Quando fui acordada com o telefonema da colega Rosane Tremea, informando do incêndio na boate de Santa Maria, achei que estava tendo um pesadelo. O sinal ruim do celular me impedia de entender direito o que ela dizia. Entendi que eram 35 mortos e fiquei catatônica.
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Quando refiz a ligação, e finalmente entendi a extensão da tragédia (no momento eram 135) e soube das circunstâncias, perdi as pernas e fiquei alguns segundos sem ação, repetindo, “meu Deus, meu Deus, que horror”. E lembrei do incêndio naquela boate de Buenos Aires em que morreram mais de uma centena de jovens.
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Minha filha de 17 anos me deu abraço longo e confortador. Faltava o abraço de Eduardo, 21 anos, um baladeiro da idade das vitimas. Ele não quis vir para o sítio porque tinha uma festa. Precisava ouvir a voz dele antes de poder escrever qualquer coisa. Liguei para meu filho, ouvi que estava em casa dormindo, e fiquei a pensar em todos os pais e mães de jovens de Santa Maria e região.
Quem tem filhos adolescentes não dorme um sono tranquilo enquanto seus filhos não chegam das festas. E sofre com o drama de pais que perdem um da mesma idade, com os mesmos sonhos e projetos de vida semelhantes. Como era uma festa de universitários, sinto-me ainda mais próxima deste drama. Quando são 180, como em Santa Maria, faltam palavras. Não há o que dizer a título de consolo.
Meu marido, que é de Julio de Castilhos e estudou na UFSM, passou a monitorar as redes sociais em busca de informações sobre os filhos dos amigos e parentes. O silêncio de uma estudante jornalismo sempre presente no Twitter o deixou preocupado. E passou a repassar mentalmente a lista de amigos que têm filhos da idade dos nossos.
Ouvi a entrevista da diretora do Hospital Universitário, que está com o filho na CTI, e admirei seu profissionalismo. É preciso muita força para continuar ajudando os feridos.
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Enquanto escrevo, são 180 corpos já recolhidos, e um número desconhecido de pessoas mortas nos hospitais. A contabilidade macabra passará de 200.
Nunca houve, em meus 30 anos de jornalismo, uma tragédia assim no Rio Grande do Sul. Que eu lembre, nem no Brasil. O mais parecido foram acidentes aéreos. O mais próximo, o da TAM, porque o avião saíra do Rio Grande do Sul.
A tragédia
O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.
Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.
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A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.
Veja onde aconteceu

A boate
Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.
Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio
A festa
Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

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