Existe um nome para quem sente medo crônico de palhaços: coulrofobia. É, portanto, uma aversão antiga e merecedora de estudos, algo muito anterior a “It — a Coisa”, filme de terror que entra hoje em cartaz. Porém, a nova adaptação do livro de Stephen King é o ápice de outra leva de produções para o cinema e a TV que tem palhaços macabros como protagonistas, reacendendo a discussão sobre o real sentido dessa representação maquiavélica de uma figura que é, na percepção geral, um fazedor de alegria. Nos Estados Unidos, inclusive, “It — a Coisa” teria feito palhaços profissionais perderem trabalho por causa da associação negativa. E os atores de Joinville que atuam como palhaços já sentiram na pele um certo repúdio? Temem um eventual impacto na procura por sua arte?

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Leo Waltrick, do grupo Cheios de Graça, reconhece que existem pessoas que têm trauma de palhaços — como já observou umas poucas vezes em apresentações —, mas, para ele, a questão é mais com quem está atrás do nariz vermelho.

— Na nossa opinião, não é nem por essa onda, é justamente por haver pessoas que trabalham sem preparação ou com uma técnica muito superficial. Como em todas as áreas, existem os bons e os maus profissionais. Às vezes, as pessoas acham que é só colocar maquiagem, uma roupa colorida… É uma arte muito nobre, muito antiga, que exige estudo — analisa.

Bia Alvarez, que há anos encarna a palhaça Everline Flore (foto), vai pela mesma linha. Para ela, o medo da figura do palhaço vem, muitas vezes, de uma forma equivocada de como ele é interpretado por pessoas sem nenhuma técnica. E a representação como assassinos mostrada pelos filmes e séries também não ajuda em nada.

— Acho ruim o uso de elementos que possam lembrar a figura de palhaços e palhaças desta forma, pois, para um público que não tem intimidade com a figura, fica uma imagem que nada tem a ver com a realidade da essência da palhaçaria. Uma coisa é um palhaço, outra coisa completamente diferente é uma pessoa vestida com roupa de palhaço — afirma.

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— A grande mídia tem muito poder de influência e pode reforçar um estereótipo, uma imagem pejorativa do palhaço — admite Leo Waltrick.

Há 16 anos atuando como palhaço nas ruas de Joinville, Riccardo Lemes vai mais além e acha que esses produtos midiáticos deveriam ser proibidos. Certo de que já perdeu trabalho por causa deles, ele crê que os filmes aumentaram a repulsa que algumas pessoas já sentiam da figura do ser colorido, a ponto de partirem para a agressão a colegas seus.

— Estão acabando com a nossa honrosa profissão. Palhaço é alegria — lamenta Riccardo.

Palhaça há dois anos, Alessandra Martim vê esses filmes e séries com outros olhos. Na opinião dela, eles até podem servir para os artistas se reinventarem, ainda que o impacto inicial não seja dos melhores.

— Acredito que pode ser uma experiência traumática se a pessoa já tem medo ou se não tem a idade adequada para assistir, como foi o caso de um aluno meu. Particularmente, acho muito divertido ver um palhaço assassino. Talvez seja meu lado macabro falando, mas estou ansiosa para “It” e (a série de TV) “American Horror Story — Cult”.

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Sobre o filme

Originalmente, “It — a Coisa” é um dos livros mais volumosos do mestre da literatura de suspense e fantasia Stephen King, lançado em 1986. Quatro anos depois, ele foi adaptado para a TV. Na nova versão da história, dirigida por Andy Muschietti, várias crianças desaparecem e são encontradas mortas em uma cidadezinha americana. Um grupo de adolescentes começa a investigar os crimes e descobre o responsável: Pennywise, um tenebroso palhaço que habita os subterrâneos do lugar.

Metal brutal

Visitinha internacional na área do metal extremo em Joinville neste Dia da Independência. É a veteraníssima banda americana Nunslaughter, que há 30 anos toca o barco sonoro do que convencionou chamar de “devil metal“. Por aí o leitor imagina o que esperar do show que o quarteto faz logo mais à noite no Delinquent’s Bar, secundado por outras três bandas igualmente insanas: Orthostat (Jaraguá) e as curitibanas Offal e Aqueronte. A casa abre às 18 horas e os ingressos custam R$ 50.

Apoio ao autor

O escritor de Joinville João Borges (foto) está em plena campanha para atender ao convite da Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, terceiro maior evento do gênero no País, marcado para 5 a 14 de outubro. Para efetivamente mostrar seu trabalho em Olinda, ele projeta vender cem exemplares do livro “Nove Meses e Quarenta Minutos”, lançado em março. Para os fins da empreitada de Borges no Nordeste, o drama (baseado numa história real) de uma jovem que precisa decidir entre abortar e levar adiante uma gestação de alto risco está à venda no site bibliotecaespacodigital.com.br.

Frase

“Acho que os filmes se tornarão ainda mais eventos, em grandes telas de Imax e tal. Com isso, o preço do ingresso vai subir. Filmes grandes se tornarão ainda maiores. E filmes pequenos, ainda menores. A Netflix pode ser uma plataforma para esses filmes que podem cair fora do jogo. E para filmes médios também.”Ted Sarandos, diretor da Netflix, analisa no Estadão onde a plataforma de streaming se encaixará no futuro. Cada vez mais voltada a produções próprias de longo alcance, ela lança em dezembro o filme de ação “Bright“, com Will Smith (foto).

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Em cartaz

Além de “It — a Coisa”, outros dois filmes chegam aos cinemas nesta quinta-feira. Pais e filhos têm a seu dispor a animação “Lino — uma Aventura de Sete Vidas”, sobre um animador de festas que usa uma fantasia de gato. Cansado do trabalho, ele contrata os serviços de um feiticeiro, mas, ao invés de mudar de vida, é transformado justamente em um felino enorme. A outra estreia é “Encontro Marcado”, suspense sobre um homem que se vê cercado por eventos que se repetem todos os dias no mesmo horário e ameaçam o amor de sua vida.