O roubo com restrição de liberdade de duas gerentes de banco de Blumenau em 2022 teve como pano de fundo o plano de uma organização criminosa nacional, revelou a polícia. Nesta quarta-feira (7), equipes estiveram nas ruas para prender 12 pessoas em sete Estados diferentes e desarticular o grupo, que é especializado em invasões de sistemas bancários através de um ataque cibernético e faturou quase R$ 2,6 milhões com o episódio de Blumenau, através de “laranjas”.

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Batizada de Takedown, a operação foi deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e a Polícia Civil. A investigação começou em 2022, depois que as duas mulheres foram surpreendidas pelos criminosos no estacionamento da Havan de Indaial, cidade onde uma delas morava. A outra residia em Timbó. Um dos homens teria mandado elas entrarem no carro, que era de uma das mulheres, e começou a fuga.

Houve um confronto com a PM, um dos bandidos morreu, outro conseguiu escapar. O que estava no carro de apoio, um adolescente, acabou apreendido durante a investigação. Os celulares e notebooks das funcionárias foram levados, mas elas escaparam ilesas. A partir de então, a Polícia Civil descobriu que o objetivo dos criminosos era levar os computadores das vítimas. A “encomenda” foi feita pela organização criminosa, que usou os dispositivos para invadir o sistema do banco e subtrair R$ 2,5 milhões.

Chamado de “ataque lógico”, a ação cibernética criminosa era a especialidade dessa organização. Alguns deles já teriam, inclusive, cometido fraudes contra a Previdência Social. O Gaeco e a Civil apuraram também que entre os integrantes havia três ex-colaboradores do banco que auxiliaram no crime. Eles estão entre os que tiveram a prisão preventiva decretada.

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Veja fotos da operação

Os 12 mandados de prisão e 13 de busca e apreensão foram cumpridos em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Paraíba e Rondônia. Até a publicação deste texto as equipes não haviam confirmado se todas as detenções já tinham ocorrido. Nenhuma delas foi em solos catarinenses.

Como o grupo agia

A polícia detalhou como a organização atuava. Primeiro, eles roubavam ou furtavam notebooks corporativos dos funcionários do banco. Normalmente, algum colaborador era aliciado para facilitar ou repassar informações que permitam a subtração do dispositivo eletrônico.

Os bastidores do crime Blumenau

Para o delegado Rodrigo Raitez, o planejamento do roubo a duas funcionárias de uma agência no Centro de Blumenau começou cerca de três meses antes do crime ocorrido em setembro. Um trio monitorava as gerentes, sabia os horários de chegada e saída na empresa delas e também sobre a troca de veículos que faziam na loja da Havan de Indaial sempre na ida e volta do serviço.

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Imagens de câmeras de segurança mostram os dois homens e um adolescente na Avenida Beira-Rio, esperando as mulheres deixarem o trabalho. Quando elas embarcam no carro, eles atravessam a rua e entram em um carro que estava bem perto do das mulheres. Elas são seguidas até o estacionamento da loja às margens da BR-470 e os ladrões chegam logo na sequência.

Para a Polícia Civil, tudo indicava que fosse para um roubo “comum”, onde os criminosos poderiam apenas ter interesse no carro e nos computadores das gerentes para revender. Foi quando o Banco Itaú trouxe o chamado “fato novo” à história: cerca de R$ 2,6 milhões foram tirados das contas de mais de 20 clientes por pessoas usando as senhas das gerentes alvos do roubo. A investigação mudou de rumo e a polícia descobriu que o colega de trabalho das duas estava por trás do crime.

De acordo com Raitez, as mulheres vítimas do assalto eram a gerente-geral e a gerente de contas da agência. A gerente-geral inclusive tinha sido a responsável por promover o gerente que ajudou no crime.

A polícia sustenta que esse funcionário foi contatado por um criminoso do Rio Grande do Sul, cabeça da ação e responsável por todo o planejamento do roubo, e concordou em passar as senhas da chefe e da colega de trabalho para que os bandidos conseguissem acessar as contas dos clientes com os notebooks que pegaram delas durante o roubo. O gaúcho é integrante de uma facção criminosa e já cumpriu mais de 20 anos de prisão. Ele voltou à cadeia.

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As investigações apontam que os computadores roubados das gerentes foram enviados ao Rio de Janeiro, onde foram hackeados para as transações financeiras serem feitas. O gerente foi preso em Porto Belo e teria admitido o repasse de informações ao grupo. Em troca, receberia meio milhão de reais, o que segundo ele não aconteceu.

A Polícia Civil diz que nunca ter ouvido falar desse tipo de crime em Santa Catarina, mas que tem ocorrido no estado fluminense.

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