Os resíduos orgânicos correspondem a 52% do lixo gerado nas cidades no Brasil. Para a maioria das pessoas, este material é ensacado e depositado do lado de fora das casas, à espera do caminhão que os levará para despejo no aterro sanitário. Nos últimos anos, no entanto, a conscientização sobre a sustentabilidade do planeta tem levado joinvilenses a reaproveitarem também os restos de alimentos para fazer compostagem.

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O processo que gera material com potencial de fertilização do solo é feito em caixas e latões que não ocupam mais do que um metro quadrado da casa. Eles servem como base para as composteiras, nome dado ao local onde funcionam os sistema de reciclagem dos resíduos orgânicos em módulos, nos quais microorganismos e minhocas transformam restos de alimentos em adubo. Elas são usadas, principalmente, em apartamentos e em casas pequenas, onde não há possibilidade de se cultivar uma grande horta.

— A compostagem já existe há muitos anos, nossos avós já faziam na hortinha. Eles jogavam as cascas na terra e isso acontecia naturalmente, em um processo natural de decomposição na terra. Mas as pessoas acabaram indo morar em apartamentos, e aí o que a gente faz? Coloca tudo em um saco de lixo e manda para o aterro — diz Arthur Rancatti, um dos organizadores da Semana Lixo Zero, que começou na última sexta-feira e vai até a próxima segunda-feira, com programação em vários horários e em diferentes locais de Joinville.

Arthur é um dos joinvilenses que adaptou um pequeno espaço da casa para receber uma composteira. Ela fica na varanda do apartamento, e ele garante que não faz sujeira nem produz cheiro ruim: é como ter um animal de estimação que precisa ser alimentado – nesse caso, com restos de alimentos.

— A composteira é muito fácil de operacionalizar e é uma tecnologia social, porque você pode pedir baldes de manteigas vazios nas padarias, fazer os furos com uma furadeira e pronto. Com R$ 20 você já pode começar a compostar — afirma Arthur.

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Compostar para salvar o meio-ambiente

Atualmente, o aterro sanitário de Joinville, que está localizado em uma área de 400 mil metros quadrados, recebe 12 mil toneladas de resíduos sólidos por mês. Destes, cerca de 10 mil toneladas são de lixo domiciliar. Em uma entrevista ao jornal A Notícia em setembro, o gerente regional da Ambiental, Luiz Antônio Weinand, estimou que o aterro possui capacidade para receber o lixo de Joinville por apenas mais cinco anos e que, para aumentar a vida útil do local em 15 anos, há planejamento de expandir o terreno em mais 100 mil metros quadrados.

Parece um desafio grande demais para ser solucionado com composteiras – para Weinand, uma alternativa seria a construção de usinas, como está começando a ocorrer em Curitiba, no Paraná. Mas Arthur Rancatti lembra que a responsabilidade sobre o lixo não é apenas do poder público.

— A Política Nacional de Resíduos Sólidos fala que o gerador é responsável pelo seu resíduo. As indústrias já tem esse compromisso, ninguém bate na nossa casa para fiscalizar o que estamos fazendo com o nosso lixo. Por isso, temos que pensar nessa questão de que “se eu gerei, eu sou o responsável por tentar dar o melhor destino para o meu resíduo” — avisa ele.

A separação e o reaproveitamento do lixo orgânico que pode ser separado do que não é reciclável (como o lixo do banheiro, por exemplo) ainda contribui para evitar o efeito estufa. Além dos custos de transporte, que emitem gases, a decomposição inadequada de resíduos orgânicos gera chorume, com a emissão de metano na atmosfera, e favorece a proliferação de vetores de doenças.

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— Podemos parar de inutilizar tantos espaços com lixo, porque não vamos conseguir fazer mais nada nessas áreas, não tem mais como construir casas ou plantar uma floresta lá depois, são áreas degradadas — defende Arthur.

Como fazer sua composteira em casa:

Esta técnica reutiliza baldes de 15 quilos de margarina ou manteiga, geralmente encontrados em cozinhas de restaurantes e padarias. A composteira caseira é formada por três baldes de plásticos empilhadas e interligadas por pequenos furos feitos ao fundo.

1: Lave bem os baldes para retirar os resíduos gordurosos da margarina, que são prejudiciais ao processo de compostagem.

2: Faça diversos furos no fundo de dois dos baldes. O ideal é usar uma furadeira com uma broca 6mm para aço, que não deixa rebarbas no plástico.

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3: Faça furos menores, com broca de 3mm ou menor nas laterais superiores dos três baldes, para que o oxigênio penetre na caixa, e também em uma das tampas, a que ficará no topo da composteira.

4: O centro das outras duas tampas devem ser retirados para que as minhocas possam subir e descer livremente pela composteira. Você pode deixar a borda deles para funcionar como suporte para que o balde superior fique suspenso.

5: Instale uma torneirinha no fundo do último balde, que servirá para escoamento e armazenamento do chorume, líquido formado durante o processo de decomposição do material orgânico.

6: No balde de cima, coloque a matéria vegetal seca (galhos, folhas secas) que servirão como dreno.

7: Acomode os resíduos orgânicos em um montinho, sem espalhá-los, e cubra-os completamente com mais matéria vegetal seca, para evitar incidência de moscas, larvas e mau cheiro. Se quiser colocar minhocas na composteira, para acelerar o processo, elas devem ser colocadas entre a primeira etapa de matéria vegetal e os resíduos orgânicos, com terra.

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8: Quando a caixa de cima encher, ela deve ser trocada com a caixa do meio. No momento da troca, esvazie e lave a caixa de baixo, que é a coletora de chorume.

9: Quando a caixa de cima encher também, é o momento de tirar o adubo dela para abrir espaço para mais resíduos orgânicos, e fazer a troca de posição das caixas novamente.