição e a distância que a pessoa atingida estava do LRAD no momento em que o som foi produzido; mas podem incluir um zumbido nos ouvidos que pode durar por dias, dores de cabeça, náuseas, tontura e perda de equlíbrio. Casos mais graves podem provocar até mesmo vômitos e sangramento pelas orelhas – este último, um sinal claro de que pode haver danos permanentes à audição.
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O vídeo abaixo mostra o LRAD sendo usado em um protesto em Pittsburgh em 2009 – abaixe o volume dos seus fones de ouvido ou de sua caixa de som antes de dar play:
O artigo ainda recomenda que quem estiver planejando participar de um protesto leve protetores de ouvido consigo – protetores específicos; e não fones de ouvido, por exemplo: mesmo os fones que contam com sistema de cancelamento de ruídos tendem a ser mais efetivos contra sons de baixa frequência, e são inúteis contra os LRADs.
Para se proteger no caso de a polícia acionar o equipamento, é bom sair da faixa de alcance do som: como o LRAD direciona o som para um ponto específico, o melhor a fazer, se você estiver de frente para um, por exemplo, é se afastar para a direita ou para a esquerda, e não apenas para trás. Se esconder atrás de paredes de tijolo e concreto também é uma boa ideia, uma vez que superfícies rígidas ajudam a defletir e abafar o som.