São 13h30min, e falta meia hora para o horário marcado para o início do comício de Mitt Romney na Universidade de Miami, na Flórida.
Continua depois da publicidade
Não é um evento comum, é o segundo comício da campanha desde a passagem da tempestade Sandy, que atropelou a corrida presidencial.
A presença de Romney é um recado: em cinco dias, o republicano esteve duas vezes no Estado, um dos que irão decidir a eleição. Estou dentro do BankUnited Center, um ginário da universidade parcialmente lotado. Ao meu lado, Carmen Rosa Barroso, uma senhora de 71 anos, que veio de Cuba aos 14 anos, está curiosa com o fato de um brasileiro se interessar pela eleição. Sem a credencial de jornalista, decidi acompanhar o comício como faria um americano comum. Há riscos: um voluntário tenta colar um adesivo de Romney no meu peito. Agradeço a “gentileza”. E puxo assunto com Carmen:
– Por que a senhora gosta de Romney?
– Queira Deus que Romney ganhe – diz ela. – A situação está terrível, cada vez que se vai ao supermercado ou ao posto de gasolina, os preços estão mais altos.
Continua depois da publicidade
De fato, o galão de 3,7 litros custa em média US$ 4 na Flórida, bem mais do que há quatro anos, quando estava na faixa de US$ 1,70. Já ouvi essa reclamação até de eleitores de Barack Obama. Da arquibancada, Carmen, entusiasmada com a possibilidade de ver seu candidato de perto, conversa com amigos que estão na quadra de basquete do ginásio, ainda mais próximos do palco. Todos cubanos.
– Nunca mais voltei a Cuba – orgulha-se ela. – E não voltarei enquanto houver comunismo.
Agora, Carmen cochicha:
– Este homem, Obama, abriu as portas para o comunismo – fala, como se temesse, neste ambiente republicano, o fato de alguém escutar ela pronunciar o nome do presidente democrata.
No púlpito, o candidato repete história contada no sábado
Carmen e eu estamos distantes 30 metros do local onde Romney irá discursar. Ela lamenta: queria estar mais perto. Só não está por culpa da hipertensão pulmonar, que a impede de fazer esforços físicos. Como se fôssemos velhos conhecidos, a mulher expõe sua doença. Aproveito para perguntar sobre um dos temas mais controversos da campanha: a reforma do sistema de saúde, chamada pelos republicanos, com ironia, de Obamacare.
Continua depois da publicidade
– Obama quer obrigar todos os americanos a pagar por seguro. Ora, estamos num país livre – diz.
Posiciono-me a cinco metros do púpito. Na arquibancada, um homem aparece com um cartaz: “Fire Obama” (Demita Obama). Aplausos que, agora, abafam a música. Há uma novidade: além do senador Marco Rubio, o queridinho dos republicanos latinos, e de Connie Mack, acompanha o grupo Jeb Bush, ex-governador e irmão do ex-presidente George W. Bush. Cabe a Rubio, o principal anfitrião de Romney na Flórida, anunciar o convidado. Com 30 minutos de atraso, ele anuncia: “O próximo presidente dos EUA”.
Então, Romney conta uma história: alguns anos atrás, ele estava com um grupo de escoteiros e, numa mesa, havia uma bandeira dos EUA. O símbolo americano havia embarcado na Challenger a pedido de um dos meninos. Após a tragédia, o garoto havia ligado várias vezes para a Nasa para perguntar se haviam encontrado, nos destroços do ônibus espacial, algum resquício da bandeira. Não.
– Oh? – lamenta a plateia.
Após várias negativas, a agência, certo dia, deu retorno. Entregaram ao menino uma bandeira intacta, que havia “sobrevivido” ao desastre.
Continua depois da publicidade
A multidão vai à loucura. Aplausos. Carmen, vejo de longe, se emociona. É a mesma história que Romney havia contado em Kissimme, no sábado.
– Tenho orgulho dos nossos heróis, do nosso programa espacial – diz.
Os eleitores querem fotos, um toque na mão do candidato. É um dos momentos mais esperados. Carmen estava orgulhosa, como depois me contou: sua filha, voluntária republicana, havia conseguido uma imagem bem perto do candidato.