Sair de casa sem trancar a porta, visitar um amigo e poder deixar o carro aberto na rua e não ter como preocupação diária a violência. Essa era a rotina com que os moradores de Saudades estavam acostumados. Tudo mudou desde a manhã dessa terça-feira (4) após o ataque de um jovem que tirou a vida de cinco pessoas na Escola Pró-Infância Aquarela, na Região Central. 

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Depois das primeiras horas de tensão e medo nas ruas, o ambiente passou a ser de luto total. As lojas foram fechadas, as bandeiras foram posicionadas à meia-haste, as ruas ficaram praticamente vazias e os habitantes continuaram buscando as respostas para a crueldade feita com as professoras e crianças. 

Quem decidiu andar pelas ruas, não deixou de passar em frente à escola, olhando para os portões fechados com esperança de que aquilo tudo, na verdade, tivesse sido apenas um pesadelo. 

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Mas não foi.

Passaram-se algumas horas até que familiares criassem coragem para visitar o local e prestar as suas primeiras homenagens. Antes disso, quem esteve o tempo todo perto da escola foi a agente educacional Aline Biazebetti. 

Com ruas vazias e comércios fechados, Saudades vive luto
Com ruas vazias e comércios fechados, Saudades vive luto (Foto: Sirli Freitas, Especial )

Ela, que trabalha apenas no turno vespertino, ouviu os gritos de socorro e, junto do pai, ajudou a socorrer uma das crianças que segue internada em estado gravíssimo no Hospital Regional do Oeste (HRO), em Chapecó:

— Ter a chance de tentar salvar uma criança acalenta um pouco o nosso coração. Mesmo assim a tristeza é enorme.

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A criança levada inicialmente ao Hospital de Saudades por Aline e pelo pai apresentava dois cortes aparentes. Um deles próximo à boca e o outro na região do pescoço. 

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— A criança nem chorou de tão assustada que estava — completa. 

A escola, fundada em 2013, atende 80 crianças de até dois anos de idade. No momento do ataque, apenas vinte crianças estavam em aula. Entre os moradores, há um único consenso até agora: ninguém sabe explicar o acontecido. 

— É difícil de entender. Mais difícil ainda é a dor que as famílias estão sentindo. Perder as crianças tão novas, as funcionárias ainda cheias de vida. Mulheres que amavam o que faziam e tentaram, até os últimos instantes, salvar a vida dos alunos. Elas precisam ser consideradas heroínas. Infelizmente, não precisava ser desta forma — desabafa João Rafael Henzen, morador de Saudades desde que nasceu e familiar da professora Keli Anieceviski, de 30 anos, que morreu enquanto tentava defender as crianças.

“Coisas de cidade grande, não de Saudades”

Enquanto todos ainda tentam entender possíveis motivos para a ação do jovem de 18 anos, pais e avós que têm os seus filhos na escola também debatem o que aconteceria se tivesse acontecido com as suas crianças. 

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— Tenho uma neta de quatro anos que estuda no pré-escolar. Me coloco no lugar dos pais destas vítimas, poderia ter acontecido com qualquer um de nós. E no fundo, eu ainda não quero acreditar que tudo isso seja verdade. Para mim, é ‘coisa de cidade grande’, de outros países, não de Saudades. Não da nossa cidade. Mas infelizmente aconteceu”, relatou, emocionado, Jair Hubner, que assim como muitos, reside em Saudades desde que nasceu.

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Os moradores estão incrédulos com o que aconteceu em Saudades
Os moradores estão incrédulos com o que aconteceu em Saudades (Foto: Sirli Freitas, Especial )

Toda a rede de ensino do município, que comporta mais de 500 alunos com até seis anos, segue com as aulas suspensas até a próxima segunda-feira (10). Antes disso, o Poder Executivo deverá planejar como acontecerá este retorno. 

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— Os próximos passos serão difíceis. Estão nos oferecendo psicólogos, e precisaremos deles. Ainda estamos em choque, mas temos que começar a trabalhar o estado emocional dos funcionários, mesmo que ainda sem saber como faremos para voltar a trabalhar — admite a diretora de Educação Infantil do município, Nelci Gerhardt Bamberg.

*Vinicius Rigo, Especial

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