Você certamente já foi ou conhece alguém que foi em um pronto atendimento e saiu de lá com um antibiótico prescrito de forma inadvertida. Pois sabe-se que a procura por síndromes infecciosas estão — e vão ficar — cada vez mais frequentes. O fato é que antibióticos não devem ser prescritos de forma inadequada, sem embasamento científico, como para quadros virais, por exemplo.
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Muitas e muitas vezes, pais preocupados levam seus filhos no médico e querem uma solução mágica para aquela tosse que dura semanas após um quadro viral, e, então, saem da consulta com antibiótico prescrito. Isto precisa ser mudado. O importante é tentarmos a cada vez mais educar médicos e pacientes sobre o perigo que está por trás no uso de antimicrobianos desnecessários. Saiba de uma coisa, caro leitor: se você não usou antibiótico nos últimos anos ou você é privilegiado ou tem bons médicos.
Agradeça.
Por este motivo, e pelo uso inapropriado de antimicrobianos, é que no dia 18 a 24 de novembro, ocorre a nível mundial a Semana Mundial de Conscientização sobre o uso de Antimicrobianos. Em 2024, o tem é: “Eduque. Colabore. Faça agora!”.
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A iniciativa da conscientização partiu da Organização das Nações Unidas de Agricultura e Alimentação, Organização Mundial de Saúde Animal, Organização Mundial de Saúde e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. O objetivo é a compreensão de toda a sociedade a respeito da resistência aos antimicrobianos que, certamente, é um dos maiores desafios para a saúde pública global, com importante impacto na saúde pública.
Segundo estudo publicado na revista cientifica The Lancet, mais de 39 milhões de mortes por infecções resistentes a antibióticos são estimadas até 2050. Para ser mais realista, isto significa uma morte a cada 3 segundos. Vamos superar qualquer outra causa de morte. O estudo também indica que as mortes diretamente causadas por resistência antimicrobiana aumentarão em 70% até 2050. Nos idosos acima de 70 anos, a previsão é de aumento de 146% até 2050.
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Este dado acima me faz lembrar muitas histórias que eu como infectologista vivenciei. Poderia, aqui, contar o caso de diversos pacientes que por mim passaram, mas a Laura* me marcou muito. Fui chamada no hospital para avaliar uma menina de 17 anos com infecção urinária por uma bactéria multirresistente.
Iniciei antibiótico e pedi leito de UTI imediatamente: ela estava em estado muito grave. Ao conversar com a mãe ela me disse que a Laura, estava usando vários antibióticos no período de 6 meses anteriores à internação por infecções urinárias de repetição. Avaliando de uma forma mais objetiva, ela não teria necessidade de tais prescrições. Laura não resistiu, em 48 horas tive que falar para aquela mãe que havíamos perdido.
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Esta história poderia ser de qualquer um de nós. Mas, como chegamos até aqui?
Pelo uso inadequado, errado e inapropriado de antibióticos, que faz com que as bactérias cresçam e se multipliquem de forma rápida e eficaz. Para piorar a situação, as perspectivas de novos antibióticos no mercado não são promissoras. Atualmente, estão em desenvolvimento em média 40 medicamentos apenas, que ainda não são capazes de conter as bactérias resistentes descritas na lista da OMS. Ou seja, não temos uma solução a curto prazo. Além disso, o processo de desenvolvimento de novos medicamentos contra bactérias é caro e trabalhoso e economicamente não é viável.
Então o que podemos fazer?
“Eduque. Colabore. Faça agora!”, este é o lema deste ano da Semana Mundial de Conscientização da Resistência aos Antimicrobianos.
Para ser bem clara e objetiva: antibiótico não é remédio para tosse. Antibiótico não mata vírus. Antibiótico deve ser prescrito com muita responsabilidade.
* Nome fictício para preservar a identidade da paciente e a família.
Por Sabrina Sabino, médica infectologista, formada em Medicina pela PUCRS, mestre em Ciências Médicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de Doenças Infecciosas na Universidade Regional de Blumenau.
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