Num dia, ele estava em Jaraguá do Sul; no amanhecer seguinte, numa cafeteria nova-iorquina com um russo e um afegão. Assim começou a experiência de Carlos Daniel Reichel, 31 anos, que partiu em 2013 para estudar cinema numa das melhores instituições do mundo, a New York University (NYU). Há dois meses, ele voltou ao Brasil com planos para curtas e longas-metragens, além de trabalhar como freelancer.

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Reichel graduou-se em Master os Fine Arts (MFA), na New York University Tisch School of the Arts, com especialização em escrita dramática. Entre as disciplinas de escrita, adaptação, direção e master classes, ele dedicou um ano ao roteiro do seu longa-metragem, o trabalho de conclusão do curso orientado pelo lendário Walter Bernstein – roteirista de Sete Homens e um Destino e que trabalhou com figuras como Marilyn Monroe, Woody Allen e Sophia Loren.

Na universidade, o escritor pôde assistir a aulas de ganhadores do Pulitzer e do Oscar, além de trocar experiências com colegas de classe de alto nível. Toda semana, Reichel escrevia dez ou 15 páginas de roteiro para compartilhar com a turma.

No seu longa-metragem, Reichel falou sobre o Brasil. O roteiro conta a história de uma família rica, famosa e influente no mundo da política e dos negócios. Apesar de não ter uma empresa, o protagonista é um patriarca líder de uma igreja evangélica. O foco da trama não está exatamente no pastor corrupto, mas nos bastidores dessa vida, que envolve a família. Após desenvolver o roteiro tendo Bernstein como mentor, Reichel pretende inscrevê-lo numa residência no Festival de Cannes, na França.

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– O interessante do cinema é que se você tem um iraniano, um japonês, um europeu e um jaraguaense, eles vão se expressar de formas diferentes – um vai gritar mais, outro menos; um chora, o outro esconde -, mas as emoções são as mesmas. Uma história pode se passar num país que você nunca ouviu falar, mas aquilo vai te tocar. Essa universalidade da arte é que me interessa. Nós, roteiristas, queremos acertar nesse ponto. E, se acerta, é lindo – afirma.

Experiência multicultural

Além da imersão no mundo do cinema, o catarinense pôde viver, pela primeira vez, uma experiência multicultural fora do País. Cinéfilo e morador do bairro do Brooklyn por dois anos, ele passou por lugares imortalizados em cenas de filmes.

– O Brooklyn tem uma vida cultural muito forte, a música, os parques, os grafites. Esbarrei em muitos filmes que se passaram em Nova York, todas as minhas referências são de lá. A ponte de Manhattan está numa cena clássica do Era uma Vez na América, que é o filme do Sérgio Leone, de 84, com o Robert De Niro. Fui lá e tirei uma foto no mesmo ângulo.

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Reichel ganhou a bolsa de estudos do governo brasileiro, cedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), para concluir o curso. Ele foi selecionado pela comissão Fullbright, parceira da Capes, que garimpa pessoas de diversos países para estudar nos Estados Unidos. Como contrapartida, ele representou o País em reuniões de networking.

De volta a Jaraguá do Sul, Reichel está atuando como freelancer, enquanto finaliza o curta Garoto VHS e em breve lançará Quinta Coluna em festival. Com a NYU no currículo, ele pretende seguir a carreira de cineasta, como roteirista e diretor.

Para recomeçar a carreira no Brasil, o escritor planeja trabalhar em São Paulo, onde estão as grandes produtoras, além de inscrever trabalhos em festivais como o de Cannes, em Paris, e o Berlinale, em Berlim.

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