Menos quando seus conflitos interiores impediram, a Plebe Rude nunca fugiu à luta e só foi partidária do bom combate – aquele que se opõe à sordidez política, à falta de liberdade e à alienação. Uma banda punk na essência, criada num tempo (1981) em que as chagas de um País saindo da repressão foram matéria-prima para dois clássicos do rock nacional: O Concreto já Rachou (1986) e Nunca Fomos tão Brasileiros (1987).

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Uma voz crítica esparramada por vários e delicados temas que iam muito além do sucesso de Até Quando Esperar. Ainda assim, o hit obrigaria a banda a tocar no Ginásio Ivan Rodrigues, caso o show em Joinville fosse 30 anos atrás. Mas o auge passou, o mainstream descambou para um vazio inominável e a ¿primeira vez¿ da Plebe na cidade será no Porão da Liga, nesta sexta-feira. O que permanece imutável é a atitude combativa do grupo, reforçada por um segundo ícone punk: Clemente Nascimento, líder dos Inocentes, desde 2003 também entrincheirado na Plebe.

É assim, robusto e incorruptível, que a lenda brasiliense revisará sua obra por aqui, com atenção especial para o Nunca Fomos…, o disco Nação Daltônica (2014) e ¿algumas exóticas para os fãs ardorosos¿, segundo o vocalista e guitarrista Philippe Seabra, que desopilou o fígado nesta entrevista exclusiva para Orelhada.

– Sempre é o momento propício para o rock. Creio que muitos jovens não se contentam com o status quo e procuram algo mais sincero e diferente. Aí, a Plebe se encaixa como uma luva. Nesse tempo todo mantivemos a postura. O cenário muda, mas a Plebe continua a mesma – garante.

O show, às 22 horas, tem ingressos à venda no www.ticketcenter.com.br e na Loja Discolândia.

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Vocês estão dando uma atenção especial ao Nunca Fomos tão Brasileiros, que completa 30 anos, certo?

Philippe Seabra – Sim, um disco que foi censurado, inclusive. Realmente, os tempos mudaram, mas não tanto quanto queríamos, pois as letras continuam assustadoramente atuais.

Isso te entristece, de certa maneira?

Philippe – Como artista, fico feliz com a relevância da obra. Estava até tocando Plebe numa novela da Globo alguns dias atrás. Mas, como cidadão, fico aflito vendo que pouca coisa mudou no Brasil.

O Nunca Fomos… é, até mais do que o Concreto já Rachou, um disco sob medida para estes tempos da política e da sociedade brasileira, concorda?

Philippe – Sim, interessante essa colocação. Um representante e tanto da época e agora atemporal. Agora em retrospecto, sim, pode-se analisar o rock de Brasília como um movimento. O rock de Brasília veio dar lucidez ao rock nacional na época. Mas na verdade era um bando de moleques tentando compensar pela falta de expressão e espaço que os jovens tinham. Não tivemos escolha: ou nos conformávamos com essa realidade, ou fazíamos algo a respeito. Toda essa urgência, e talvez angústia ou frustração (e também uns hormônios de adolescente à flor da pele), esteja presente nas letras do Concreto já Rachou. Realmente, éramos preocupados com a má distribuição de renda no Brasil, com a repressão militar e a comercialização da cultura (e somos até hoje), mas não de uma maneira didática, ou até mesmo banal. Nunca fomos militantes. Prefiro a palavra ¿conscientes¿.

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Ter uma postura forte, não fazer concessões, já custou caro à Plebe?

Philippe – Sim, mas se pudesse, faria tudo igual novamente. Nós somos desse jeito e alguém nessa indústria tem que mostrar que vale a pena ter princípios neste País. Para mim, é postura que importa. A Plebe foi formada para preencher o que achávamos ser uma lacuna em Brasília. Formamos nossa própria cultura, forjamos nosso próprio caminho. Mas tem muita gente que ainda acredita no bem que pode ser feito honrando suas escolhas de vida. Professores que se recusam a se entregar ao sistema falido, médicos que tentam salvar vidas apesar da falta de recursos, funcionários públicos que honram a profissão… Essas pessoas não são movidas pela glória ou fama. Fazem o que acham que é certo. Na música, gosto de pensar que fazemos a mesma coisa. Isso é rock para mim.

Qual é o público predominante nos shows: o pessoal da geração oitentista ou molecada?

Philippe – Uma mistura dos dois. Claro que pessoas da época vão nos shows, mas cada vez mais estamos vendo gente jovem, e não filhos dos fãs antigos. São pessoas com sede de postura e coerência.

Tem gente que ainda se surpreende ao saber que o Clemente está na banda. Diga para essas pessoas o que ele acrescentou à Plebe.

Philippe – Clemente é umas das figuras mais importantes do rock brasileiro e ele acrescentou toda fúria e discernimento do punk paulista a nossa já famosa postura brasiliense.

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Curiosidade pessoal: vocês já tocaram alguma música dos Inocentes num show da Plebe? Chegaram a pensar nisso?

Philippe – Sim, tocamos Pátria Amada, e se o Clemente aceitar a nossa pegada diferente, tocamos Pânico em SP.

Tirando o lado financeiro, foi bom para Plebe abrir para o Guns n¿Roses?Philippe – Foi ótimo. Ao todo, sete shows. Tocamos para 200 mil pessoas. Sempre é bacana tocar numa estrutura daquele tamanho.

Você gostou do documentário A Plebe é Rude?

Philippe – Ficou bom, mas faltou muito clipe e a história recente da banda. Estamos juntando o acervo de vídeo da banda para um próximo documentário, bem mais focado no repertório e legado da banda.

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Como estão os planos do DVD acústico? Você acha que se a Plebe tivesse lançado um ¿unplugged¿ pela MTV teria feito o mesmo sucesso do Capital ou Titãs, por exemplo?

Philippe – Estamos preparando material novo, e como fiz um megaupgrade no meu estúdio, provavelmente será um disco de inéditas, então um acústico está temporariamente ¿on hold¿. Mas quem sabe? As construções das canções sempre vêm do violão, que sempre considerei meu melhor instrumento. Plebe é uma banda diferente, e se descêssemos o caminho de alguns dos nossos contemporâneos, e até alguns conterrâneos, creio que não seria uma coisa boa para a banda. Não somos banda de baile e nem queremos apelar para um público crossover pop. Temos a nossa postura e sabemos compor as próprias canções. Mesmo se rolasse um DVD acústico, ele viria com o peso, a lucidez e a pancada habituais da Plebe.