No Facebook de Ronaldo Fraga uma frase salta aos olhos: Se eu fosse um pássaro, eu queria sesse um urubu, porque ninguém nunca fa me prender numa gaiola. Representante da cultura brasileira através de suas criações, o estilista palestra no segundo dia do Donna Fashion Iguatemi, 9 de abril, para falar sobre criatividade. E, sim, o designer mineiro não é um pássaro qualquer nessa revoada de criadores tupiniquins.

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Para os críticos, suas roupas carregam a alma do criador. Na passarela, há sempre uma busca inédita e emocionante dos ícones brasileiros sem apelar para os clichês estampados em verde e amarelo. Neste inverno, ele batizou a coleção inspirada no semiárido brasileiro de Carne Seca ou um Turista Aprendiz em Terra Áspera. Enquanto desenvolvia, visitou curtumes Brasil afora e, em cada um deles, estudou uma nova maneira de trabalhar a matéria-prima.

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Como reconhecimento internacional, foi escolhido recentemente pelo Design Museum, de Londres, como um dos 100 designers mais influentes do mundo. É a segunda vez que expõe uma peça de sua autoria no renomado espaço.

Simpático como sempre, com a bateria do celular nos últimos risquinhos, ele respondeu à entrevista a seguir.

De quem é a frase “Se eu fosse um pássaro eu queria sesse um urubu, porque ninguém nunca fa me prender numa gaiola”? E você se sente um urubu em seu trabalho?

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Essa frase é do Graciliano, meu filho mais novo quando ele tinha uns cinco anos. Mas amo a ave, que tem o voo mais lindo. E por mais que já tenham tentado me prender em alguma gaiola acho que não conseguiram.

Suas criações estão entre as mais brasileiras do país, sem os eternos clichês. O Brasil é uma fonte inesgotável?

Ninguém nasce num pais mestiçamente rico como o Brasil impunemente. Até o último dos meus dias farei por merecer ter nascido aqui. A inspiração para tudo está em todas as esquinas, sotaques, ritmos e gostos.

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Drummond e Guimarães Rosa, que você costuma chamar de estilistas, já desfilaram em sua passarela. Existe outro nome das artes que paira em sua imaginação para uma coleção?

Muuuuuuuuuuitos (risos)!! Para citar alguns: Manoel de Barros, Paulo Leminski, Mario Quintana…. Enfim, muitos!

Você é um estilista que vem fazendo um trabalho com curtumes pelo Brasil e, ao mesmo tempo, segue preocupado com a sustentabilidade. Esse equilíbrio – em toda a cadeia industrial – ainda é um dos nossos maiores desafios?

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Sem dúvida buscar práticas sustentáveis é o único caminho para sobrevivência da raça humana. Trabalhei com curtumes que têm investido brilhantemente nestas práticas, mas ações como essas ainda não agregam valor no consumo interno no Brasil. Sustentabilidade demanda educação e prática. Ser sustentável é muito mais do que usar acessórios ou malhas de garrafas pet.

Assim como o Alexandre Herchcovitch, sua marca também está estampada em produtos como os da Tok Stok, por exemplo. Qual a importância dessa democratização de suas criações?

A difusão de marca, além de mostrar a potencialidade da diversidade da assinatura do designer, liberta um pouco a moda dos limites da roupa.

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Como você observa as manifestações políticas que o Brasil vive? De que maneira isso “reage” em você?

O Brasil está em plena ebulição e por mais que não saibamos onde isto vai dar meu lema é “otimista só de raiva”.

Já nos encontramos na Texfair, em Blumenau, e no Orbitato, em Pomerode. Como está sua relação com Santa Catarina?

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Tenho parceiros em Santa Catarina como a Renauxview, de Brusque, e estou sempre por aí. Amo a força de trabalho e a afetuosidade do catarinense. Hoje é um dos lugares no Brasil onde me sinto em casa.