Há uma preocupação constante de especialistas a respeito da nova variante monkeypox, chamada de clado 1b. Afinal, quando ela chegará ao Brasil? Antes que essa notícia chegue, se faz necessário entender, de fato, o que isso significa para nós brasileiro e quais as possíveis implicações. 

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Fato é que precisamos estar preparados para enfrentar mais este desafio global. O cenário, sim, é excepcionalmente complexo pois há três variantes de monkeypox com registros ao mesmo tempo, cada uma com uma variação genética singular, com diferenças do modo de contágio, gravidade, bem como a população mais afetada. 

E para entendermos este cenário é importante relembrar que no período de julho de 2022, até maio de 2023, a OMS já havia constituído uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional. Naquele momento, no Brasil, a variante denominada “clado 2” foi a responsável pelos casos. Somente aqui no Brasil, entre 2022 até julho de 2024, foram notificados 12.215 entre casos confirmados e prováveis. Essa variante apresentou o curso de doença mais leve com contágio principalmente através do contato sexual, e se propagou por quase 100 países. 

O surto, no entanto, foi controlado por meio da vacinação de grupos específicos, ação de vigilância em saúde como notificação e controle de contactantes.

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Já a variante genética do “clado 1”, se subdivide em “clado 1a” e “clado 1b”. A diferença entre elas está em alguns pontos: o primeiro deles é a a localização do surto, já que o clado 1a é responsável pela maioria das infecções no oeste e norte da República Democrática do Congo. Também se difere quanto à forma de contágio, já que esta variante tem relação com consumo de carne de caça de animais selvagens infectados. A partir deste contágio inicial, ocorre a disseminação entre humanos. Ou seja, aqueles que adoecem podem transmitir o vírus para pessoas com quem têm contato próximo e por conta disso as crianças têm sido particularmente afetadas.

No entanto, a preocupação maior da OMS é, sem dúvidas, a variante do clado 1b, que abrange uma nova versão do patógeno, que é mais virulenta, ou seja, capaz de disseminação mais rápida. É ela que está envolvida no surto atual. 

Essa variante se espalha com maior frequência através de contato próximo entre pessoas, e por isso as crianças são mais afetadas também — além, claro, da disseminação pelo contato sexual. A maior preocupação agora é com a possibilidade de maior índice de letalidade, pois já há registro de pelo menos 450 pessoas que  morreram desde que surgiu um surto inicial na República Democrática do Congo, demonstrando que ela possa ser uma cepa mais letal.

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No Brasil, de acordo com Ministério da Saúde, até o momento, em 2024, foram notificados 709 casos de monkeypox no país, nenhum deles com evidência da nova variante do clado 1b, sendo considerado, portanto, um baixo risco de propagação. Quer dizer que não precisamos nos preocupar? Não, não é isso. Quer dizer que é necessário esforços em conjunto por parte governamental e da população para conter surtos, caso houver. 

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No meio médico, estamos em estado de alerta. A cada paciente suspeito, com febre e lesões de pele características de monkeypox, há a insegurança inicial de um diagnóstico difícil. Parece que já vimos este filme em 2020, com o coronavírus.  E eu realmente espero que este filme nem inicie por aqui. Já vimos o trailer passando pela África, e não quero vê-lo aqui no Brasil. 

Muito embora a monkeypox não deva ser motivo de pânico, é fundamental que o Brasil esteja preparado para responder a essa nova ameaça. A história nos ensinou que a preparação e a resposta rápida são fundamentais para proteger a saúde pública. Como sempre, a ciência e a colaboração internacional serão nossas melhores aliadas na luta contra doenças emergentes.

Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.

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