A avalanche de más notícias que desabou sobre o Palácio do Planalto desde que foi reeleita com uma vantagem mínima sobre o tucano Aécio Neves isolou a presidente Dilma Rousseff em um labirinto que paralisou o governo, impôs derrotas políticas e abriu uma crise mais grave do que a da época do mensalão. Da posse até aqui são quase 40 dias de inferno e solidão, silêncio e fogo amigo.

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Aos ataques dos adversários, somam-se as críticas dos companheiros. Falar mal de Dilma virou o esporte preferido dos petistas ligados ao ex-presidente Lula, em conversas reservadas ou em público, como fez a senadora Marta Suplicy.

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Ex-assessor de imprensa de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho escreveu em seu blog um texto revelador do espírito dos petistas nos últimos dias. Título: “Dilma-2 caminha para a autodestruição”. Primeira frase: “O que já está ruim sempre pode piorar. A Petrobras e o país amanheceram de pernas para o ar nesta quinta-feira”.

“Pelo ranger da carruagem desgovernada, a oposição nem precisa perder muito tempo com CPIs e pareceres para detonar o impeachment da presidente da República, que continua recolhida e calada em seus palácios, sem mostrar qualquer reação. O governo Dilma-2 está se acabando sozinho num inimaginável processo de autodestruição”, escreveu o ex-assessor de Lula, assinando o que outros petistas dizem pelas costas.

O que para a oposição é um raro acerto de Dilma – a entrega do comando da economia ao ministro Joaquim Levy e sua política de contenção de gastos – os companheiros do PT tratam como heresia. Alegam que ela está renegando o discurso de campanha e traindo a base social que garantiu a reeleição. Criticam os escolhidos para a articulação política e atribuem à falta de habilidade de Dilma a derrota sofrida na eleição para a presidência da Câmara, hoje comandada pelo desafeto Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

O PT não assimilou o ministério montado por Dilma, que afastou os auxiliares fiéis a Lula. Nos bastidores, já se fala abertamente na possibilidade de a presidente enfrentar um processo de impeachment e do risco de ser traída por aliados que aderiram ao governo na base do troca-troca, sem qualquer convicção ideológica.

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Resolvida a sucessão na Petrobras, com críticas de todos os lados à escolha de Aldemir Bendine, Dilma tem de lidar com os desdobramentos da Lava-Jato e com a CPI criada na Câmara. Nos últimos anos, os aliados conseguiram esvaziar todas as CPIs. O clima agora é outro, e o volume de informações negativas supera, em tudo, o que Lula enfrentou no mensalão.

A Lava-Jato é um festival de delações premiadas, com empreiteiros, ex-diretores e um doleiro tentando obter redução de pena pela colaboração com a investigação. Nesse processo, surgem contas na Suíça, empresas de fachada, propina com nota fiscal, depoimentos e agendas recheadas de informações comprometedoras. Mesmo que a roubalheira tenha começado no governo Fernando Henrique Cardoso e florescido no governo Lula, quem responde hoje pela Petrobras é Dilma e é o governo dela que está sob ataque.

Se fosse possível escolher uma imagem para ilustrar o cenário previsto para os próximos meses, seria uma nuvem escura se formando sobre o Lago Paranoá. Na sexta-feira, às voltas com a Petrobras, Dilma recebeu uma das notícias mais preocupantes desse reinício de governo: a inflação de janeiro, medida pelo

IPCA, foi a mais alta desde fevereiro de 2003 e ultrapassou o teto da meta.

Nas redes sociais, começa a ser preparada a reedição dos protestos de 2013, com uma diferença: antes, as causas eram difusas; agora, o alvo é o governo, a corrupção, o aumento de impostos e os reajustes de preços administrados, que provocarão outras altas. Haverá protestos pelos 20, 30 ou 50 centavos da passagem de ônibus, mas o que deve preocupar o Planalto são as manifestações contra os milhões desviados pela quadrilha instalada na Petrobras, em conluio com políticos e empreiteiros.

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Os desafios de Dilma

1 – Descolar-se dos diretores da Petrobras acusados de corrupção e convencer o país de que sua campanha não foi financiada com o dinheiro da propina.

2 – Sobreviver à CPI da Petrobras na Câmara, criada com a assinatura de deputados aliados e que deverá ser a trombeta de opositores dispostos a fazer o governo sangrar até criar o ambiente propício à abertura de processo de impeachment.

3 – Melhorar a articulação política, centrada no trio Aloizio Mercadante, Pepe Vargas e Miguel Rossetto, para enfrentar as tempestades que se armam para o lado do Congresso, especialmente na Câmara, que passou a ser comandada por Eduardo Cunha.

4 – Controlar a inflação, que ultrapassou o teto da meta em janeiro, para não colocar em risco a estabilidade econômica, reconquistar a confiança do mercado e manter os empregos e as conquistas sociais obtidas nos últimos anos.

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5 – Administrar a insatisfação crescente das ruas com a corrupção, o aumento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica e a ameaça de racionamento. Já há protestos marcados para o início de março.