Pouco antes de subir num helicóptero em direção ao Alto Vale do Itajaí, no início da tarde de sexta-feira, Milton Hobus, secretário de Estado de Defesa Civil, falou sobre Rio do Sul, a cidade que estava mais uma vez sob as águas do rio Itajaí-Açu – e também sua terra natal. A capital do Alto Vale sofre cada vez mais com as enxurradas dos últimos anos, que com frequência não causam mais do que apreensão em cidades como Blumenau, que já está no Médio Vale, mas fica na mesma rota das águas. Questionado sobre soluções rápidas que minimizem o impacto das cheias na cidade, Hobus disse que todas as ações estão em andamento, porém, a previsão mais rápida de início de obra é apenas no segundo semestre de 2016, com prazo de conclusão de um ano e meio.

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A culpa é, de acordo com o secretário, da extensão da Bacia Hidrográfica do Itajaí. Dos 5,1 mil quilômetros quadrados de extensão, 2,3 mil são controlados pelas barragens de Ituporanga e Taió. Os outros 2,8 mil quilômetros quadrados correm livres Vale abaixo e, não raro, inundam as cidades por onde passam até se encontrarem em Rio do Sul. A contenção dessas águas está prevista no pacote de ações do Pacto pela Defesa Civil que, segundo Hobus, é a principal solução para as enchentes em Rio do Sul. Na entrevista a seguir o secretário explica o que considera o diferencial de Blumenau e explica porque a solução mais rápida para o Alto Vale ainda vai demorar algum tempo para chegar.

O que pode ser feito para amenizar a situação das cheias que ocorrem em Rio do Sul a curto prazo?

O plano da Jica (Agência Internacional de Cooperação do Japão, significado da sigla em inglês) também previa ações no rio em Taió e Rio do Sul, mas nós fizemos estudos que demonstraram que o custo era muito grande e contribuiria pouco na vazão. Ao invés de fazer as ações previstas pela Jica, podemos aprofundar seis rasos que vão de Rio do Sul até Lontras, para estocar mais água e descer mais rápido, e fazer um canal extravasor para o rio ter mais velocidade quando estiver acima da cota de normalidade. É uma obra grande que vai de Rio do Sul até Salto Pilão (em Ibirama). Todo o estudo técnico foi feito e provou que essa é a melhor solução. Autorizamos o projeto executivo e o estudo de viabilidade ambiental e o prazo para entregarem é junho de 2016. Então, para podermos licitar para o segundo semestre do ano que vem e é uma obra de cerca de um ano e maio.

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Essa é a alternativa mais rápida que a Defesa Civil pode oferecer para a cidade?

Além disso é só o sistema operacional. A sobrelevação e o canal extravasor das duas barragens ficando prontas, que dependem agora de tempo sem chuva para que se possa trabalhar. Em Ituporanga precisamos concluir o canal extravasor e em Taió falta uma parte da obra de sobrelevação, que está concretando a crista da barragem e tem uma parte que é feita no fundo do rio. Precisamos de 60 dias de obras e pelo menos 30 dias sem água no pé da barragem. Então, assim que diminuir a intensidade das chuvas vamos tirar a água da barragem e fechar as sete comportas, para a gente poder concretar e, se precisar operar a barragem, vamos fazer só com canal extravasor, para a gente sair da parte de obras embaixo.

O fato das barragens terem vertido não indica que a sobrelevação teria que ser maior?

Não, isso é muito relativo. Sabíamos que as barragens iam verter, elas são feitas para isso também. Quando você tem uma bacia tão grande e tem chuva antes da barragem você fecha ela para esvaziar a calha do rio, para que a chuva que cai depois da barragem possa ser estocada na própria calha. Fizemos isso na semana passada por causa da previsão dessa semana e funcionou. Só o volume de chuvas que estava previsto para ontem (quinta-feira) foi mais que o dobro nas cabeceiras. Por isso as barragens estão vertendo. O bom é que verteu no final da chuva, mas segurou todo o grosso por dois dias. Além da sobrelevação, em Ituporanga o barramento pode subir mais dois metros. Estamos finalizando o estudo de uma tecnologia diferente que usa comportas de aço atrás da barragem e são acionadas hidraulicamente para subir. Se eventualmente as pequenas barragens que estão em litígio não forem possíveis, nós compensamos o volume de água com esse sistema de comportas.

Como está a construção das barragens que estão no pacote de obras do Pacto pela Defesa Civil no Alto Vale do Itajaí?

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As barragens de Mirim Doce e Petrolândia estão prontas para licitar a obra e a previsão é que em novembro possamos lançar o edital. Sobre a barragem de Botuverá o edital de licitação está pronto e o projeto concluído. Ontem (quinta- feira) o governador falou com a presidente do Ibama, Marilene Ramos, porque o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) questionou a legitimidade da Fatma de licenciar a obra, porque pega uma parte do Parque Nacional (da Serra do Itajaí). Acreditamos que semana que vem tenha alguma notícia em relação a isso. O que não está pronto são as duas barragens de Pouso Redondo e as duas de Agrolândia, por causa do litígio com a comunidade. Em Agrolândia tivemos que entrar na Justiça para os técnicos poderem acessar um terreno e terminar o projeto. Em Pouso Redondo algumas lideranças jogaram a questão para o lado político e disseram que as barragens iriam acabar com a cidade, criaram pânico na população. Tem um abaixo-assinado com 6 mil assinaturas contra a barragem e pedi apoio para os municípios vizinhos para fazerem esse trabalho de conscientização. O dinheiro para essas obras está garantido, então é um pecado se, por capricho de poucas pessoas, nós prejudicarmos milhares.

Blumenau é uma cidade que já sofreu muito com as cheias e recebe basicamente a mesma água que passa por Rio do Sul, porém, já consegue minimizar os impactos. A diferença entre o que é feito nas duas cidades é o alerta?

É por isso que o Estado está fazendo um grande investimento e vamos centralizar tudo num centro de monitoramento e alerta interligado por uma plataforma digital com os 295 municípios catarinenses. Não vai ter mais duplicidade de informações e todo o sistema de alerta vai chegar a todo cidadão. Vamos inaugurar no segundo semestre do ano que vem e vamos aumentar a rede de captação terrestre de informações, que ainda tem muitas áreas sem informação e teremos tudo isso de forma sistematizada e em tempo real. Todas as defesas civis vão estar ligadas, inclusive com o sistema de alerta através de aplicativo que as pessoas vão poder baixar. Todas as áreas de risco vão estar mapeadas nessa plataforma com o cadastro das pessoas.

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O alerta é o diferencial de Blumenau dentro do Vale?

Hoje é um diferencial, porque o Estado faz um alerta orientativo para as defesas civis, mas não chega no cidadão. Ainda não estamos prontos, e depois que isso tudo estiver em uma plataforma todos terão a informação ao mesmo tempo.

O Radar Meteorológico de Lontras está operando plenamente? Ele ajudou na previsão das chuvas?

Está 100% e nos ajudou muito, porque as informações meteorológicas não bateram. Nenhum meteorologista acertou nada. O que fez com que nós tivéssemos mais assertividade na operação dos sistemas e na informação dos alertas gerados foi o radar. Ele está em fase de operação assistida, mas desde julho está operando sem interrupção.