Voltamos a falar de sarampo. Desta vez, dois casos foram importados da doença. No último dia 8 de outubro, o município de São Paulo notificou dois casos suspeitos com histórico de deslocamento internacional, que foram confirmados.
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Os casos são de dois adultos — um casal, de 35 e 37 anos de idade — que viajaram a três países da Europa, de 21 a 28 de setembro de 2024. No dia do retorno, foram alertados pelas autoridades de saúde italianas da exposição a caso confirmado de sarampo presente no voo de Portugal a Itália. O casal apresentou sintomas e o sarampo foi confirmado.
O fato que nos preocupa é que foi identificado o genótipo D8 neste caso, uma linhagem diferente dos genomas sequenciados aqui no Brasil durante a epidemia de 2019 e 2020 e das linhagens D8 detectadas no Brasil no período de 2018 a 2024, indicando reintrodução de vírus do sarampo importado. No Brasil, o sarampo já esteve na lista das doenças erradicadas do território nacional, em 2016, quando chegou a receber o certificado de eliminação da doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
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Três anos depois, o Brasil perdeu esse status, devido à diminuição da cobertura vacinal e o contato com pessoas que contraíram a doença no exterior e trouxeram o vírus para o Brasil. Lembrando que a culpa não é do turista. Se nós, brasileiros, tivéssemos feito a nossa parte, ou seja, se a população estivesse adequadamente vacinada, os casos se limitariam aos importados.
A vacinação contra o sarampo, aliás, faz parte do calendário vacinal. No Programa Nacional de Imunizações (PNI): a recomendação é de duas doses, aos 12 e 15 meses. Para os não vacinados, até os 29 anos: duas doses, com intervalo de um mês entre elas. Já na idade de 30 a 59 anos: uma dose. Neste ano de 2024, Santa Catarina apresenta o índice de vacinação da primeira dose do tríplice viral (sarampo, rubéola e caxumba) de 94.92%, e a segunda dose com índice vacinal de 86,08%. O recomendado é índices acima de 95% de cobertura vacinal.
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O sarampo é uma doença potencialmente grave, de alta transmissibilidade. Os principais sintomas são febre alta, acima de 38,5°C, manchas avermelhadas pelo corpo que se iniciam no rosto e atrás da orelha, que em seguida, se espalham pelo corpo, acompanhados de um ou mais sintomas: tosse seca; olhos avermelhados e irritados indicando uma conjuntivite; nariz escorrendo ou entupido; em alguns casos, nos primeiros sintomas, podem surgir pequenas manchas brancas dentro da mucosa oral as manchas de Koplik que é um sinal característico da doença. A viremia, causada pela infecção, provoca uma vasculite generalizada, responsável pelo aparecimento das diversas manifestações clínicas graves, como desidratação por perda de eletrólitos e infecções de pele que podem evoluir para gravidade.
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A transmissão do vírus ocorre de pessoa a pessoa, por via aérea, ao tossir, espirrar, falar ou respirar. O período de maior transmissibilidade ocorre quatro dias antes e quatro dias após o início do exantema, que são as lesões avermelhadas pelo corpo. O grande problema destes dois casos que chegaram no Brasil é a alta transmissão da doença: o sarampo é tão contagioso que uma pessoa infectada pode transmitir para 90% das pessoas próximas que não estejam imunes. Já se sabe inclusive, que pela alta transmissibilidade, 9 a cada 10 pessoas não vacinadas, que tiveram contato com uma pessoa infectada por sarampo, desenvolverão a doença.
Diante deste fato de dois casos importados da doença, os profissionais de saúde devem estar em alerta máximo e considerar o sarampo como suspeita em qualquer pessoa com sintomas, para rápida identificação, monitoramento e isolamento do caso suspeito.
Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.
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