Os níveis altos de colesterol no sangue podem acarretar problemas vasculares cardíacos, cerebrais entre outros. Frequentemente tido como uma disfunção na saúde de pessoas adultas, também tem sido um importante fator na avaliação da saúde de crianças de dois a dez anos. Entre os fatores relacionados à doença, está o aumento da obesidade infantil e doenças como diabetes tipo 2 e hipertensão.
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– A obesidade infantil é visível. A hipertensão arterial pode ser medida. Porém, o diabetes tipo 2 e a dislipidemia familiar (problemas com colesterol) só podem mesmo ser avaliados nessa faixa de idade através de exames rotineiros, baseados em determinados critérios estabelecidos – defende o pediatra Moises Chencinski.
Segundo o especialista, de toda a gordura que ingerimos na alimentação diária, 90% vem na forma de triglicérides e apenas 10% como colesterol. Isso explica, por exemplo, porque a dieta ou a reeducação alimentar conseguem diminuir os níveis de triglicérides, mas não apresentam a mesma eficácia na redução dos níveis de colesterol, sendo necessário, muitas vezes, um tratamento medicamentoso.
O colesterol é um componente importante de nosso organismo. Cerca de 65 a 70% do colesterol que temos é produzido pelo nosso fígado e apenas de 30 a 35% vem da nossa alimentação.
Nem todo colesterol é ruim
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O colesterol é transportado no nosso corpo pelo sangue por proteínas que se ligam a ele, conhecidas como LDL e HDL. Chencinski explica que todo colesterol que vem do fígado é transportado pelo sangue na forma de LDL e é levado para os órgãos para serem utilizados para suas funçoes.
– Quando há um aumento desmedido de colesterol no sangue, as células não conseguem captar o excesso. Assim, o LDL colesterol se deposita nas paredes dos vasos, diminuindo o fluxo de sangue através deles, levando à arteriosclerose com suas consequências. Esse é o colesterol ruim – explica o pediatra.
O LDL pode ser aumentado por características familiares, genéticas, por obesidade, por hipertensão, sedentarismo, tabagismo e também por hábitos alimentares ruins.
– Já o HDL colesterol capta o excesso que está no sangue, leva-o de volta ao fígado e o elimina através da bile ou pela forma natural ou como sais biliares. Dessa forma, quanto maior nossa taxa de HDL, mais protegidos ficamos contra a arteriosclerose. Esse é o colesterol bom – afirma o médico.
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Hipercolesterolemia: um problema que pode vir “do berço”
Até há algum tempo, apenas os obesos eram “culpados” quando o assunto era colesterol em excesso. E esse quadro acometia principalmente a faixa entre adultos jovens e a terceira idade. No entanto, com os avanços na transcrição do DNA, estabeleceu-se um novo panorama.
– Todos nascem com genes que podem desencadear problemas de colesterol. De acordo com a alimentação da gestante e da criança até os de dois anos de idade, o gene pode manifestar sua capacidade de desenvolver determinadas características – diz Chencinski.
Numa família em que não há nenhum caso de problemas com colesterol, mas se a gestante faz uma alimentação inadequada e nos dois primeiros anos de vida da criança – com frituras, gordura, pobre em frutas e fibras, por exemplo – ocorre o estímulo à ação do gene que vai fazer com que essa a criança passe a ter seus níveis de LDL (o colesterol ruim) aumentado.
– E essa criança não só pode ter que conviver com esse problema pelo resto de sua vida, como também passa a transferir essa característica genética a seus descendentes. Assim surge a sombra de um quadro, cada vez mais frequente, que vem atingindo crianças cada vez mais novas: a hipercolesterolemia familiar – afirma o pediatra.
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Por conta desse aumento nos índices de obesidade (adulta e infantil) dos últimos 20 anos e do número alarmante de crianças com doenças de adultos, a Sociedade Brasileira de Cardiologia divulgou, em agosto de 2012, a primeira Diretriz Brasileira de Hipercolesterolemia Familiar (HF).
Desde então, a triagem de perfil lipídico passa a ser rotineira entre dois e dez anos de idade quando houver:
– História de pais ou avós que tiveram problemas arteriais antes de 55 anos no sexo masculino ou 65 anos no sexo feminino;
– Pais com níveis de colesterol total acima de 240;
– Fatores de risco na criança associados como hipertensão, obesidade, diabetes, ter nascido pequeno para a idade gestacional, seguir uma alimentação inadequada e rica em gorduras saturadas;
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– Crianças em tratamento de doenças ou que usem drogas que aumentem as taxas de lípides (tratamento de HIV, hipotireoidismo, etc.);
– Tenham outras manifestações aparentes de problemas de colesterol.
A diretriz recomenda que acima dos dez anos, com ou sem esses fatores, toda criança deve ter dosado seu colesterol total pelo menos uma vez. Chencinski lembra que os valores de colesterol total e frações para crianças e adolescentes são diferentes dos valores dos adultos.