Filmes de no máximo 20 minutos de duração formam uma frente cinematográfica que exigirá atenção dos joinvilenses a partir desta terça-feira. Não que o dileto cidadão já não esteja habituado a ouvir falar dos curtas-metragens – a cidade é uma das que recebem a plataforma virtual ShortCutz e já produziu vários títulos neste formato –, mas o segmento ainda não é páreo para os blockbusters à disposição nas salas comerciais. Com a chegada do Joinville International Short Film Festival (Jisff), o abismo do desconhecimento poderá ser diminuído, até porque serão exibidos 80 títulos em seis espaços da cidade até sábado, sempre sem cobrança de ingresso. Vindos de 30 países, eles apresentam uma variedade enorme de técnicas, linguagens, temas e estilos de narrativa. Vide o quarteto que abre a programação nesta noite, na UniSociesc: a animação O Gigante, a representação histórica Novembrada – do diretor catarinense Eduardo Paredes, presença garantida na sessão –, o documentário Osu (premiado em Cannes) e a ficção Objeto/Sujeito, ambos originários da Holanda.
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Toda essa diversidade está dividida em quatro categorias, sendo que duas delas são dedicadas aos públicos infantil e infantojuvenil e levam o nome de Quixotinho, uma referência ao herói sonhador de Miguel de Cervantes e ao saudoso moinho da paisagem joinvilense que enfeita a logomarca do evento. Já a categoria internacional levará para espaços públicos filmes com censura livre, mas que concorrerão aos prêmios do festival tal qual as produções da sessão Arthouse, mas afeitas a experimentações e ousadias.
Amparado por recursos do Simdec e apoios privados, o Jisff ainda oferece duas oficinas que serão ministradas na Galeria 33 por Lula Araújo, operador de steadicam com 30 anos de experiência no ramo. Hoje e amanhã, ele dá o curso de operador de steadicam intensivo, e na quinta e na sexta, a oficina Workcine – direção de fotografia. Inscrições, via aprovação de currículo, pelo e-mail contato@galeria33.com.
Para falar sobre o festival e minúcias do formato de curta metragem, Orelhada conversou com o fotógrafo, cineasta e diretor-geral do Jisff Alceu Bett.
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Programação
Terça-feira, 19h – Abertura (auditório da Unisociesc)
Quarta-feira
19h – Internacional 1 (Estação da Memória)
20h – Internacional 2 (Estação da Memória)
21h – Arthouse 1 (Galeria 33)
22h10 – Arthouse 2 (Galeria 33)
Quinta, dia 21
8h às 17h – Quixotinho 1 e 2 (CEU Aventureiro e Escola Municipal Luiz Henrique da Silveira)
19h – Internacional 3 (Galeria 33)
20h – Internacional 4 (Galeria 33)
21h – Arthouse 3 (Galeria 33)
22h10 – Arthouse 4 (Galeria 33)
Sexta, dia 22
19h – Internacional 5 (praça do Mercado Público)
20h – Internacional 6 (praça do Mercado Público)
21h – Arthouse 5 (Galeria 3)
22h10 – Arthouse 6 (Galeria 33)
Sábado, dia 23
20h – Noite dos Campeões (Teatro Juarez Machado)
*Toda a programação é gratuita e está detalhada no site www.jisffestival.com.
“O curta tornou-se um formato de grande prestígio”, diz Alceu Bett, diretor-geral do festival de curtas
O curta tem vantagens sobre outros formatos cinematográficos?
Alceu Bett – O curta-metragem é democrático, pelo seu formato e custos de produção. Esta é sua diferenciação em relação aos projetos cinematográficos de longa metragem e tem um circuito independente de exibição no mundo. O curta-metragista trabalha em um formato de trabalho, as narrativas e roteiros são para esta linguagem e por vezes não tem a mínima ligação com o diretor de longa-metragem – seria um haikai do cinema. Muitos diretores usam o curta para alcançar dinâmicas de diretor de longa, mas isto não define ser cineasta ou não. Os dois formatos têm narrativas diferentes.
Você consegue mensurar o tamanho de produção de curtas no mundo atual?
Alceu – O curta-metragem tornou-se um formato de grande aceitação e prestígio nos últimos dez anos, ganhando festivais exclusivos para seu formato, incentivando diretores consagrados a retornar a este formato. Por ser um formato mais acessível, as produções podem ser variadas e distintas, com orçamentos variados e resultados surpreendentes. Estima-se que a produção de curtas seja de 40 mil filmes por ano no mundo.
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Você se considera um entusiasta do curta?
Alceu – Sou um grande entusiasta do formato. Trouxe em 2014 o Festival ShortCutz, uma plataforma internacional de compartilhamento de conteúdo independente de cinema para o Brasil e que ainda é exibido a cada 15 dias em Joinville, gratuitamente. No momento, minhas narrativas têm sido para curtas-metragens, em uma linguagem bastante transversal, que não tem muito espaço no longa.
Por que um festival de curtas?
Alceu – Com minha experiência no formato de curta metragem, tenho uma visão global da produção e isto ajuda a produzir um evento único e com grande qualidade na curadoria. Os filmes exibidos neste ano foram uma seleção minuciosa de um panorama mundial. Trabalhamos na busca de inscrições e recebemos produções de 65 países, quase quatro mil filmes. Selecionamos 80 filmes de 30 países.
Quais são os critérios para selecionar os filmes?
Alceu – Os critérios para avaliação foram definidos pela curadoria, realizada por mim e Barbara Sturm, diretora da ELO Distribuidora de Cinema (SP). Queremos um festival que traga uma mensagem de paz e esperança neste mundo novo que está por vir, um festival que instigue as pessoas a serem melhores e colaborativas, proativas em um mundo com mudanças drásticas todos os dias. A Mostra Arthouse é definida pelo experimentalismo, novas linguagens e temas transversais e contemporâneos.
Os festivais são um dos poucos meios de difundir os curtas, não?
Alceu – Os festivais de cinema são a principal janela para exibição e difusão da produção curta-metragista no mundo. Recebemos dezenas de e-mails de diretores de todo o mundo agradecendo pela seleção oficial e que estão loucos para conhecer o Brasil e Joinville na próxima edição. Também a preocupação em entrar no mercado internacional definiu o uso da marca Joinville International Short Film Festival (Jisff), padronizando o modelo internacional de festivais neste formato e assim tendo tantas inscrições nesta primeira edição.
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Joinville está virando um polo exibidor desse formato? Pode vir a ser também de produção?
Alceu – Nossa experiência com o ShortCutz difundiu o formato em todo o Estado. Até de Curitiba temos uma caravana que nos prestigia nas sessões quinzenais. Importante dizer que a produção joinvilense cresceu e se destacou pelo incentivo do Simdec, lei de incentivo à cultura sempre desvalorizada pelas gestões posteriores a sua criação. A região metropolitana de Joinville manifesta uma óbvia vocação para a cultura. Temos infraestrutura, recursos, facilidade logística, público, renda, grandes artistas e um território de culturas e etnias variadas. Poucas regiões no mundo apresentam um conjunto de expressões culturais e turísticas tão ampla, diversa e intensa quanto a nossa. As políticas públicas voltadas para a “economia da cultura” se constituem, na verdade, em políticas de desenvolvimento, e assim devem ser pensadas. Mais recursos para a cultura podem ser mais recursos para o desenvolvimento desta região. A cultura, portanto, deve ser uma prioridade não apenas por seu papel “cultural” na vida social da cidade, mas por seu papel econômico.