Advogados criminalistas, eles tinham como prerrogativa da profissão garantir os direitos de seus clientes antes e depois da prisão. Circular em presídios e ter contato com os acusados atrás das grades era parte de uma rotina comum a quem atua na defesa legal.
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Um ponto obscuro nessa relação de confidências colocou um grupo de cinco advogados catarinenses na condição de suspeitos. Investigações indicam que eles seriam mensageiros da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC), supostamente levando e trazendo informações privilegiadas para dentro e fora dos presídios.
Mas, apesar de detidos, Gustavo Gasparino Becker, Francine Bruggemann, Simone Vissotto, João de Souza Barros e Fernanda Fleck Freitas não levam a mesma vida dos clientes que defendiam. Como advogados, têm o direito de ficar sob guarda do Estado-Maior até eventual condenação em última instância. Com essas cinco prisões, o 8º BPM vive uma situação inusitada de abrigar seis advogados presos (o sexto é Júlio Cesar Vargas, condenado por tráfico de drogas).
Transferência
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Quatro deles foram transferidos para o 8º Batalhão da PM em Joinville no final da noite da última terça-feira. Apenas Fernanda, presa em janeiro e denunciada pela suspeita de participação na morte da agente prisional Deise Alves, já estava no batalhão desde o dia 13. Ela ganhou a companhia de Francine e Simone na mesma cela.
Na verdade, o espaço mais parece um alojamento: tem mesa, camas para as três, além de televisão, banheiro e rádio. As janelas, segundo o comandante do 8º BPM, tenente-coronel Eduardo Luiz do Valles, não têm grades porque são pequenas.
O confinamento de João de Souza e Gustavo ocorre em uma sala mais parecida com uma cela comum, de oito metros quadrados. Tem grades nas janelas, mas também banheiro, rádio e televisão. Não há nada que impeça os advogados de conversarem entre eles.
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Só não há contato entre os homens e as mulheres. Banho de sol é permitido desde que haja sol, das 9 às 11 horas, no pátio do batalhão. No fim de semana, o direito é concedido das 14 às 16 horas. Há revezamento para que os homens e as mulheres não se encontrem.
– Nesses momentos, a vigilância continua permanente -, conta Valles.
Alimentação
As refeições dos advogados são as mesmas servidas aos policiais, três vezes ao dia. Arroz com feijão, carne, salada e outros alimentos de uma dieta comum. Comida de fora também pode ser entregue pelas visitas – elas ocorrem somente no horário de banho de sol, com aviso prévio.
Exceção é o acesso dos advogados que defendem os colegas de profissão detidos. É liberado das 8 às 19 horas. Como a prisão dos cinco é temporária, eles podem ser liberados em até um mês. Por outro lado, a Justiça também pode converter a prisão em preventiva, garantindo o confinamento por tempo indeterminado.
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Rotina alterada
A rotina no 8º BPM, reconhece o comandante Eduardo Luiz do Valles, muda principalmente com a chegada dos últimos cinco advogados.
– Muda porque eles são suspeitos de pertencerem a uma organização. É diferente de quem comete um crime sozinho. Isso mexe com nossa rotina, nos deixa mais atentos -, garante.
A chegada deles exigiu um reforço na segurança, diz o comandante. Há mais restrições no acesso das visitas e o contingente policial tem homens extras para vigiar os detentos. O aparato policial e a vigilância constante, completa Valles, não dão margem a condutas inapropriadas.
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Todas as manifestações dos advogados detidos, como um pedido de remédio, são feitas por meio da corregedoria do batalhão. Depois, o pedido é formalizado ao comando.
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