Já era quase rotina: Luiz Gonzaga chegava na casa da família Alencar para buscar farofa de queijo e ficava proseando até que a mulher ia lá buscá-lo. Isso acontecia em Exu, onde rei do Baião nasceu, foi criado e se apaixonou por música e a casa era da família do poeta José Mauro de Alencar, 28 anos, que cresceu ouvindo o avô contar histórias sobre Gonzaga e fazendo dos discos um brinquedo extra.

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A influência do músico nordestino não abandonou a vida de José Mauro nem quando mudou para Olinda, no Recife, para estudar jornalismo: foi lá que ele começou a pesquisar e trabalhar como mediador da obra do ícone da cultura nordestina, o que o levou a tornar-se gerente do Memorial Luiz Gonzaga.

Hoje, no Teatro Juarez Machado, ele mostra ao público um pouco da obra do músico. É a forma da Feira do Livro homenagear o centenário de Luiz Gonzaga, que será completado em dezembro.

A palestra sobre o sanfoneiro será um bate-papo com apresentações em vídeo e a transmissão de um documentário.

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– Ele é, e nenhum pesquisador da música contesta isso, o maior artista da cultura nordestina. Gonzaga tem mais de 700 músicas gravadas – avalia José Mauro, ressaltando que ele só recebe este título porque sempre se esforçou muito.

– São quase 200 discos. Ele teria que ter vivido 200 anos para gravar tudo isso se tivesse feito um por ano, mas Gonzaga era um trabalhador – diz.

No Memorial Luiz Gonzaga, os projetos para comemorar os cem anos do rei do Baião não param: José afirma que há três livros para serem publicados até o fim do ano, a organização da Jornada Gonzagueana e uma missa em 2 de agosto, data da morte do músico, quando o altar fica tomado por sanfoneiros que fazem sua homenagem ao símbolo do Nordeste.

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Na sexta-feira de manhã, José Mauro fez um recital com poemas de cordelistas como Zédantas e Patativa do Assaré, além dos próprios poemas, lançados no livro “Cuia de Poeta Cego: Tem Verso de Toda Cor” e em coletâneas com outros artistas nordestinos. O trabalho de garantir a tradição da literatura de cordel é forte no Nordeste, com um grupo grande de poetas que dão continuidade ao gênero.

– É quase uma confraria – brinca José.

Em Joinville, as estrofes pareciam soar estranhas aos ouvidos dos estudantes que acompanhavam o recital e o escritor acredita que é hora de levar mais literatura de cordel .

– Precisamos acabar com essas segregações, nem que seja para que todas as regiões possam conhecer suas culturas. O Brasil precisa de mais caos na cultura, afinal, foi assim que ele foi construído – avalia ele.

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