A eleição para o Conselho Federal de Medicina (CFM) trouxe à tona uma série de questões que refletem não apenas o estado atual da medicina no Brasil, mas também a política interna da entidade. E cá entre nós, esta deveria ser uma eleição apartidária, o que claramente não é.

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O que vai contra o juramento de Hipócrates que fizemos em ato solene ao nos formarmos médicos, que diz: “Eu prometo solenemente consagrar minha vida ao serviço da humanidade; exercerei a minha profissão com consciência e dignidade e de acordo com as boas práticas médicas.

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O que deveria ser uma escolha democrática e transparente para o melhoramento da gestão e da prática médica para a sociedade, acabou se tornando um campo de batalha de egos, disputa política e interesses pessoais.

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As eleições do CFM, são realizadas a cada cinco anos, e os eleitos devem tomar posse no dia 1º de outubro de 2024, sendo composto por 54 conselheiros eleitos e outros dois indicados pela Associação Médica Brasileira (AMB). As eleições têm como objetivo escolher os representantes da classe médica que irão zelar pela ética e pela qualidade da prática médica no país.

No entanto, esta disputa eleitoral foi marcada por disputas acirradas, acusações mútuas e uma evidente falta de consenso entre os candidatos. O que se viu foi uma campanha menos focada em propostas concretas e mais centrada em ataques pessoais e na busca pelo poder.

A briga de egos entre os candidatos não é uma novidade no cenário político, mas quando se trata de uma entidade como o CFM, que tem a responsabilidade de regulamentar e fiscalizar a profissão médica, a situação se torna preocupante. Médicos, que deveriam ser exemplos de ética e profissionalismo, se envolveram em discussões públicas e em uma guerra de palavras que em nada contribui para a melhoria da saúde pública do país.

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Há, até, debate entre “esquerda e direita” entre os próprios médicos. Alguns defenderam e ainda defendem o “kit Covid”, o fim do programa Mais Médicos, são contra a abertura de novas escolas de Medicina. Com tudo isso, me pergunto se estamos mesmo elegendo representantes para defender a ética e a qualidade da medicina em nosso país? A politização da pandemia fez com que os próprios médicos ficassem divididos em dois lados. E não há como negar.

Mas uma coisa é ato: para que o CFM cumpra seu papel de forma eficaz, é necessário que os eleitos coloquem de lado seus interesses pessoais e trabalhem em prol da coletividade. Se isso vai acontecer depois do que estamos vendo acontecer? Não sabemos.

Mas o fato é, que a entidade, sim, precisa ser um exemplo de ética, transparência e dedicação à saúde pública. É para isso que são eleitos. Nós médicos e a sociedade esperam que o novo conselho seja capaz de superar as divergências pessoais e políticas, e focar nas reais necessidades da saúde pública.

A eleição do Conselho Federal de Medicina não deve ser uma briga de egos, ataques políticos e apoio de parlamentares. Isso é inadmissível. Lembrando aqui que esta eleição é apartidária, mas infelizmente não é o que estamos vivenciando.

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Aguardemos os próximos capítulos da história.

Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.