Não é preciso ser médico ou cientista para saber que a vacinação previne doenças e mortes. Este fato, já é de conhecimento de todos. Apesar disso, recentemente o Brasil registrou a primeira morte por coqueluche em três anos: uma doença prevenível, justamente, por vacina. Este lamentável fato é um alerta sobre um problema real, crescente, e nada novo: baixa adesão vacinal.
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Mas o que estamos fazendo para modificar esta triste realidade?
Perante este cenário, percebo que estou na obrigação de ser clara e objetiva em relação ao ressurgimento de doenças infectocontagiosas e suas consequências — como é o caso da coqueluche — que, apesar de ser prevenível, ressurge de forma preocupante no Brasil e no mundo.
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Um alerta epidemiológico foi emitido em julho de 2024 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em conjunto com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), sobre o aumento do número de casos de coqueluche no mundo. Em maio de 2024, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças, também alertou, e informou que na Europa, entre 1º de janeiro e 31 de março de 2024, foram notificados mais casos do que durante todo o ano de 2023. Já no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o último pico epidêmico de coqueluche ocorreu em 2014, quando foram confirmados 8.614 casos. Agora, no primeiro semestre de 2024 já temos mais de 300 casos confirmados.
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É espantoso falar sobre o aumento de casos de coqueluche em pleno 2024, afinal de contas, com a disponibilidade de vacinas eficazes, seguras e gratuitas esperava-se que essa doença estivesse sob controle. E é justamente devido ao avanço das descobertas médicas, dentre elas a vacinação, que a expectativa de vida de hoje em níveis mundiais é em torno de 60, 70 anos, inclusive, de acordo com IBGE a expectativa de vida do brasileiro é de 75,5 anos. Para se ter uma ideia de comparação, no século 19 – depois da criação da primeira vacina da varíola – a expectativa de vida era de 32 anos, apenas. No entanto, ao contrário da varíola — um problema já do passado — a coqueluche está nos trazendo uma realidade dura de engolir: morte em bebês. Para piorar o cenário, são mortes evitáveis.
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“Morte por coqueluche é um lembrete doloroso”
Tenho na minha memória alguns casos que me marcaram e, entre tantos, lembro de um deles: há 10 anos, atendi em um plantão um bebê de 7 meses, que quase perdi para coqueluche. Ao conversar com o pai, percebi que havia atraso vacinal. Que situação de impotência, para mim, para o pai, para sociedade. É justamente, para evitar consequências graves que o calendário vacinal precisa estar atualizado.
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Vacine seus filhos para evitar doença grave e fatal, e vacine-se para sua proteção e para a proteção dos seus. Afinal de contas, quando uma doença que já estava controlada surge em picos epidêmicos é necessário repensar em estratégias mais duras para controle de surto por parte das autoridades em saúde, e mais uma vez apostar na educação.
Por isso, a morte recente por coqueluche no Brasil é um lembrete doloroso de que ainda temos muito trabalho a ser realizado na saúde pública e privada. A adesão vacinal é um problema sério que exige uma resposta vigorosa e coordenada, não só das autoridades em saúde, se faz necessário, também sermos mais duros em relação à cobrança do calendário vacinal dos pais e responsáveis. Proteger nossas crianças e a sociedade como um todo depende de cada um fazer a sua parte. É hora de agir, cobrar, informar e vacinar.
O que é a coqueluche?
A coqueluche, também conhecida como tosse comprida, é uma doença infecciosa respiratória e altamente contagiosa, causada pela bactéria Bordetella pertussis. Os sintomas iniciais são muito parecidos com resfriado comum: mal-estar, coriza e tosse seca. Após esta fase a tosse se intensifica de forma severa, conhecida como tosse comprida, que podem durar semanas ou até meses.
Em crianças, especialmente em bebês, a doença pode ser fatal.
Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.
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