– E aí, a festa está boa?

Do outro lado do balcão, um homem com seus 40 anos, de chapéu, voz embargada e aquele olhar típico de quem já tomou vários chopes, fica pensativo. E devolve:

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– Essa pergunta que você me fez é f…

A resposta vai muito além das conversas que mais tenho nesta 33ª Oktoberfest. Elas geralmente dizem respeito à cor da salsicha (branca ou vermelha?), ao tipo da mostarda (amarela ou escura?) e à diferença entre os lanches que são servidos na Wursthaus, onde estou trabalhando nos finais de semana da festa.

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::: Leia Mais::: Mais de 66 mil pessoas passaram pela Oktoberfest no sábado

Cerca de 50 pessoas foram contratadas temporariamente pelo Restaurante-Escola do Senac para trabalhar na casa que vende salsichas, no Setor 2, e na que vende cucas, strudels, waffles e cafés, localizada na Praça de Alimentação. Ao todo, a organização estima que mais de 3 mil pessoas trabalhem nos dias mais movimentados da festa. É gente das mais variadas idades, profissões e experiências atuando sem que o festeiro perceba toda a logística e a complexidade envolvida em servir milhares de refeições nesses 19 dias.

Estou aqui porque a minha curiosidade de jornalista (e estudante de Gastronomia) foi mais forte do que o medo do cansaço em trabalhar até a festa acabar. Do balcão, vejo a Oktober passar por mim com seus trajes típicos, turistas empolgados, famílias, grupos de adolescentes, casais que se formam em segundos ou parceiros de uma vida toda. Vejo as coreografias, a loucura dos sábados, a tranquilidade dos domingos. Gringos desajeitadamente carregando canecos, cariocas pedindo emprego e jurando que não querem voltar para casa, mineiros impressionados com a ardência do molho curry e da mostarda escura.

É uma experiência antropológica interessante. No atendimento, a gente lida com quem se mantém educado até quando o álcool tomou conta do corpo e com aqueles não tão legais assim. Tem gente que não joga o lixo no lugar certo, outros que esquecem o chope gelado ou aqueles que exercem a empatia e imaginam a nossa situação – imagine o calor que sentimos com quatro chapas acesas o tempo todo.

A madrugada chega e a dinâmica do atendimento muda aos poucos. Se nas primeiras horas da noite o movimento é frenético e a fila não tem fim – o chef Heiko Grabolle estima que servimos um lanche a cada 15 segundos – conforme a festa rola os clientes ficam dispersos e a gente até arrisca uns passinhos de dança acompanhando a banda. E o melhor: nesta hora, conferimos as reações dos festeiros:

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– Esse é o melhor lanche!

– Meu Deus essa mostarda vai me matar!}

– Não vou passar vergonha de sair comendo uma salsicha desse tamanho?

– Preciso fazer uma foto disso.

Perto do fim é preciso ter um pouco mais de paciência. Foi a ela que recorri sábado, no tal dia com recorde de público e ingressos esgotados para a festa, quando um rapaz usando uma camisa vintage do Coritiba resolveu passar alguns minutos me olhando com todo o ódio que tinha no coração após eu ter recusado colocar molho no lanche dele – o que não era permitido. Nessas horas, a gente precisa fazer cara de paisagem, atender o cliente do lado e fingir que nada aconteceu. Tá tranquilo, tá favorável.

Às 6h, a banda para de tocar e muita gente solta aquele “aaaaaaaaah”. Para nós, começa a última etapa do expediente: limpar chapas, balcão, panelas, contar estoque e deixar tudo organizado para a equipe que começa a atender para o almoço.

Vou embora quando os funcionários da limpeza lavam o chão do setor 1, homens correm carregando centenas de barris e seguranças fingem uma briguinha dando socos e pontapés uns nos outros. E aí lembro daquele cliente. Essa festa é mesmo f…