Pressionado para reduzir custos e melhorar sua competitividade, o Brasil apostou na rota bioceânica para conquistar o mercado chinês, e embora a obra empolgue as autoridades, deixa insatisfeito um de seus supostos beneficiários: os exportadores de grãos. A rota que une o Pacífico ao Atlântico, do porto brasileiro de Santos aos portos de Arica e Iquique (no Chile) e de Matarani e Ilo (no Peru), já está em funcionamento, embora longe de ser unanimidade sobre seus benefícios.

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O corredor viário principal de 3.450 km “é interessante para a integração regional, mas para a exportação de grãos não tem impacto algum”, disse à AFP Edeon Vaz Ferreira, diretor do Movimento Pró-Logística, que reúne o setor produtivo do Mato Grosso, principal estado produtor de soja e milho do Brasil.

Em um dos poucos estudos sobre o impacto logístico da obra, que teve sua última etapa concluída no fim de 2012 em território boliviano, a Pró-Logística estabeleceu que a via interoceânica ainda é muito cara para os exportadores.

– É extremamente onerosa, o frete é muito caro, a passagem viária pela Bolívia tira a sua competitividade – afirmou Vaz Ferreira.

Até agora, a maior parte da carga que sai do Mato Grosso chega ao porto de Santos depois de percorrer 1.950 km por estrada e trem, e dali parte em direção ao Pacífico.

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Ao chegar ao porto chinês de Xangai, o exportador brasileiro paga em transporte US$ 190 por tonelada – US$ 145 em fretes dentro do Brasil -, enquanto o custo para o exportador argentino e para o americano – seus principais competidores – é de US$ 102 e US$ 72, respectivamente.

O Brasil pode superar nos próximos meses os Estados Unidos como o principal produtor de soja no mundo, com uma colheita estimada em 82,1 milhões de toneladas para a colheita 2012/2013. A China é seu principal mercado e, por sua vez, seu maior sócio comercial.

– E ainda não foi comprovado que a passagem pela Bolívia, através da bioceânica, reduza o custo – afirmou Vaz Ferreira.

No entanto, a Associação Brasileira de Transportes Internacionais (ABTI) tem uma avaliação muito diferente.

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– O acesso entre os portos do Brasil com os do Chile deve ser benéfico para todos os operadores de comércio exterior, exportadores, importadores, despachantes aduaneiros e transportadores – afirmou Gladys Vinci, coordenadora de questões internacionais da ABTI.

O Mato Grosso do Sul, um dos estados agrícolas pelos quais esta rota também passa, tem como única alternativa Santos, e com a utilização do corredor entre Brasil e Chile, passando pela Bolívia, “a redução (da viagem) é de até 12 dias”, afirmou Vinci.

Com um custo aproximado de 3,7 bilhões de dólares, o corredor bioceânico tomou forma após uma reunião presidencial entre Brasil, Bolívia e Chile em 2007.