Talvez, como um bom pai, Maicon Tenfen não admita que Quissama – O Império dos Capoeiras seja o seu filho preferido. Mas além de ter incluído o professor e escritor entre os 10 finalistas do último Prêmio Jabuti na categoria juvenil, o livro lançado em 2014 vai ganhando aos poucos cara de projeto multimídia. No futuro, a história pode ser adaptada para uma série de animação. O que já é realidade: Quissama acaba de virar um jogo de tabuleiro (ou boardgame), arrecadando quase o dobro dos R$ 17 mil pedidos em um financiamento coletivo pela Internet para ser produzido.

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E foi para aprender a jogá-lo que eu passei algumas horas na Biblioteca da Furb semana passada. À mesa, cinco adversários: o próprio Maicon, o também professor Ricardo Spinelli, que desenvolveu todo o jogo, os amigos Carmelo Perotto Zocoli e Fabrício Bittencourt e eu – um cara que, quando criança, adorava jogar War, Banco Imobiliário e Jogo da Vida, clássicos da infância nos anos 80 e 90, mas que (ainda) andava imune à nova febre dos boardgames, um hobby que atrai cada vez mais fãs em todo o mundo. Por enquanto…

O jogo se passa no Rio de Janeiro, no ano de 1868. No tabuleiro há praças, comércios, um ministério e um gueto. Quissama é um escravo foragido que está em busca da mãe, Bernardina. Outros personagens, algumas reais (como o o escritor José de Alencar, a Princesa Isabel e o imperador Dom Pedro II), disputam objetivos diferentes.

Em apenas duas partidas, ficou claro, mesmo para um principiante como eu, que o jogo tem uma grande rejogabilidade: quando um pode ser jogado várias vezes sem repetir o mesmo caminho.

– Senhor dos Anéis, por exemplo, é um jogo super bem bolado, mas que segue sempre o mesmo caminho para ser vencido. Aí você enjoa depois de um certo tempo – exemplifica Ricardo.

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As regras de Quissama são simples, mas permitem uma série de reviravoltas. As oito personagens precisam ser “compradas” com cartas ao longo do jogo, mas também podem ser “roubadas”, mudando toda a estratégia de uma hora para a outra. Na primeira partida, Carmelo, quietinho, surpreendeu a todos e venceu. Na segunda, eu achava que estava prestes a ganhar, depois Maicon chegou muito perto e voltou à estaca zero. No final das contas, Ricardo fez juz ao fato de ter criado o jogo e comemorou.

Em um universo onde celtas, vikings e outras tribos costumam prosperar, jogar um jogo tão centrado na história e cultura do Brasil é uma experiência bem diferente _ ainda mais com o design e ilustrações de Rubens Belli. Ricardo, que estreou como desenvolvedor, também acertou em cheio no objetivo de criar algo que atraísse novatos e gamers mais experientes (fez test drives com alemães, um povo que ama jogos de tabuleiro).

– Ele também traduziu bem a essência do livro, com os personagens e cenários. Você não precisa ler o romance para jogar, mas se o fizer vai ver o jogo de outra maneira – indica Maicon.

Enfim, eu fui fisgado. Alguém afim de jogar neste fim de semana?