A Rússia e a Ucrânia concordaram em estabelecer os chamados corredores humanitários em regiões sob fogo de Moscou na invasão que completou uma semana nesta quinta-feira (3). Para tanto, haverá cessar-fogo em algumas áreas do país.
O acerto, ainda sem detalhes claros, foi anunciado pelas delegações russa e ucraniana que se reuniram na Belarus, perto da fronteira com a Ucrânia, durante a tarde e o início da noite (manhã e tarde em Brasília).

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Pouco antes do anúncio, o presidente Vladimir Putin disse num pronunciamento na TV que tais corredores já estavam garantidos pelos russos. Na fala, manteve a intenção de ir até o fim em sua guerra, que disse estar indo “segundo o plano”, apesar dos aparentes problemas logísticos e da resistência ucraniana.

Corredores humanitários ou zonas de segurança implicam cessar-fogo, algo que, como visto na guerra da Bósnia nos anos 1990, é um instrumento muito precário. Além disso, podem ser utilizados para desocupar áreas de civis potencialmente hostis a invasores, sem garantias de que um dia voltarão para suas casas.

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Uma variante da tática foi vista na guerra civil síria, quando Putin interveio para salvar a ditadura aliada de Bashar al-Assad. Ali, os russos montaram um destrutivo cerco a Aleppo, considerado criminoso por muitos, para desentocar radicais islâmicos. Num dado momento, ofertaram corredores humanitários para que os remanescentes fossem embora.

O movimento facilita a eventual ocupação militar de territórios. Tomando um dos eixos do ataque russo, o sul ucraniano, o cerco que se forma a Mariupol, último bastião que impede a ligação terrestre entre o Donbass, área ao leste dominada desde 2014 por rebeldes pró-Rússia, e a Crimeia, anexada por Putin em 2014, sugere um ataque potencialmente devastador à cidade.

A retirada eventual dos civis de lá pode favorecer o plano presumido de Putin de remover a área da soberania ucraniana, por exemplo. Seria custoso e traria desgaste, mas melhor do que matar muitas pessoas na cidade com quase 500 mil habitantes.
Não se antevê algo assim em Kiev, a capital de 3 milhões de habitantes, embora lá o cerco esteja estacionado a cerca de 25 km da cidade. Como em Mariupol, os bombardeios são mais a distância, com as incursões de soldados dos primeiros dias da campanha militar tendo ficado para trás.

Já deixaram a Ucrânia mais de 1 milhão de seus 44 milhões de habitantes. Até a quarta-feira (2), o governo em Kiev contava cerca de 2.000 civis mortos, sem revelar baixas militares. Os russos só falam de 498 soldados caídos – as cifras não puderam ser checadas de forma independente.

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Seja como for, são cenários incipientes. As duas delegações concordaram em uma terceira rodada de negociações, em data a definir, o que já é melhor do que um rompimento total – ainda que ambos os lados possam querer ganhar tempo, por motivos diversos.

Na segunda (28), a conversa não deu em nada. Havia uma expectativa vazada pela chancelaria russa de que um cessar-fogo pudesse ser negociado, mas o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse que as demandas russas de rendição eram inaceitáveis. Um dos negociadores ucranianos, David Arajamia, postou no Facebook antes da reunião exatamente a questão dos corredores humanitários.

* Por Igor Gielow

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