O ano de 2018, do ponto de vista econômico, começa de maneira bastante distinta dos anteriores: a inflação está abaixo da meta, a taxa básica de juros (Selic) atingiu o menor nível da história, com viés de baixa, a expectativa é de que o crescimento do PIB atinja a casa dos 3%, o que não acontecia desde 2013, e o desemprego também deve cair ao longo do ano, embora a tendência seja de permanecer na casa dos dois dígitos. A sucessão de boas notícias na macroeconomia, no entanto, exige uma mudança de olhar para quem tem dinheiro guardado e pretende investi-lo.

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Opções antes tentadoras agora já não oferecem a mesma rentabilidade. Diante desse quadro, especialistas em mercado financeiro garantem que chegou a hora de um “amadurecimento” do investidor brasileiro. Explica-se: nos últimos 25 anos, com a taxa Selic em patamares mais elevados, multiplicar o patrimônio não era tarefa difícil. Uma opção simples sempre foi apostar nos títulos públicos, que pagavam muito acima da inflação. Esse tempo, porém, está perto do fim.

— Aquela coisa de qualquer aplicação pagar 1% ao mês já não existe mais — diz Annalisa Dal Zoto, sócia fundadora da empresa Par Mais, especialista em investimentos e planejamento financeiro.

No atual cenário, a renda fixa fica menos atrativa, porém isso não significa que esse tipo de investimento esteja “morto”, como apregoam alguns. Para Henrique Baggenstoss, da Manchester Investimentos, investimentos ligados à inflação mantêm atratividade, especialmente pensando no médio e longo prazo. Ele cita como exemplos alguns papéis públicos e as debêntures incentivadas.

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Outra opção que tem ganhado atratividade diante da queda da Selic são os fundos multimercados, em que são mescladas aplicações de vários tipos, como renda fixa, ações e câmbio.

— Fundos multimercados serão cada vez mais parte das conversas sobre investimentos, pois tendem a se beneficiar de um ambiente de corte de juros e manutenção de uma taxa baixa por um período prolongado — diz Baggenstoss.

O amadurecimento do investidor brasileiro também deve levar a um aumento das apostas em renda variável, como a bolsa de valores. Algumas projeções indicam que o Ibovespa possa atingir 89.000 pontos no final de 2018, o que consiste em um potencial de valorização de 16% em relação ao fechamento do último ano. O que também pode atrair mais interessados em 2018 são os fundos de ações, em que um escolhe as ações e aplica os recursos. O risco de perda existe, mas a chance de ganhos superiores no médio e longo prazo também é maior.

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— De 2010 a 2016 a bolsa caiu 40%. Mesmo assim, muitos gestores fizeram com o dinheiro rendesse mais de 100%. Para um leigo, é muito difícil saber qual empresa é boa. O ideal para isso é você botar em um fundo de ações — diz Annalisa Dal Zotto.

Volatilidade eleitoral

Em relação ao cenário estritamente econômico, a chance de sobressaltos em 2018 é considerada pequena pela maioria dos analistas. O fator que pode mexer com o mercado financeiro vem de fora: a política. Com eleições presidenciais marcadas para outubro, há chances de crescimento de candidatos vistos com maus olhos pelos investidores. Isso por si só já poderia frear um pouco do entusiasmo. E, como estamos falando de Brasil, nunca pode se destacar o surgimento de fatos novos que movimentem as placas tectônicas da economia, a exemplo do que aconteceu no dia da divulgação da gravação do empresário Joesley Batista com o presidente Michel Temer.

— Naquele dia o mercado despencou. E esse tipo de coisa é muito raro de acontecer em economias mais maduras — opina Annalisa.

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Os tipos de investimentos

Poupança

Investimento mais popular entre os brasileiros, é também o menos indicado por especialistas. No ano passado, a poupança teve o seu maior ganho real desde 2006: 3,88% Mesmo assim, ficou abaixo de outras opções igualmente conservadoras, como os títulos públicos. O rendimento da poupança é equivalente a 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR). Desde 2012, no entanto, uma nova regra passou a valer: toda vez que a Selic ficar abaixo de 8,5%, a correção anual das cadernetas deve ser limitada a um percentual equivalente a 70% dessa taxa mais a TR, que é calculada pelo BC.

Títulos públicos

Nesse tipo de aplicação, você empresta seu dinheiro para o governo em troca de uma taxa de retorno. Há diversas modalidades, sendo a mais conhecida delas o Tesouro Direto. Podem ser pré ou pós-fixados. Como todo investimento em renda fixa, fica menos atrativo em um quadro de redução de juros. Continua sendo uma boa opção, no médio e longo prazo, no caso daqueles que levam em conta os índices de inflação.

CDB

Modalidade em que você empresta dinheiro ao banco mediante uma taxa de retorno. Pode ou não haver percentuais previamente conhecidos. Geralmente utiliza como base o CDI, uma modalidade interbancária, como base. Tem perdido atratividade diante da queda consistente dos juros básicos.

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Debêntures incentivadas

São títulos de dívidas de empresas de capital aberto (negociadas em bolsa) ou fechado. Pagam ao investidor um valor pre-determinado até o vencimento. Para empresas, é um instrumento de captação de recursos. Para os investidores, o risco é relativamente baixo. Não há tributação de Imposto de Renda. É uma das apostas para o ano de 2018.

Fundos multimercados

Nesse tipo de investimento, o dinheiro é colocado nas mãos de um gestor, que reinveste em diversos mercados, como ações, renda fixa e câmbio. O controlador pode, por exemplo, investir no dólar australiano diante do iene japonês. Tem ganhado espaço diante do cenário de juros mais baixos. Segundo a investidora Annalisa Dal Zotto, uma taxa de administração justa está na casa dos 2% ao ano, além de 20% daquilo que exceder o rendimento do CDI.

Fundos de ações

Aqui, o investidor coloca seus recursos em uma carteira de ações, que é administrada por um gestor, com cobrança de uma taxa pre-determinada. Segundo a regulamentação federal atual, dois terços da carteira precisam estar em renda variável. Classifica-se, portanto, como um investimento de risco, que ao mesmo tempo pode dar taxas de retorno muito maiores.

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Ações

Investimento direto nos papéis de uma empresa. Pode ser feito sem intermediários, porém exige conhecimento e acompanhamento do mercado. É um investimento de risco, sem garantias, mas que pode render um retorno muito mais alto em caso de acerto nos momentos de compra e venda dos papéis.

Criptomoedas

São moedas virtuais que utilizam criptografia para garantir mais segurança às transações financeiras. A mais famosa delas é o Bitcoin, que fechou 2017 com valorização superior a 1.000%. A planejadora financeira Annalisa Dal Zotto, no entanto, não recomenda o investimento no Bitcoin, que ela acredita ser uma bolha que não deve tardar a estourar. Não há objeções, no entanto, a colocar uma parte menor de seu dinheiro em outras moedas virtuais. Na sexta-feira, a Comissão de Valores Mobiliários proibiu que as criptomoedas constem no portfólio dos fundos de investimento.