Houve um tempo em que a crise criativa de Hollywood ficava evidente pela quantidade de refilmagens e de longas a partir de roteiros não originais. Na safra atual de títulos do Oscar, o que chama a atenção é como produtores e diretores foram buscar inspiração em reportagens, documentos e personagens da vida real.
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Seis dos nove indicados ao prêmio de melhor filme são baseados em histórias que, de fato, aconteceram. Quer dizer, em alguns casos, como o de Trapaça, há muita imaginação em torno da colaboração do trambiqueiro Melvin Weinberg com o FBI – tanto que, na ficção, para exercitar as diversas licenças poéticas com relação aos fatos originais, os autores batizaram o personagem interpretado por Christian Bale de Irving Rosenfeld.
Há protagonistas bem conhecidos, caso do Jordan Belfort de O Lobo de Wall Street, e aqueles cuja pesquisa demandou muito mais trabalho, como 12 Anos de Escravidão, sobre a trajetória de um escravo do século 19.
Ela, Nebraska e Gravidade são as três únicas tramas cem por cento “inventadas”. Veja, a seguir, no que os outros seis indicados foram baseados:
Trapaça
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O escândalo de Abscam, que atingiu o Congresso dos EUA no fim dos anos 1970, inspirou o roteirista Erin Singer (de Trama Internacional) e o diretor David O. Russell (O Vencedor). Eles concorrem a melhor roteiro original com a trama protagonizada por Christian Bale, que encarna o trambiqueiro Melvin Weinberg. Sua história de colaboração com o FBI é real, mas muito de seu entorno é inventado – por isso o “Baseado em fatos que aconteceram em parte” no letreiro ao início da projeção.
Clube de Compras Dallas
Aqui o drama é baseado na vida do eletricista Ron Woodroof (Matthew McConaughey), texano homofóbico que se descobre portador do vírus da aids e que, nos anos 1980, trava uma batalha contra a indústria farmacêutica enquanto busca tratamento contrabandeando medicamentos do México. A direção é de Jean-Marc Vallée (de C.R.A.Z.Y.), que, junto aos roteiristas Craig Borten e Melisa Wallack, recuperou a história a partir de entrevistas com Woodroof.
O Lobo de Wall Street
Jordan Belfort, o personagem de Leonardo DiCaprio, existe e ganha a vida dando palestras para vendedores nos EUA. Isso depois de viver o sonho de Wall Street nos anos 1980 e 90, enriquecer e acabar preso por conta de atividades ilícitas na bolsa de valores. O diretor Martin Scorsese (Touro Indomável) e o roteirista Terence Winter (The Sopranos) se basearam em sua autobiografia para escrever o filme.
Capitão Phillips
Paul Greengrass (de Zona Verde) dirige este longa que o roteirista Billy Ray (Jogos Vorazes) adaptou do livro assinado pelo próprio capitão Richard Phillips sobre seu drama à frente de um navio sequestrado por piratas somalis em 2009. A exaltação do heroísmo do personagem-título, interpretado por Tom Hanks, chegou a ser questionada pelas demais testemunhas da história, incluindo tripulantes do navio.
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12 Anos de Escravidão
A matriz do texto de John Ridley (indicado ao Oscar de roteiro adaptado) são as memórias escritas de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor). Proprietário de uma pequena fazenda, ele, que era negro, foi sequestrado em 1841 e forçado por um senhor de escravos (Michael Fassbender) a trabalhar em suas terras, sendo libertado por um advogado (Brad Pitt) apenas 12 anos depois. A direção é de Steve McQueen (de Hunger e Shame).
Philomena
Martin Sixsmith é o jornalista britânico que descobriu a história de Philomena Lee, irlandesa forçada a se separar do filho e internada em um convento nos anos 1950. No livro que deu origem ao filme, ele relata a jornada da mulher em busca da criança perdida, décadas depois, nos EUA. Philomena é interpretada por Judi Dench. E Sisxmith, por Steve Coogan, ator que também está nos créditos como corroteirista. A direção é de Stephen Frears (A Rainha).